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Cotações do açúcar sem suporte


Nem mesmo a quebra de quase 1,5 milhão de toneladas de açúcar na União Européia trará sustentação aos preços internacionais do açúcar. A tendência é de que o início da próxima safra brasileira de cana, a 2004/05, seja de preços mais baixos que os praticados na safra 2003/04.

Levantamento da Études et Recherches Sucrières (Ersuc), consultoria francesa de açúcar, mostra que a safra européia de açúcar deverá ficar em 15,7 milhões de toneladas, 1,5 milhão de toneladas abaixo do ano anterior, de 17,2 milhões de toneladas. "A expectativa inicial era de que a oferta de açúcar da Europa ficasse em 16,3 milhões de toneladas, mas o rendimento da beterraba foi prejudicado pela seca", diz Patrick du Genestoux, diretor da Ersuc.

A quebra da safra da Europa poderia dar maior sustentação aos preços internacionais do açúcar, mas, segundo Genestoux, a menor oferta do bloco será compensada pela maior produção de açúcar da Tailândia e pelos grandes estoques da Índia. "As exportações européias deverão ficar em 4,8 milhões de toneladas, 500 mil toneladas abaixo do embarcado no ciclo passado", afirma o analista francês.

"O cenário de excesso de oferta não muda com a quebra da Europa", diz Júlio Maria Martins Borges, diretor da Job Economia e Planejamento. Martins Borges lembra que o Brasil inicia a próxima safra, a partir de maio, durante a entressafra européia. Mas as expectativas de mercado são de que os estoques mundiais de açúcar continuem carregados no primeiro semestre de 2004, o que esvazia o sustentação aos preços.

Sem o suporte da Europa, os empresários brasileiros apostam na maior produção de álcool para o mercado externo em 2004. Mas as atuais projeções também derrubam as boas expectativas do setor. "Sem dúvida, o Brasil está ganhando espaço no mercado internacional de álcool, mas os volumes embarcados ainda não serão tão expressivos a partir do próximo ano, a ponto de conter a produção de açúcar", observa Manoel Garcia, presidente da trading brasileira S/A Fluxo.

Sem a maior oferta do álcool, os volumes de açúcar vão continuar a pressionar os preços. Somente o Japão poderá efetivamente comprar o álcool combustível brasileiro no próximo ano. Os países interessados em produzir o combustível ainda não fecharam nenhum acordo concreto com as empresas brasileiras. Para Garcia, a tendência é de que os preços do açúcar na bolsa de Nova York oscilem entre 5,5 centavos e 6,5 centavos de dólar por libra-peso no próximo ano. Se confirmadas as estimativas, as cotações estarão em média 15% desvalorizadas na comparação com o início da safra 2003/04.

Mesmo com o cenário baixista para os preços, a situação do setor não é semelhante à grande crise observada na safra 1998/99, quando as cotações eram inferiores a 5 centavos de dólar e o câmbio no Brasil não estava atraente.

A produção brasileira de cana-de-açúcar poderá ser até 5% maior em 2004, como reflexo dos investimentos em novos canaviais e resultado de bons tratos culturais, segundo analistas desse mercado. As estratégias do Brasil para administrar a próxima safra devem ser definidas até o final do ano. Muitos empresários trabalham com a possibilidade de atrasar a colheita em pelo menos 30 dias e até deixar parte da produção nos canaviais.

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