Crise atinge produtor de arroz do Paraná
A exemplo de outros produtores, quem cultiva arroz também reclama dos custos e dos baixos preços de mercado
O preço da saca de arroz, a exemplo de outros grãos, como a soja e o milho, está em queda. Há dois anos, a cultura era bastante promissora, mas hoje quem planta não cobre os custos de produção com a remuneração obtida no mercado. Muitos produtores já desistiram da atividade na região de Querência do Norte (PR), enquanto quem ainda insiste na lavoura de arroz busca alternativa para aumentar a produtividade sem ampliar a área de cultivo.
“O preço está muito ruim. Até 2004 a gente vendia a R$ 48 a saca de 60 quilos de arroz. Na passada vendi a R$ 22. Produzimos para não ficar parado”, diz Osvaldo Leão, produtor de arroz há nove anos. No entanto, apesar do preço baixo, ele tem a possibilidade de vender a produção para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que oferece R$ 28 por saca, valor que não gera lucratividade, mas anula gastos com custos de produção.
“Como sou um pequeno produtor assentado pelo governo federal eles nos oferecem esse preço. Não é grande coisa, mas pelo menos evita que o produtor leve prejuízo”, podendera Osvaldo Leão. A perda de R$ 8 a R$ 10 reais por saca tem preocupado produtores rurais que não contam com o suporte da Conab, como Silão Luiz Fortuna que produz arroz há 10 anos e reclama dos gastos com produção.
“Estamos hipotecando os bens no banco e não temos expectativas para nada. O investimento por alqueire girava em torno de R$ 3 mil e agora não fica em menos de R$ 5 mil”, conta Fortuna, que pretende diminuir em 50% a área de produção. O produtor Maico Marcielo Davies aumenta o coro de reclamações. “Antes era tudo mais barato, principalmente o óleo diesel e os insumos. Então, mesmo que o lucro não fosse alto poderíamos ganhar em cima dos custos com investimento, ao contrário de hoje”, afirma.
Há três anos, produzir arroz em Querência do Norte era um bom negócio, tanto que atraía produtores de outros estados, como de Santa Catarina. “Vieram aventureiros catarinenses, mas levaram um baita prejuízo. É loucura aproveitar o auge do preço sem analisar a viabilidade com antecedência”, alerta Fortuna que este ano produziu 40 mil sacas, mas já chegou a produzir 65 mil.
No entanto, apesar das dificuldades, Davies vê um ponto positivo na situação. “Se o preço da saca está ruim, pelo menos estamos evoluindo como produtores. Este ano colhemos 32 mil sacas em 150 alqueires. Conseguimos 220 sacas por alqueire. É uma evolução significativa e estamos produzindo arroz de qualidade”, diz.
Para Nélson Lopes de Souza, gerente da Copagra (Cooperativa Agroindustrial do Noroeste do Paraná) de Querência do Norte, a partir de agosto vai ser perceptível verificar se houve redução no número de produtores. Segundo ele, são 180 apenas em Querência do Norte - 80% são pequenos e médios produtores. “Em agosto já começa o plantio. Com certeza 20% dos produtores vai desistir da produção de arroz aqui no município”, acredita Fortuna.
Fortuna diz que as dificuldades estimulam agricultor a produzir mais
As experiências que os produtores de arroz de Querência do Norte vão fazer com o sistema de "semeadura" (semente pré-germinada) é amplamente utilizado em Santa Catarina, onde em 98% da área cultivada se usa esse método. “No sistema pré-germinado, a quantidade total de água necessária ao cultivo de arroz irrigado é menor que nos demais métodos, em virtude da formação da lama”, explica site da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) . Entretanto, como neste sistema a semeadura de sementes pré-germinadas é efetuada em solo previamente inundado, há necessidade de um grande volume de água por ocasião do preparo do solo e da semeadura”, explica site da Embrapa.
A pré-germinação das sementes consiste basicamente em acelerar o processo natural de germinação, na ausência de solo. As operações de preparo do solo podem ser iniciadas logo após a colheita até poucos dias antes da semeadura.
Este sistema de plantio exige, no entanto, 20% a 30% a mais de sementes que o sistema de semeadura com sementes secas, pois o perfilhamento é menor.
Semente pré-germinada será testada
Uma nova modalidade tem despertado o interesse dos produtores de arroz que podem lucrar mais – o plantio de inverno. “Esses experimentos começarão a ser desenvolvidos no final deste mês e início de agosto. O produtor vai poder plantar arroz no inverno e fazer duas safras no ano”, revela o gerente da Copagra, que considera importante que o produtor se mantenha informado sobre as novas técnicas de plantio.
“Até dois anos atrás não se falava no arroz pré-germinado aqui em Querência do Norte e, hoje, cada dia que passa estamos vendo novos produtores buscando conhecimento sobre isso”, informa Souza, acrescentando que alguns produtores já estão plantando o arroz pré-germinado. “Produção atrelada à modernidade. Um ótimo método para quem busca aumentar a produção por alqueire”, assinala.
Atualmente, a Copagra estuda a viabilidade de se fazer algo para que o arroz produzido no município não tenha de ser enviado a outras cidades para ser beneficiado. “Para que não seja enviado com casca, a cooperativa junto com os produtores pretende implantar uma máquina de benefício de arroz em Querência do Norte”, adianta Souza - e complementa: “Os trabalhos estão bem avançados, tem várias empresas desenvolvendo esse projeto e vamos realmente pleitear recursos para que possamos também recolher alguns impostos para o nosso município”.
O objetivo é absorver toda a produção de arroz dos produtores.No entanto a implantação vai depender dos investimentos de outras empresas empenhadas na tarefa de colocar o projeto em prática. “As empresas que estão trabalhando conosco são do Rio Grande do Sul – o maior produtor de arroz do país”, completa.
Produtividade alcança 230 sacas/hectare
Querência do Norte é responsável por 40% da produção paranaense de arroz. O município tem 180 produtores que juntos plantam 4600 hectares que produzem de 420 a 460 mil sacas, com produção média de 220 a 230 sacas por alqueire. De acordo com Nélson Lopes de Souza, gerente da Copagra, 100% do arroz não fica no município; normalmente é secado e vendido para Umuarama, Cianorte, Paraíso do Norte e Apucarana.
“Apenas secamos o arroz aqui e, ainda assim, em torno de 20% sai daqui verde. Então, esse arroz não é beneficiado em Querência do Norte”, informa Souza, que apesar da queda na produção de arroz percebeu aumento de 5% na área destinada a cultura, se comparado há dois anos. “É um aumento tímido, porque a área onde se trabalha com arroz irrigado fica às margens do Rio Paraná. Tem toda uma questão ambiental com a qual o produtor ou cooperativa têm de se preocupar. Então, dificilmente a área aumenta”, explica o gerente da Copagra.
O fato de se produzir arroz às margens do rio faz com que os produtores dificilmente migrem para outra cultura. “Não pensamos em plantar outra coisa porque na região do banhado isso é impossível. Então nos resta ter esperanças que o preço melhore”, destaca Osvaldo Leão.
Mas, além das esperanças dos produtores, o gerente da Copagra recomenda que procurem novas alternativas, principalmente aquelas atreladas as novas tecnologias que podem fazer com que o produtor consiga lucrar mais sem precisar aumentar a área de produção. “Se ele tiver vontade vai conseguir encontrar um método de produção que se adeque a seus interesses, baixando custos e luccrando mais”, completa.