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Crise na Argentina reduz atividade da indústria de adubo

O problema ameaça afetar a semeadura de trigo


A crise energética na Argentina começou a afetar o setor agrícola, a principal fonte de divisas do país, com uma redução na atividade dos moinhos e de indústrias de fertilizantes. Além disso, o problema ameaça afetar a semeadura de trigo. Analistas e empresários concordaram com a possibilidade de a produção ser afetada caso as restrições na oferta de eletricidade, diesel e uréia sejam estendidas.

"Por enquanto, há incovenientes que podem ser remediados. Mas, caso se prolonguem, surgirão problemas mais sérios", disse à Reuters o analista Ricardo Baccarin, da consultoria Panagrícola. A Argentina é o maior exportador mundial de óleo e farelo de soja, e o terceiro em fornecimento de grãos da oleaginosa. Além disso, é o segundo maior exportador mundial de milho e se encontra entre os cinco maiores de trigo.

Alguns moinhos reduziram as atividades e várias fábricas de fertilizantes estão paralisadas por falta de energia. A escassez de óleo diesel para o maquinário agrícola também atrasou as colheitas de soja e milho e está afetando o plantio do trigo. No final do mês passado, o governo argentino foi forçado a limitar drasticamente o abastecimento de gás às indústrias por conta de uma onda de frio, que multiplicou a demanda.

O problema é estrutural e provocado pela forte recuperação da economia após a crise de 2002. Houve um aumento no consumo, e esta situação se chocou com um atraso de investimentos no setor, deixando o sistema elétrico e de gás operando no limite. Recentemente, as temperaturas caíram, porém as medidas restritivas do governo se aprofundaram e agora impõem uma restrição diária de eletricidade aos grandes consumidores.

Trigo, o mais afetado:

Como conseqüência das limitações do uso de eletricidade, os moinhos de trigo se viram obrigados a reduzir as atividades, o que gera custos extras. "Nestes dias tivemos que parar o moinho por oito horas. Este é um moinho de ciclo contínuo de 24 horas e teve que parar por um turno. A interrupção afeta tanto o custo como a produção de farinha", disse à Reuters um diretor de um moinho de trigo de Buenos Aires, que não quis revelar o nome.

A escassez de gás também afetou a produção de uréia, um fertilizante essencial para o trigo e o milho. Muitas fábricas deixaram de operar. Uma fonte do setor informou à Reuters que uma fábrica de uréia da empresa Profertil, controlada pela espanhola Repsol-YPF e a canadense Agrium, esteve paralisada por mais de dez dias.

"(A fábrica) está paralisada desde 15 de junho. Avisaram agora que pode começar a funcionar novamente e já começaram os procedimentos, mas o processo de retomada leva 48 horas. Além disso, não se sabe se precisará parar novamente", disse a fonte que pediu para não ser identificada.

"No fim de maio, (a fábrica) ficou uma semana sem funcionar", acrescentou. Segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, a escassez do fertilizante está impedindo a semeadura do trigo em algumas áreas. A semeadura do trigo também está atrasada por conta da falta de diesel, já que os produtores não possuem combustível para as máquinas agrícolas.

A Bolsa de Cereais apontou em seu último relatório sobre plantio e colheita de grãos que a oferta restrita de diesel continuava prejudicando muitas localidades. O que alarma os analistas é o fato de os problemas energéticos terem se multiplicado no início do inverno, sinalizando um possível agravamento da crise caso as temperaturas baixas persistam.

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