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Crise no Frigorífico Chapecó afeta concorrentes


Se o Frigorífico Chapecó tivesse fechado as portas em 1996, quando enfrentou a primeira grande crise, o impacto econômico ainda estaria sendo absorvido pelo setor agroindustrial catarinense e sobretudo pela economia da região Oeste de Santa Catarina. A análise é de um alto executivo de uma grande agroindústria, que preferiu não ser identificado, e mostra que a empresa chapecoense é mais importante para suas concorrentes como participante do jogo comercial do que de portas fechadas.

Para a economia da região, o fechamento do frigorífico, que enfrenta nova crise e está em vias de ser arrendado, significaria anos de retrocesso. Haveria o aumento do fluxo de agricultores para a periferia de cidades como Chapecó, Xanxerê e Xaxim. As empresas concorrentes não teriam condições de incorporar produção e agricultores integrados, muitos deles altamente produtivos. Colocariam em risco suas próprias linhas de produção e a solidez do setor, que nos últimos anos teve significativa participação no equilíbrio da balança comercial brasileira.

Somente para a cidade de Chapecó, a maior do Oeste, com quase 170 mil habitantes, o impacto da paralisação completa da indústria geraria uma redução de R$ 1,18 milhão na arrecadação do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI). Sozinha, a Chapecó responde atualmente por 5,12% do movimento econômico da chamada capital do Oeste, que é de R$ 845 milhões ao ano, segundo a Secretaria de Estado da Fazenda.

Os números da crise no Frigorífico Chapecó impressionam. No mês de fevereiro, início da fase mais dura da crise, foram abatidos 19.078 suínos na unidade de Chapecó, mas esse volume poderia ter sido acrescido de pelo menos outros 35 mil, se considerada a capacidade de abate de 2 mil animais ao dia e 28 dias trabalhados. Na unidade de Xaxim, a produção de aves, no mesmo mês, foi de 5,8 milhões de unidades, quando poderia ter chegado, com capacidade máxima (340 mil aves/dia) e 28 dias trabalhados, a 9,5 milhões de animais.

Mesmo assim, a produção foi significativa: é a sétima maior do Estado em suínos e quinta em aves, considerando-se as 12 maiores unidades agroindustriais catarinenses. Um volume que dificilmente poderia ser absorvido pelas concorrentes, que trabalham com suas capacidades máximas e têm regimes de integrações próprios, com animais a campo que sustentam suas unidades fabris.

A volta da produção da Chapecó à capacidade máxima, a partir do arrendamento previsto para esta semana, restabeleceria as regras normais do jogo de mercado, com as quais as concorrentes já estão acostumadas. (J.A.S)

No cerne da crise que derrubou o Frigorífico Chapecó e fez o seu controlador, o Grupo Macri, assinar um documento permitindo o arrendamento, o executivo encontrou dois elementos cruciais: a recessão que afetou a Argentina e a política agressiva de retomada de mercado, promovida pela empresa a partir de 1998. Com a crise na Argentina o controlador retirou os investimentos de capital de giro, dificultando operações como a produção de rações, que exigem gastos até R$ 1 milhão ao dia. Com a política de retomada do mercado, a empresa fez uma série de concessões e ofertas que resultaram em redução de ganhos imediatos, com perspectiva de aumento mais adiante. Jogou forte no mercado e para isso precisou de recursos, que acabaram faltando quando a crise apertou na Argentina.

"Ainda houve um somatório de outros acontecimentos, como a crise da suinocultura por surperoferta e o aumento dos preços dos insumos, que fez as indústrias todas disputarem grãos com os portos", argumentou o executivo. No ano passado o projeto da empresa era faturar de R$ 853 milhões, mas faturou R$ 700 milhões).

Ainda conforme o executivo, a redução da produção e a morte de animais no campo, por causa da falta de ração no Frigorífico Chapecó, prejudicou mais o agricultor. Foi ele quem teve de providenciar a eliminação dos animais mortos e é ele quem está tendo dificuldades financeiras por não receber o pagamento pelos três últimos lotes entregues, desde o final do ano passado. "O impacto até agora é bem maior no campo que no mercado", acrescenta.

Por tudo isso, o executivo acredita que a permanência do Frigorífico Chapecó no mercado manteria a "ordem natural das coisas" evitaria atropelos nas indústrias e beneficiaria a economia do Oeste e principalmente do setor agrícola, acalmando a tensão entre os agricultores. "Há espaço para todos no mercado. Se fosse o contrário, alguém teria que abater esses animais e assumir essa produção. Quem fizesse isso sacrificaria seu parque fabril".

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