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Crise pode atrasar projetos de usinas de álcool

A crise internacional deve mesmo afetar o “xodó” da economia brasileira, o agronegócio


A crise internacional deve mesmo afetar o “xodó” da economia brasileira, o agronegócio. Os reflexos já começam a ser sentidos, sobretudo no caso da indústria sucroalcooleira, a nova aposta para o desenvolvimento de Mato Grosso do Sul. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) já está atrasando a liberação de recursos para a construção de usinas. Outros projetos a serem financiados com recursos de fundos internacionais podem estar ameaçados, caso a economia não se normalize nos próximos meses. Ao todo, segundo o governo do Estado, Mato Grosso do Sul tem 43 projetos de usinas, previstos para inauguração até 2018.

A crise preocupa até mesmo o berço da indústria da cana-de-açúcar, que é a região de Sertãozinho, em São Paulo. Produtores que formam a cadeia produtiva de agroenergia e de biocombustíveis de São Paulo se reúnem hoje em Sertãozinho para discutir com autoridades, lideranças e economistas a situação real da crise do setor, que já dá sinais de desaceleração de investimentos.

A queda no preço do petróleo e os pedidos de recuperação judicial de duas das maiores indústrias produtoras de etanol de milho dos Estados Unidos (Gate Way Ethanol e Greater Ohio Ethanol), aumentaram o grau de preocupação dos usineiros. Eles alegam que já vivem uma situação de inadimplência em razão dos baixos preços praticados nos mercados de açúcar e álcool nas duas safras mais recentes.

Em Dourados, o agropecuarista Celso Dal Lago disse nesta quinta-feira que a liberação de recurso do BNDES para a construção da Usina Dourados está atrasada. Ele constrói a usina para moer três milhões de toneladas de cana por ano, em Itahum, em sociedade com a Unialco, que já opera no interior de São Paulo. “É uma situação que nos deixa preocupados”, diz Celso. Na opinião dele, os projetos que dependem de recursos internacionais estão em situação muito mais problemática e devem ficar em compasso de espera.

A situação é critica em toda a cadeia do agronegócio, segundo Dal Lago. “Vai pegar todos os setores, não só o sucroalcooleiro, mas também a soja e o bovino”, diz sobre a crise. Mas, ele acredita que, se o mercado normalizar, todos os 43 projetos podem sair do papel. “O Estado tem terra e estrutura para isto; a cana está sendo plantada. O que está faltando mesmo são os recursos para as indústrias”, ressalta. Para construir uma usina do porte da de Dal Lago (médio/grande) são necessários em torno de R$ 400 milhões.

REMANEJAMENTO

Mas, de acordo com avaliação do economista Carlos Alberto Vitoratti, da C&G Consultoria e professor da Anhanguera, os projetos com previsão de recursos do BNDES não devem ser afetados. Segundo ele, o governo federal deve remanejar R$ 5,5 bilhões dos fundos constitucionais do Norte, Nordeste e Centro Oeste para o BNDES. Desta forma, o banco poderá atender todas as demandas previstas, inclusive das usinas. O remanejamento é necessário para suprir a queda na captação externa.
O economista reconhece a crise, mas vê com otimismo o setor sucroalcooleiro. Ele acredita que a demanda de etanol deve crescer no Brasil e no mundo. “Quem está no ramo não vê muito esse problema”, ressalta. Mas, reconhece, ao mesmo tempo, que alguns projetos podem não se concretizar. Mas Vitoratti acredita que 80% deles saiam do papel. Porém, um outro setor da agroenergia que deve ter problemas, segundo ele, é o biodiesel. “Os bancos tendem a ver atividades como esta [o biodiesel], que não estão consolidadas, como de risco”, ressalta.

GERAL

Já o economista Leonardo Mussury acha que a crise afeta a economia com um todo. Ela gera desemprego e redução da demanda de consumo a atinge a produção. Com isso, o governo arrecada menos e tem de reduzir investimentos, segundo ele. “O governo já sabe que vai ter de reduzir gastos, mas quer manter os programas de transferência de renda, que consomem R$ 10 bilhões. Então vai ter de engessar a máquina, reduzir obras e cortar aumento de salários”, explica.

Nesse processo de reestruturação da economia, Mussury acha que pode faltar recursos para a conclusão dos projetos de usinas. E diz também que todo o sistema pode ser prejudicado. “Com o problema envolvendo índios, quilombolas e sem-terra, ninguém mais compra terra. Tem ainda o problema dos insumos, dos fertilizantes, por exemplo, que tiveram aumento grande de preço”, ressalta.

Para Marcos Jank, presidente da Única (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), a crise de crédito pegou o setor sucroalcooleiro em cheio e deve acelerar seu processo de consolidação. “Hoje o setor é composto de 380 empresas ligadas a 200 grupos econômicos. A tendência é de que sobrem de 50 a 100 empresas nos próximos 10 a 15 anos”, afirmou.

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