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Cultivando a terra há gerações

"Quem nasce na agricultura tem sempre o sonho de voltar para a roça", diz Durvalino Rosa


Durvalino Rosa, de 55 anos, chegou em Porto Feliz em 1986 com seus pais para realizar o sonho de voltar a trabalhar a terra. Natural do Paraná, uma geada fez com que a família migrasse para o estado de São Paulo, onde passaram a trabalhar na indústria. Retornar ao campo foi para seu Durvalino como a liberdade dada ao passarinho que sai da gaiola. "Quem nasce na agricultura tem uma raiz da qual não esquece nunca. Tem sempre o sonho de voltar para a roça", conta.

Assim como Durvalino, outros tantos ex-sem-terra viveram experiências semelhantes e hoje lutam para perpetuar esse amor para as próximas gerações. "Meu filho, de 19 anos, trabalha no campo e gosta. Alguns colegas conseguiram fixar seus filhos, mas outros jovens daqui já saíram. A agricultura é incerta, uma hora dá, outra tira", pondera.

Para driblar as dificuldades, Durvalino e sua esposa, Maria das Graças Silva Rosa, 59, relatam que buscam sempre novos conhecimentos por meio de cursos, troca de experiências e testes na plantação, como a palmeira real e o algodão colorido que aos poucos ganham vida em suas terras.

O que não muda no campo é a rotina do madrugar. O produtor relata que, para carregar um caminhão, que chega às 7h, acorda às 3h junto do filho para colher um a um cada alimento, fresquinho. Mas ele não reclama, pelo contrário. "O homem mateiro dorme cedo igual galinha. Para ele é um crime levantar depois do sol nascer. É assim o amor pela natureza. Não há dinheiro que pague esse sossego, esse ar puro", valoriza.

E quem também procura resgatar algumas velhas tradições é o agricultor Jeferson Parra, 38 anos, assentado na mesma cidade. Ele conta que se orienta pelo calendário lunar na lavoura, como para saber a hora certa de preparar o solo, podar e plantar. O produtor também participa de grupos com agricultores de várias cidades, que promovem reuniões mensais para trocar experiências e conhecimento.

Além dos grupos que participa, ele faz cursos, estuda o mercado pela internet e testa novas variedades e enxertias. Em suas terras, já são 48 espécies, todas 100% orgânicas há três anos. Para chegar a esse nível, Jeferson revela que acumula também uma bagagem familiar de décadas. A história de seus avós com as terras de Porto Feliz data de 1919. "Eles produziam mudas de reflorestamento para o governo, muito antes de as terras virarem assentamento", recorda.

Para fortalecer os agricultores assentados e melhorar sua qualidade de vida, Jeferson comenta que os produtores aos poucos estão avançando. Parte deles já consegue beneficiar os produtos em Pilar do Sul, o que em breve devem fazer em Porto Feliz, com a ajuda de recursos estaduais. "As pessoas querem tudo descascado, cortado e embalado. Com o beneficiamento, conseguimos vender para a merenda escolar [PNAE] e o preço também melhora", comenta. Jeferson e os colegas de campo esperam conseguir ganhar competitividade com medidas como essa, para também conquistar as próximas gerações. 

Foto: Aldo Silva

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