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Custo da produção de soja preocupa agricultor do Tocantins



A indefinição no preço futuro da soja, o grande volume do produto em estoque e o aumento nos custos dos insumos agrícolas, estão levando muitos produtores tocantinenses a colocarem o pé no freio antes de definirem que área vão plantar. O valor de adubos e sementes cresceu no mínimo 30% em relação ao ano passado, o preço da soja, que atingiu um dos maiores picos das últimas décadas e chegou a estabilizar em US$ 15 a saca, tende a voltar para seu preço histórico, que é de US$ 10. Para complicar ainda mais o quadro, a ferrugem asiática já se instalou nas lavouras do Estado, encarecendo ainda mais o custo da produção.

O engenheiro agrônomo Marthorelle Franco Teixeira, que há nove anos atua no Tocantins como representante comercial de produtos para o setor, avalia que o cenário exige cautela por parte do produtor, até porque as tradings ainda não abriram o preço da soja futura, mas a tendência é de mais alta nos preços dos adubos e sementes.

Dados técnicos mostram que hoje o custo de implantação de um hectare aproxima-se de R$ 1.500,00. Como no Tocantins a média histórica de produtividade é de 42 sacas/hectare, se o produto se firmar a pelo menos a US$ 12 a saca na cotação atual do dolar, o produtor teria um rendimento de apenas R$ 54 por hectare.

Um risco bastante elevado, reconhece Teixeira, uma vez que o produtor estaria apenas empatando os custos com o ganho, mas até o momento nem essa garantia de preço ele tem. Para que o produtor melhore seus rendimentos, é preciso que o preço da soja volte para os US$ 15 a saca ou eleve a produtividade para 50 sacas/hectare, acrescenta Teixeira. Uma tarefa difícil considerando que a monocultura da soja praticada na região tem diminuído a produtividade. Quem atingir esse patamar poderia ganhar até R$ 350 por hectare plantado.

Teixeira explica que a elevação no preço do adubo se deve ao aumento da área plantada em todo o mundo, que foi da ordem de 30%. Em contrapartida as indústrias cresceram cerca de 6%. Com a procura maior que a oferta, é natural que o preço eleve. Está sendo esperado inclusive um novo aumento para os próximos dias, quando os produtores terão que ir às compras para fazer a preparo do solo.

Até mesmo as sementes utilizadas no plantio, que são produzidas no Tocantins, nas regiões de Lagoa da Confusão e Formoso do Araguaia, aumentaram cerca de 60% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso porque houve perda nas lavouras de semente de Goiás e os produtores de lá estão vindo buscar o produto no Tocantins, desequilibrando a lei da oferta e da procura.

O quilo do produto saltou de R$ 1,50 para R$ 2,10. As sementes do Tocantins, produzidas sob o sistema de elevação do lençol freático nas áreas de várzeas, são consideradas as melhores do cerrado brasileiro. Empresas de grande porte como a Bayer estão fazendo parcerias com produtores tocantinenses para produção exclusiva.

Os defensivos também não ficaram para trás. Alguns produtos, que no ano passado foram vendidos a R$ 90 o litro já passa dos R$ 200 este ano. A ferrugem asiática aumenta ainda mais o risco da lavoura. No Tocantins já é preciso fazer duas aplicações. Em regiões de Minas Gerais e Goiás já se chegou a quatro aplicações sem resultado.

Para agravar ainda mais o quadro, o excesso de soja em estoque preocupa ainda mais os produtores. Tanto no posto de recebimento da Bunge em Porto Nacional, como no pátio de transbordo em Porto Franco (MA), foi possível ver soja estocada a céu aberto por falta de armazéns para recebê-los. Novamente os produtores devem recorrer às tradings, cujos financiamentos são atrelados ao dólar. Além da variação cambial eles pagam 1,4% de juros ao mês. Quanto mais subir o dólar melhor para essas operadoras e pior para o produtor.

Em Pedro Afonso, principal pólo de soja do Tocantins, os produtores estão em fase de cotação dos insumos. Ou seja, o quadro ainda é de indefinição. O certo é que mais do que nunca, produzir soja vai exigir muito profissionalismo. Com o custo na plantação de um hectare de soja no Tocantins chegando a R$ 1,5 mil, o produtor está tendo apenas R$ 54 por hectare.

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