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Desmatamento custa R$ 19 milhões ao ano

Pelo menos 18% da planície já foram devastados por conta, principalmente, da expansão de commodities


Neste domingo (12), é comemorado o “Dia do Pantanal”, bioma com uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta e que vem sendo constantemente ameaçado pela degradação e o desmatamento. Devastação que tem um preço de mais de R$ 24 mil por hectare (ha) ao ano, conforme o Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil. Levando-se em consideração que o total desmatado anualmente é de 792 hectares, o custo total é de R$ 19 milhões ao ano.

De acordo com o WWF-Brasil, 18% da planície já foram destruídos por conta da expansão de commodities, principalmente, para produção extensiva de gado. "Isso é terrível porque estamos reduzindo a quantidade das populações animais e vegetais podendo haver um sério risco em extinções de espécies, com a perda da biodiversidade e ainda afetando processos que garantem a disponibilidade de água para as populações", alertou o coordenador do programa, Júlio César Sampaio, durante evento realizado na última quarta-feira (08) e organizado pela ong para comemorar a data.

Tal situação preocupa e uma parceria entre WWF-Brasil e Maurício de Sousa Produções resultou em uma história em quadrinhos, estrelado pelo personagem Chico Bento, que busca levar educação ambiental às crianças. A ideia é que, depois, elas repassem a preocupação aos adultos.

Um dos agravantes, conforme o WWF-Brasil, é que as chuvas estão ficando cada vez mais extremas na área. Na região, chove mais em menos dias desde 1926 até 2016. “Isso pode ter relação com o aumento de temperatura do planeta induzida pela emissão antrópica de gases estufas e isso sim pode acarretar em risco hídrico para o pantanal no médio e longo prazos. Portanto, a conservação da Amazônia é fundamental para manter a segurança hídrica do pantanal”, informou.

Segundo o especialista em mudanças climáticas da Embrapa Pantanal, Iván Bergier, as precipitações extremas podem acelerar processos naturais de formação de arrombados e de avulsão, como o do Rio Taquari. Para ele, há forte relação entre o desmatamento da Amazônia e a conservação do pantanal.

"Se se o desmatamento da Amazônia superar um certo nível crítico, é possível que as chuvas de verão no Pantanal se tornem mais escassas e ao mesmo tempo mais extremas, e isso sim pode acarretar em risco hídrico para o pantanal no médio e longo prazos. Portanto, a conservação da Amazônia é fundamental para manter a segurança hídrica do pantanal, ou seja, a disponibilidade de água para o pantanal e, de certa forma, para toda América do Sul".

Doutora em Direitos Humanos e Meio Ambiente, Marli Deon Sette, entende que devem ser criados mecanismos para frear o corte de vegetação nativa. “É necessário deter o desmatamento no pantanal por meio de mecanismos econômicos que inibam produções não amigáveis ambientalmente, como por exemplo a monocultura da soja, que degrada as terras pantaneiras, a construção de hidrelétricas e o uso de agrotóxicos", avalia.

Para ela, o Brasil também precisa criar mecanismos para remunerar os proprietários que preservem as riquezas naturais. "Temos que demonstrar que é economicamente mais vantajoso para os proprietários das terras manter a mata do que retirá-la. Um desses mecanismos deveria ser o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), bem como incentivar o uso inteligente do pantanal com práticas como a pecuária tradicional, agricultura familiar não mecanizada e o turismo ecológico e rural".

Sette reforça ainda que é urgente que haja uma legislação federal que proteja o bioma. "Hoje temos convenções (RAMSAR), tratados, tratamento constitucional diferenciado, mas não temos lei nacional específica. O PL-750, que tramita no Congresso desde 2011, ainda precisa de vários ajustes para que finalmente, ao ser aprovado, proteja o pantanal. "O PL deve, por exemplo, ser ajustado para conter o uso indiscriminado de agrotóxicos, a construção de hidrelétricas, conter a monocultura da soja e a falta de proteção expressa dos corixos, capões e brejos", afirmou.

Sampaio pontua ainda que é preciso entender que é mais rentável preservar que destruir. "O pantanal fornece aproximadamente R$ 560 bilhões ao ano em serviços ambientais para todo o planeta. Isso seria o que o bioma provê de água, solos produtivos, ar de qualidade, diversidade de peixes, regulação do clima para o globo", afirmou. "Esse valor econômico do pantanal não é considerado nas análises de viabilidade de grandes projetos de infraestrutura, como por exemplo hidrovias e pequenas centrais hidroelétricas (PCHs) que podem causar impactos ainda não compreendidos a todo o ecossistema", acrescentou.

Já o temor do professor José Sabino, da Universidade Anhanguera de Mato Grosso do Sul (Uniderp) é a implantação das PCHs. "Na Bacia do Alto Paraguai há planejamento de se construir perto de 115 PCHs. Isoladamente elas causam pouco impacto, mas em conjunto podem criar um impacto sem precedentes à hidrodinâmica do pulso de inundação do Pantanal, vital para os ciclos naturais da planície pantaneira".

Sabino considera importante a construção do aquário do pantanal, cujas obras estão paralisadas desde o início de 2015. "É uma pena porque seria um equipamento de lazer, turismo, educação e pesquisa, além de gerar divisas - estimativas chegam a falar de R$ 100 milhões/ano oriundas de 300 mil visitantes/ano - e ser um efetivo instrumento de divulgação e proteção dos peixes do pantanal", disse.

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