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Dia de campo demonstra alto potencial da soja para Alagoas, Sergipe e Bahia

O evento aconteceu no município da Zona da Mata de Alagoas e reuniu mais de cem participantes, entre produtores rurais.


A Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE) promoveu na terça (11), em parceria com a Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária, Pesca e Aquicultura da Alagoas, um dia de campo para apresentar a produtores alagoanos os resultados preliminares da introdução e avaliação de 49 genótipos de soja para os Tabuleiros Costeiros e Agreste nordestinos.

O evento aconteceu na Fazenda Surubana, em Porto Calvo, município da Zona da Mata de Alagoas, distante 101 quilômetros de Maceió, e reuniu mais de cem participantes, entre produtores rurais de Alagoas, Bahia, Sergipe e Paraná, empresários do setor sucroenergético, técnicos do setor público e estudantes.

O objetivo foi apresentar a soja como uma cultura de grande potencial para a diversificação da produção na região chamada de SEALBA, cujo nome representa as siglas de Sergipe, Alagoas e Bahia – recorte territorial com grande potencial de grãos para a diversificação de plantios. O grão pode ser um grande aliado na diminuição das áreas de monocultivo e no enfrentamento das crises que trazem queda de preço das commodities e perdas para os produtores.

Prestigiaram o dia de campo representantes da Comissão de Grãos de Alagoas – grupo formado por várias instituições através de iniciativa do governo estadual para incentivar a cultura de milho, soja e feijão no estado –, o secretário da Agricultura, Álvaro Vasconcelos, dirigentes da Federação da Agricultura e Pecuária de Alagoas (Faeal) e o chefe de Pesquisa da Embrapa, Marcelo Fernandes, que abriu os trabalhos junto com o secretário.

Para ver a galeria de imagens completa do dia de campo na rede social de fotos Flickr, clique aqui

Homenagem
A Embrapa Tabuleiros Costeiros prestou uma homenagem especial a seis atores importantes da agricultura alagoana por sua atuação pioneira e desbravadora em tentar incorporar a soja à matriz produtiva do estado. Agentes públicos e produtores visionários receberam uma placa com o reconhecimento público, entregue pelos dirigentes e pesquisadores da empresa.

Foram eles o secretário Álvaro Vasconcelos, o presidente da Comissão de Grãos e superintendente da Seagri-AL, Hibernon Cavalcante, e os produtores Edilson maia, Eeveraldo Tenório, Sérgio Papini, Aldair Costa e Alexandre Gondin.

Informações técnicas
Os pesquisadores da Embrapa Sérgio Procópio, especialista na cultura da soja e coordenador dos experimentos em campo, e Antonio Santiago, expert em tratos culturais, abordaram a importância do Zoneamento Agrícola de Risco Climático da soja na para a região do SEALBA, o potencial da soja nos Tabuleiros Costeiros e os resultados experimentais das avaliações de cultivares – com índices de produtividade maiores que as médias. Integram os experimentos cultivares desenvolvidas pela Embrapa e diversas outras empresas de sementes consolidadas no mercado brasileiro.

A programação encerrou com uma visita ao ensaio de cultivares de soja montado na fazenda, de propriedade do produtor Sérgio Papini, que já vem plantando o grão há dois anos numa área de aproximadamente 60 hectares. A produtividade de 2016 na Surubana atingiu a média de 60 sacas (3,6 toneladas) por hectare, mesmo num ano de extrema escassez de chuvas como este.

Resultados de pesquisas realizadas desde 2013 na região apontam níveis de produtividade elevados (3.000 a 5.000 kg/ha), valores acima da média brasileira, que na safra 2013/2014, segundo a CONAB, foi de 2.843 kg/ha, o que indica o alto potencial produtivo dessa cultura nos Tabuleiros Costeiros e Agreste.

Diversificação
Diversificar é a palavra de ordem dos produtores de cana-de-açúcar para os próximos plantios com o objetivo de fazer face à crise sucroenergética em Alagoas, que consome em torno de um milhão de toneladas de grãos, especialmente milho e soja, para a produção de aves, suínos e gado.

Nos últimos anos, o preço baixo tanto do álcool como do açúcar e o encerramento das operações de algumas usinas de cana estão fazendo com que os produtores procurem alternativas.  Percebendo essa lacuna, o Governo do Estado de Alagoas, lançou um programa de incentivo ao cultivo de grãos em parceria com a Embrapa e diversas instituições.

A diversificação de cultivos é um dos principais alicerces da sustentabilidade agrícola. Casos de insucessos de monocultivos são relatados em diversas regiões do mundo.

Na região são comuns áreas com ampla dominância de uma única cultura agrícola, como é o caso do milho no Agreste e dos citros nos Tabuleiros Costeiros de Sergipe e de parte da Bahia, além da cana nos Tabuleiros alagoanos. O monocultivo torna a região de produção vulnerável a riscos fitossanitários (doenças e pragas) e mercadológicos (variação e eventuais quedas de preços das commodities).

Pesquisa
Com o objetivo de formatar um sistema de produção para essas regiões, diversas ações de pesquisa vêm sendo realizadas pelos cientistas da Embrapa.

As iniciativas englobam a seleção de cultivares com base em adaptabilidade e estabilidade de produção, porte para colheita mecanizada, nível de acamamento das plantas (quando pendem e deitam), e ciclo de produção; determinação dos melhores períodos para o plantio; avaliação dos arranjos de plantas – espaçamento e população; adaptação da cultura no sistema de plantio direto; recomendação para a inoculação de sementes, visando a não dependência de fertilizantes nitrogenados; levantamento das pragas, doenças e plantas daninhas de ocorrência regional, com os seus respectivos métodos de controle; determinação do momento correto da colheita; avaliação da qualidade de sementes – sanidade, germinação e vigor; e inserção da cultura em sistemas conservacionistas junto à agricultura familiar.

Impressões
Para o produtor holandês Herman Burema, que cultiva 7 mil hectares de soja na região de Barreiras, no oeste baiano, a boa produtividade observada em Alagoas e Sergipe, tornam a região uma nova fronteira em potencial, não apenas para suprir o mercado nordestino de grãos para a alimentação animal, mas também para a produção de sementes para o cultivo nas regiões tradicionais do Brasil, pois os períodos de cultivo não coincidem. "Fiquei bastante impressionado com o vigor da lavoura aqui em Alagoas, e não pensaria duas vezes em vir produzir aqui na região", declarou.

O agricultor visionário Edilson Maia, que fez o primeiro plantio experimental de soja em Alagoas há 32 anos, vê no grão um grande aliado dos produtores de cana, no sentido de mitigar as crises cíclicas e diversificar a produção de cana.

Sérgio Papini demonstra clara animação em relação às perspectivas da soja para Alagoas, e pretende seguir ampliando o cultivo. "Resolvemos fazer o primeiro plantio em 2015 e já tivemos resultados bem animadores. E este ano, mesmo com a falta de chuva, a produtividade se mostrou bem razoável. É inegável a importância da cultura de grãos para garantir uma maior independência dos produtores da região e uma maior resistência às crises da cana", acredita.

Soja
A soja representa na atualidade a principal cultura agrícola brasileira. Dados da Conab apontam uma área cultivada com soja no Brasil de aproximadamente 30 milhões de hectares, estando em plena expansão para novas fronteiras – caso do território do SEALBA. A soja é o principal produto da pauta de exportações agrícolas do país. É a fonte proteica primordial para a produção de rações e importante matriz oleaginosa para a produção nacional de biodiesel.

Entre outras grandes vantagens destacadas por Sérgio Procópio, a soja é uma cultura de ciclo curto – 80 a 130 dias, necessitando de apenas de um curto período de chuvas no ano, e, por ser uma leguminosa, tem a capacidade de fixar nitrogênio no solo – um nutriente essencial para a fertilidade – diminuindo consideravelmente os custos de produção.
 
A Embrapa Tabuleiros Costeiros vem realizando experimentos para avaliar o potencial da cultura da soja na região. O pesquisador Sérgio Procópio coordenou a avaliação de 55 cultivares de soja no campo experimental de Frei Paulo, no Agreste Central Sergipano, em 2013. A grande maioria dos materiais apresentou níveis de produtividade acima da média brasileira, o que indica alto potencial produtivo para a região. Essa tendência se repetiu nos ensaios de campo em 2014 e 2015.

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