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Digitalização da agricultura passa pelo caderno de campo digital

Solução para o dia a dia do produtor é exigência na negociação com grandes compradores


Foto: Pixabay

Aumentar a produtividade, reduzir o desperdício e melhorar a comercialização estão, atualmente, entre as principais metas nas propriedades rurais e agroindústrias familiares. Esse objetivo vem sendo alcançado, aos poucos, com o uso da chamada internet das coisas (IoT, da sigla em inglês), que possibilita a conexão entre diferentes realidades, como pomares, produtores, canteiros, compradores, sensores e smartphones. Os resultados são animadores, até 2025 a expectativa é de aumento de até 25% na produção e redução que pode chegar a 20% no uso de insumos, segundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Nesse mesmo prazo, o uso dessas soluções no agronegócio deve movimentar entre US$ 5 bilhões e US$ 21 bilhões.

A modernização na agricultura é irreversível, segundo especialistas. E a digitalização do caderno de campo já é uma realidade. “Os cadernos de campo vêm sendo muito solicitados pelas indústrias que estão implantando normas internacionais de segurança de alimentos, como ISO 22000, BRC e FSSC 22000. E não é só para quem quer exportar, redes de supermercados que têm marca própria, por exemplo, querem que a empresa terceirizada tenha esses programas porque eles são garantia de qualidade. Essas certificações solicitam o caderno de campo, é uma ferramenta muito importante”, explica Irene Konrad, consultora em certificação. O caderno de campo digital favorece a negociação do produtor junto ao comprador, por ser uma ação preventiva. Ao receber o produto colhido, a indústria, ou cooperativa, já está com todas as informações sobre o cultivo. “É um seguro na entrega, ali consta se o agricultor agiu corretamente, se os agroquímicos usados são aprovados pelo MAPA. Pra eles é importante saber se choveu o suficiente ou se teve queda na safra, é um registro histórico. Também é importante porque dá para comparar e se preparar para o tipo de produto que vai receber. Se a indústria vinícola entender que a uva a ser entregue está com poucos açúcares, por exemplo, ela já se prepara comprando açúcar, que é uma commodity e pode custar caro. Além disso, a validação do profissional, engenheiro agrônomo ou técnico agrícola, garante a veracidade das informações. Se não tem caderno de campo, a indústria precisa fazer as análises, isso torna o processo caro, pois ocupa espaço e demora até que saia o resultado. Está sendo bastante importante e vem sendo cada vez mais exigido”, completa a especialista. “Ele reduz os custos e torna fácil para as empresas que vão adquirir o produto, é um caminho sem volta”, conclui Irene Konrad.

Essa nova frente de negócios é de fácil acesso. A startup gaúcha Elysios Agricultura Inteligente desenvolveu um Caderno de Campo digital completo, que possibilita o controle no cultivo de frutas e hortaliças da propriedade agrícola por meio de um aplicativo no celular. Na plataforma Demetra, o produtor rural registra as atividades do dia a dia, de maneira fácil e prática, coletando dados e rastreando toda a origem do alimento. “O campo sempre produziu com poucas informações e teve dificuldades de organizar e qualificar a produção. Entendemos que a digitalização melhora a gestão da propriedade levando informações para o técnico auxiliar o produtor mesmo quando ele está longe”, afirma o diretor da Elysios, Mário Apollo Brito.

A plataforma reúne informações que podem ser fundamentais para a tomada de decisão em uma cooperativa ou grande empresa que precisa gerenciar e controlar centenas de propriedades, garantindo previsibilidade de informações da safra. Como a Vinícola Aurora, em Bento Gonçalves, na Serra gaúcha, em que o volume de produção anual da cooperativa é de dezenas de milhões de quilos de uva destinados à produção de sucos, vinhos e espumantes. Neste sistema, ter acesso a dados precisos e de forma ágil, é essencial para a indústria. A Plataforma Demetra Integrador facilita esse trabalho, ao fazer o rastreamento de todo o cultivo.

O engenheiro agrônomo da cooperativa, Maurício Fugalli, explica que, no caso de intempéries, como granizo, o levantamento rápido e preciso de dados é muito importante. “É nossa responsabilidade dar estimativas da produção, o grande desafio está em reunir os números para fazer a análise. Por isso é fundamental sabermos com mais exatidão uma estimativa de prejuízos ou se muda a previsão de uva para a safra, para podermos tomar a melhor decisão dentro da vinícola, especialmente no canal de produção e de comercialização da cooperativa”. E acrescenta: “a tecnologia dá velocidade e precisão a esses dados”.

Ao facilitar as ações de rotina na propriedade, o serviço ajuda a racionalizar o uso de insumos e, com isso, o ganho de produtividade. “No caso das cooperativas, responsáveis por organizar a cadeia, a digitalização provoca impacto muito grande, pois promove o dinamismo, organização e competitividade. Elas são determinantes para promover e incentivar a digitalização da agricultura” conclui Brito.

 

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