A possibilidade de o Brasil adotar a rastreabilidade de animais por propriedade, e não individual, foi praticamente descartada ontem pelo secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Precuária e Abastecimento (Mapa), Amauri Dimarzio. A posição, que contraria o desejo dos produtores, será levada à próxima reunião da Câmara Setorial da Carne, em meados deste mês. E foi consolidada durante a visita de Dimarzio e do secretário de Defesa Agropecuária, Maçao Tadano, à França.
Dimarzio argumentou que o rastreamento individual ajuda a suprimir desconfianças sobre o programa brasileiro na Europa. "Muitos comentaram (durante a visita) que o sistema de rastreabilidade brasileiro era só um faz de conta", justificou.
Para garantir maior credibilidade do programa de defesa sanitária do Brasil no mercado externo, a orientação é aperfeiçoar o Sistema Brasileiro de Identificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov). Isso passa, disse o secretário, pelo aumento do prazo para animais rastreados, que hoje precisam permanecer apenas 40 dias no sistema para serem certificados. Dimarzio anunciou que essa questão será levada às lideranças do setor. Uma das propostas é consolidar, até o final de 2004, um programa de rastreamento de bezerros a partir do nascimento.
O secretário lembrou que, na Europa, onde o modelo de certificação é igual o do Sisbov, as exigências sanitárias são maiores que as impostas aos plantéis brasileiros. O passaporte europeu inclui, além do atestado sanitário individual, informações de que o rebanho é livre de doenças como brucelose e tuberculose. "O mundo quer segurança alimentar. Quem não tiver, vai ficar fora", alertou o secretário.
Brasil na OMC
Durante as reuniões com autoridades dos ministérios da Agricultura, Economia e Relações Exteriores e representantes de setores produtivos franceses, Dimarzio disse ter ouvido manifestações de preocupação com a posição de liderança assumida pelo Brasil na reunião da Organização Mundial de Comércio (OMC) realizada em Cancún.
À frente de países que desejam o fim de políticas de subsídios "está deixando o pessoal muito nervoso", afirmou o secretário. "Eles ponderam que têm uma população muito idosa, que vive no campo, em pequenas propriedades. E que esse tipo de posição pode promover um êxodo para as cidades", contou.
A resposta é que o Brasil tem que combater a fome, gerar e distribuir renda. "Nossa vocação é o agronegócio. Os países ricos precisam compreender essa necessidade."
O secretário acredita que a impressão de que o Brasil quer "sufocar" a Europa pode ser contornada a partir das projeções que apontam o crescimento da demanda mundial por alimentos. deles. "Mostramos que é muito importante que os europeus venham ao Brasil o mais rápido possível fazer investimentos com os brasileiros (joint ventures), compartilhar esse grande potencial e ajudar a exportar alimentos", disse.
"Temos que trabalhar para que a União Européia se junte a nós, o que vai ajudar o muito o Brasil em outras negociações", reforçou.
A estratégia brasileira para aproximar os objetivos passa pela formação de grupos de trabalho para entender as necessidades de Brasil e Europa. "Esse seria o melhor caminho, já que eles estão com muita preocupação e precisam entender melhor como está a nossa visão."
Esses grupos assumiriam a responsabilidade de identificar os caminhos para a solução dos pontos conflitantes, abrindo caminho para negociações oficiais. "Nossa proposta é que eles apresentem solicitação ao nosso governo de formação de grupos de trabalho específicos nas áreas e que isso não seja considerado uma negociação formal."