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Dólar baixo, soja em alta

Se por um lado redução mundial dos estoques eleva cotação, recuo da moeda norte-americana achata renda e eleva custos


O mercado da soja, carro-chefe do agronegócio mato-grossense e brasileiro na pauta de exportações, vive uma situação no mínimo inusitada, para não dizer paradoxal, onde os dois principais termômetros do mercado – as cotações do dólar e da oleaginosa – tomam rumos antagônicos ante à volatilidade do câmbio e à redução dos estoques mundiais. O resultado desta gangorra é a valorização da soja no mercado internacional e a queda do dólar frente ao real, situações que – se por um lado agradam pelo aumento da cotação dos preços da commodity – por outro, deixam os produtores com a "pulga atrás da orelha". Afinal, preços melhores indicam margens de rentabilidade maior. Mas, dólar em queda pode significar prejuízo na próxima safra devido ao aumento dos preços do frete até aos portos de exportação. O cenário impõe cautela aos sojicultores.

Estudos do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) indicam que para cada 100 sacas de soja transportadas até ao porto de Santos (SP), a 2.080 quilômetros de Sorriso, na região norte de Mato Grosso, o produtor tem de desembolsar 38 sacas – ou 38% da sua receita – para pagar o frete, realizado por meio de carretas que trafegam por estradas mal conservadas.

O diretor executivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Marcelo Monteiro, lembra que o frete fica "mais caro ou mais barato" dependendo da cotação do dólar. Ele faz duas simulações para exemplificar a perda do produtor toda vez que o câmbio sofre redução. "Com o dólar a R$ 2, o frete por saca vai custar US$ 6. Se o dólar for a R$ 2,50, o frete cai para US$ 4,50. O momento exige muita cautela, pois ninguém sabe ao certo o que ainda irá acontecer daqui para frente", recomenda.

O dólar baixo prejudica, principalmente, aqueles que estão localizados em regiões mais distantes dos portos de escoamento. "O real é a moeda que forma o valor do transporte no Brasil. Quando este custo é convertido para dólar nas baixas cotações, o valor fica mais alto", explica o analista Marcelo Vital.

De acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Rui Prado, grande parcela dos custos dos produtores vem da compra de fertilizantes, cujo preço é cotado em dólar. Para ele, o problema maior não é o patamar nominal do dólar, mas a diferença entre a cotação da divisa no momento em que o produtor assume os custos e aquele em que ele vende a produção.

Marcelo Monteiro, da Aprosoja/MT, diz que o momento é de cautela. "A decisão do que fazer agora, tanto em termos de comercialização como plantio para a próxima safra, é do produtor. De um modo geral, é importante ter pelo menos parte de seus custos de produção vendidos no mercado futuro, aproveitando o bom momento da soja em Chicago e se protegendo de oscilações futuras do mercado".

Segundo ele, os preços "estão muito bons" e se situam próximos dos níveis históricos. "Mas, no próximo ano ninguém saberá dizer como estará, mesmo porque tudo depende dos estoques [dos Estados Unidos e da Argentina] e do consumo mundial".

Para ele, o produtor deve estar atento à trajetória do dólar, que já está abaixo de R$ 2 e começa a apresentar risco. "O produtor tem que fazer bem suas contas e ter muito cuidado neste momento, pois a safra norte-americana poderá surpreender por um lado ou por outro. O quadro é de incertezas".

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