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Em estação de alta umidade, cafeicultor deve adotar medidas preventivas

Pesquisas e monitoramento contribuem com controle


Pesquisas e monitoramento da lavoura contribuem com o controle da ferrugem

Verão, época de chuva e calor. Para a cafeicultura, a estação pede ações de prevenção contra a ferrugem, doença causada pelo fungo Hemileia vastatrix, que encontra na combinação de umidade e temperatura nesse período, as condições ideais para sua manifestação. O cafeicultor deve ficar atento nos primeiros meses do ano, pois o fungo pode estar de forma latente alojado nas folhas, daí a importância do monitoramento da lavoura para adoção de medidas de controle.

Na região cafeeira da Bahia, há produção de café arábica, nas zonas de maior altitude e oeste do estado, e de café conilon, ao sul. Segundo a professora Sandra Elizabeth de Souza, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), surgiram sintomas pontuais na região do conilon, por conta do aumento das chuvas nos meses de novembro e dezembro de 2011, fazendo com que os produtores iniciassem as ações de controle com fungicidas. A professora ressalta ainda que entre janeiro e fevereiro os cafeicultores devem continuar esse trabalho de prevenção das lavouras, pois se não controlar os sintomas no início, fica difícil depois que a doença se instala nas plantações.

A professora explica que o fungo causador da ferrugem leva de 30 a 40 dias para manifestar os sintomas nas plantas. Para evitar prejuízos maiores na lavoura, ela faz duas recomendações aos produtores: “Investir na adubação da planta, para suportar a competição por nitrogênio e proteínas com o fungo, e monitorar e observar o surgimento dos primeiros sintomas de pontos amarelados nas folhas para entrar com o controle imediato”.

Em Minas Gerais, maior produtor do Brasil, a pesquisadora do Centro Regional do Sul de Minas da Epamig, Sara Chalfoun, conta que até o momento o estado não sofre prejuízos na produção com a ferrugem, mas, a temperatura média de 23ºC e chuvas na região criam um ambiente propício para o aparecimento da doença. Sara ressalta que a manifestação dos sintomas se deve mais à alta umidade do que à chuva forte e constante, que impede a entrada do fungo nas folhas. A preocupação maior da pesquisadora é com a mudança no regime de chuvas devido às mudanças climáticas. Segundo ela, com as chuvas começando agora em novembro – antes era em setembro – acontece o que a pesquisadora chama de “ferrugem tardia”. Ela explica que “a mudança no período de chuvas está mudando a curva histórica da doença para os meses de janeiro e fevereiro. Antes ela surgia nos meses de novembro e dezembro”.

A consequência disso é que, quando os sintomas da ferrugem passam a se manifestar de janeiro a março, e não mais nos últimos meses do ano, a eficácia do fungicida aplicado tradicionalmente por volta de novembro já está bem reduzida. “Isso gera um duplo prejuízo ao agricultor, que tem que fazer uma aplicação adicional, dificultando a adoção de controle fixo”. Também como a professora Sandra Elizabeth, a pesquisadora Sara Chalfoun aconselha que o produtor faça o monitoramento sobre os sintomas na lavoura como medida para tomada de decisão sobre a aplicação do produto no tempo devido.

Na região cafeeira do Paraná, assim como em Minas, o pesquisador do Iapar, Marcos Antônio Pavan, informa que não há registro de ferrugem até o momento. Para ele, o controle da doença no estado se deve principalmente à adoção de cultivares resistentes. Segundo Pavan, a maioria dos produtores do Paraná já utiliza cultivares como a IPR 59, uma das poucas plantas no mundo resistente a diferentes tipos de ferrugem, a IPR 98, IPR 99 e IPR 107, cultivares obtidas com o apoio do Consórcio Pesquisa Café.

Pesquisas

Instituições do Consórcio Pesquisa Café desenvolvem diferentes estudos na área de melhoramento genético para obtenção de novas cultivares resistentes à ferrugem e com alta produtividade, como Embrapa Café, Iapar, IAC, Incaper, Epamig, entre outras. A Fundação Procafé, por exemplo, em parceria com a Embrapa Café, fez o pedido de registro de quatro cultivares resistentes à doença no último ano. O pesquisador da Embrapa Café, Carlos Henrique Siqueira de Carvalho, participa das pesquisas e explica que esse é um trabalho de longo prazo, que pode levar até 30 anos. Ainda assim, segundo Carlos Henrique, nos últimos 10 anos, mais de 30 cultivares já foram disponibilizadas para o produtor.

Uma alternativa para reduzir o tempo de pesquisas é a tecnologia da Biofábrica, projeto desenvolvido em parceria da Embrapa Café com a Fundação Procafé. A tecnologia permite uma rápida obtenção de um grande número de mudas, por propagação vegetativa da cultivar selecionada, com características agronômicas desejáveis, tais como a resistência a doenças, pragas e à seca, o que pode reduzir em até 10 anos as pesquisas para obtenção de novas cultivares.

A pesquisadora da Embrapa Café, Eveline Caixeta, participa do programa de melhoramento da UFV/Epamig, que utiliza a biotecnologia como ferramenta, tanto no desenvolvimento de marcadores moleculares, como na ampliação dos conhecimentos genéticos da resistência do cafeeiro à ferrugem. A biotecnologia é uma ferramenta também com grande potencial para o entendimento do mecanismo genético da resistência à ferrugem.

Continuamente, surgem novas raças de ferrugem resistentes às defesas das cultivares já existentes no mercado, o objetivo dos estudos é gerar tecnologias e conhecimentos que aumentem a eficiência e a rapidez na obtenção de novas variedades de cafeeiros com resistência à doença. Segundo a pesquisadora, no momento, os marcadores moleculares desenvolvidos e os genes de resistência à ferrugem estão sendo empregados na construção do mapa genético do cafeeiro e está sendo avaliada a eficiência da seleção assistida por marcadores no melhoramento.

Outra importante pesquisa na área é da Universidade Federal de Viçosa (UFV), instituição do Consórcio, divulgada no início de janeiro, revelou novidades no estudo da ferrugem no cafeeiro desenvolvido por professores dos departamentos de Fitopatologia e Biologia Geral. O professor da área de fitopatologia da UFV, Robert Weingart Barreto, falou sobre a descoberta da “criptossexualidade” no fungo Hemileia vastatrix, causador da doença, que pode levar à criação de estratégias mais eficazes para aumentar a resistência da planta à ferrugem. A descoberta mostra que as estruturas assexuadas da ferrugem, na verdade, funcionam como sexuadas. “Os eventos típicos da reprodução sexuada acontecem de modo oculto, dentro das estruturas sexuadas, o que passou despercebido dos pesquisadores durante mais de cem anos”, explicou Robert.
 
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