CI

Empresas agrícolas adiam investimentos

No Rio Grande do Sul, projeto da Cooperativa Central Aurora em Carazinho foi paralisado por tempo indeterminado


Com a queda dos preços das commodities e a valorização do real, as empresas ligadas ao agronegócio começaram a adiar investimentos anunciados no decorrer deste ano. Frigoríficos e laticínios aguardam uma recuperação mais consistente das cotações internacionais para desengavetar os projetos de expansão. Os preços em reais das exportações agrícolas cederam 14,5% entre junho e setembro, diz o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Em relação a setembro de 2008, antes da crise, a queda é de 11%. O câmbio anulou os ganhos da recente recuperação das commodities, que voltaram a subir com o início da retomada da economia global.

Enquanto os preços em dólares das exportações avançaram 6,3% no terceiro trimestre, o real se valorizou 19,6% em relação às moedas dos principais parceiros do agronegócio. Este cenário influenciou os planos dos agentes do setor. A Cooperativa Central Oeste Catarinense Aurora paralisou a construção de duas plantas de abate de aves em Carazinho (RS) e em Canoinhas (SC). O investimento somava R$ 800 milhões. “Ainda não temos cronograma para retomar”, diz o vice-presidente da Aurora, Neivor Canton.

Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne de Frango (Abef), Francisco Turra, a empresa está longe de ser um caso isolado. “Tudo parou neste ano”, afirma Turra. Nos últimos oito anos, a produção de carne de frango cresceu, em média, 11% ao ano. Em 2009, produção e exportação devem ficar estáveis.

O setor de carnes é o que mais sofre com a valorização do real, porque os preços tiveram recuperação menos expressiva que os demais produtos agrícolas. “Quanto mais nobre o alimento, mais sensível à queda de renda provocada pela crise”, explica o diretor da consultoria MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros. Ainda existe excesso de oferta no mercado, porque não houve ajuste de produção compatível com a queda de consumo, principalmente nos Estados Unidos. “Começamos a forçar um pouco a venda no mercado interno, que tem sido mais previsível, mas ainda temos que disciplinar a oferta”, relata Canton, da Aurora.

Na carne bovina, o câmbio está provocando perda de competitividade do Brasil em relação aos principais concorrentes. O real forte levou a arroba do boi gordo brasileiro para US$ 43 em novembro - patamar parecido com os US$ 41,5 da Austrália, e superior aos US$ 25 da Argentina e aos US$ 34 do Uruguai, conforme levantamento da MB. O preço histórico da arroba do boi gordo brasileiro varia entre US$ 25 e US$ 30.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Carne Bovina (Abiec), Roberto Giannetti da Fonseca, os frigoríficos estão deslocando parte da exportação para o mercado interno, principalmente de cortes nobres, que são consumidos em países ricos, afetados pela crise. A movimentação derrubou os preços do filé mignon e da picanha no mercado brasileiro.

O laticínio mineiro Itambé também adiou a duplicação da fábrica de Uberlândia, que é voltada à produção de leite em pó para a exportação. Segundo Mendonça de Barros, o impacto do câmbio na agricultura brasileira está variando bastante conforme o setor e a região do País. O açúcar é a grande exceção, porque graças à “recuperação violenta” dos preços, provocada por problemas climáticos na Índia, não percebe o efeito do real forte.

Os produtores de suco de laranja estão entre os mais prejudicados. A crise reduziu consumo de suco nos Estados Unidos e na Europa, os preços despencaram, e a citricultura brasileira teve seu pior ano da última década. O setor não tem a opção de desviar produto para o mercado interno, porque exporta 97% da produção. No setor de soja, os agricultores do Mato Grosso estão no zero a zero.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.