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Empresas do setor agrícola sobem no ranking dos maiores exportadores


A pauta das exportações brasileiras do setor dos agronegócios ganhou novos contornos nos últimos anos. Mais concentrado nos grãos, com as empresas esmagadoras de soja galgando posições no ranking das vinte maiores exportadoras brasileiras em geral, o atual rol das exportadoras do campo nem de longe lembra a lista das maiores do início dos anos 90, quando indústrias de suco de laranja, como Cutrale, Citrosuco e Coinbra, eram praticamente as únicas do setor que reinavam entre as maiores.

Em razão da incomparável boa fase da soja, especialistas acreditam que a tendência é que as esmagadoras de grãos consolidem a posição de destaque já alcançada no futuro próximo, mas que frigoríficos e usinas de açúcar e álcool também avancem no ranking, já que seus produtos vêm ganhando espaço no exterior.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), de janeiro a outubro deste ano, a Bunge, representante dos agronegócios melhor colocada no ranking das maiores empresas exportadoras do país, ficou em 3º lugar, com embarques de US$ 1,683 bilhão, perdendo apenas para Petrobras (US$ 3,668 bilhões) e Cia. Vale do Rio Doce (US$ 1,765 bilhão). Do campo, também aparecem a Cargill (6ª posição, com US$ 1,090 bilhão), ADM (10ª, US$ 652,3 milhões). Coinbra (12ª, US$ 617,4 milhões), Sadia (13ª, US$ 542,0 milhões) e Perdigão (US$ 389,2 milhões).

Bunge, Cargill e ADM representam, na visão de André Pessôa, da Agroconsult, a "sojificação" da pauta de exportações dos agronegócios. Em 1990, conforme resgatou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior a pedido do Valor, a Cutrale foi a 4ª maior exportadora do país - perdeu para Vale, Petrobras e Fiat - e liderou os embarques do campo, com US$ 461,0 milhões. A Citrosuco aparecia então em 7º lugar, com US$ 365,1 milhões, seguida por Bunge (15º, US$ 236,3 milhões) e Coinbra-Frutesp (20º, US$ 201,7 milhões).

Até outubro deste ano, Cutrale e Citrosuco, "rainhas" há 13 anos, ficaram, respectivamente, em 23º e 40º no ranking geral. "Isso não significa que as empresas de suco tenham exportado menos nos últimos anos. A questão é que as esmagadoras de soja avançaram mais que a média", diz Pessôa.

Para Adalgiso Telles, diretor de comunicação corporativa da Bunge Brasil, holding que reúne Bunge Alimentos e Bunge Fertilizantes, o avanço da empresa em soja reflete o bom desempenho do grão no mercado internacional e de recentes aquisições fechadas pelo grupo, caso da francesa Cereol. "Concentramos o nosso foco em grãos no Brasil", diz. No início dos anos 90, observa Pessôa, o foco do Brasil estava em óleo e farelo, de maior valor agregado.

Na opinião do consultor, depois da explosão das tradings de grãos, o momento é propício para um considerável avanço dos frigoríficos, que deverão galgar degraus na escada dos maiores exportadores do país já em 2004.

Bom para Sadia e Perdigão, que exportam carnes de frango e suína e já se destacam, mas bom também para frigoríficos de carne bovina, que em 2003 foi o maior destaque do complexo carnes. Neste ano, o Brasil bateu a até então imbatível Austrália nas exportações de carne bovina, tornando-se líder global. Na carne de frango, o país já é o segundo maior exportador do mundo.

"No caso do álcool, a conquista é prevista a médio e longo prazo, mas é inegável que a participação das exportadoras de açúcar crescerá, com a agregação do álcool na pauta de exportação, assim como o milho vai agregar às esmagadoras de soja", diz. Neste ano, as exportações brasileiras dos agronegócios deverão totalizar R$ 28 bilhões, 30% mais que em 1998.

Em um ranking elaborado pela Associação Brasileira das Empresas Trading (Abece), a Bunge já aparece como a segunda maior exportadora. Mas os dados da entidade consideram somente empresas registradas como tradings, o que exclui a Cargill, por exemplo, por esta se classificar como comercial exportadora em sua razão social. Segundo Ney Tinoco, da Abece, as tradings agrícolas ganharam escala nos últimos anos e a tendência é que conquistem ainda mais destaque, com a melhoria da eficiência logística até os portos. O fim da paridade entre o real e o dólar americano, em janeiro de 1999, também foi fundamental para o melhor desempenho das tradings nas exportações.

"A vocação agrícola do país e a vantagem competitiva ajudam na performance das tradings", completa Clayton Miranda, diretor da Coimex Trading Company. Em 2002, a Coimex ocupou o quinto lugar no ranking da Abece. No da Secex, ficou em 28ª. "Aumentamos nossa presença com a maior concentração de produtos agrícolas em nosso leque exportador", diz o executivo. Para o professor Fernando Homem de Melo, da Universidade de São Paulo (USP), a tendência é de que as tradings se consolidem como fortes exportadoras agrícolas. "Há uma expectativa de recuperação da economia internacional, reforçando a participação do agronegócio", afirma.

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