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Empresas ligadas ao agronegócio adiam investimentos


São Paulo - Com a queda dos preços das commodities e a valorização do real, as empresas ligadas ao agronegócio adiaram os investimentos. Frigoríficos e laticínios aguardam uma recuperação mais consistente das cotações internacionais para desengavetar os projetos.

A Cooperativa Central Oeste Catarinense Aurora paralisou a construção de duas plantas de abate de aves em Canoinhas (SC) e em Carazinho (RS). O investimento nas fábricas somava R$ 800 milhões. ""Ainda não temos cronograma para retomar"", disse o vice-presidente da Aurora, Neivor Canton.

Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne de Frango (Abef), Francisco Turra, a empresa está longe de ser um caso isolado. ""Tudo parou este ano."" Nos últimos oito anos, a produção de carne de frango cresceu, em média, 11% ao ano. Em 2009, produção e exportação devem ficar estáveis.

O setor de carnes é o que sofre com a valorização do real, porque os preços tiveram recuperação menos expressiva que os demais produtos agrícolas. ""Quanto mais nobre o alimento, mais sensível à queda de renda provocada pela crise "", explicou o diretor da consultoria MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros.

Ainda existe excesso de oferta no mercado, porque não houve ajuste de produção compatível com a queda de consumo, principalmente nos Estados Unidos. ""Começamos a forçar um pouco a venda no mercado interno, que tem sido mais previsível, mas ainda temos que disciplinar a oferta"", disse Canton.

Na carne bovina, o câmbio está provocando perda de competitividade do Brasil em relação aos principais concorrentes. O real forte levou o arroba do boi gordo brasileiro para US$ 43 em novembro - patamar parecido com os US$ 41,5 da Austrália, e superior aos US$ 25 da Argentina e aos US$ 34 do Uruguai, conforme levantamento da MB. O preço histórico da arroba do boi gordo brasileiro varia entre US$ 25 e US$ 30.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Carne Bovina (Abiec), Roberto Giannetti da Fonseca, os frigoríficos estão deslocando parte da exportação para o mercado interno, principalmente de cortes nobres, que são consumidos em países ricos, afetados pela crise. A movimentação derrubou os preços do filé mignon e da picanha no mercado brasileiro.

O laticínio mineiro Itambé também adiou a duplicação da fábrica de Uberlândia, que é voltada a produção de leite em pó para a exportação. ""Ainda está paralisado, mas podemos retomar o projeto no ano que vem, dependendo do nível do câmbio"", disse Jacques Gontijo, presidente da empresa.

A Itambé, que tinha interrompido os embarques para o exterior, prepara-se para retomar as exportações de leite em pó, por causa da recuperação do preço do produto no mercado internacional, que começou em setembro. ""Com o preço atual e o câmbio a R$ 1,7, já temos alguns negócios fechados, que devemos embarcar no fim do mês"", disse Gontijo. Ele afirmou que a exportação pode se tornar complicada se o dólar bater em R$ 1,60.

Conforme Mendonça de Barros, o impacto do câmbio na agricultura brasileira está variando bastante conforme o setor e a região do País. O açúcar é a grande exceção, porque graças à ""recuperação violenta"" dos preços, provocada por problemas climáticos na Índia, não percebe o efeito do real forte.

Os produtores de suco de laranja estão entre os mais prejudicados. A crise reduziu consumo de suco nos Estados Unidos e na Europa, os preços despencaram, e a citricultura brasileira teve seu pior ano da última década. O setor não tem a opção de desviar produto para o mercado interno, porque exporta 97% da produção. Nas últimas semanas, o preço começou a se recuperar. ""Agora a gritaria é com o câmbio"", disse o presidente da Associação Nacional de Exportadores de Sucos Cítricos (Citrus BR), Christian Lohbauer.

No setor de soja, os agricultores do Mato Grosso estão no zero a zero, enquanto os produtores paranaenses mantém lucro. O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Glauber Silveira, explica que a valorização do real tem impacto direto no custo do frete, que representa mais de 42% do preço da soja. (R.L.)

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