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Entrevista: Alexandre Velho, presidente da Federraroz

O arroz nosso de cada dia está com dificuldades. Produtores buscam alternativas e muitos migraram para a soja


Foto: Eliza Maliszewski

A cultura tem grande importância econômica no mundo, sendo cultivada e consumida em todos os continentes e com maior destaque na Ásia, África e América Latina. O arroz é alimento básico para cerca de 2,4 bilhões de pessoas.

De fácil adaptação a solos e climas, vai de várzeas às terras altas. No Brasil a maior fatia provém do irrigado. A Região Sul do Brasil é a que mais produz arroz. O Rio Grande do Sul responde por cerca de 70% desse total. Mas nem tudo vai bem. Aliás, pelo contrário. Entre 2009 e 2019 a lavoura de arroz encolheu a participação em 123 mil hectares de plantio no Estado, uma diminuição de área de plantio de 7% à 8%. Com este encolhimento, foram reduzidos 2,46 mil empregos. Fatores climáticos também causaram perdas mais acentuados na região da campanha e fronteira oeste, locais que representam 40% da área de cultivo no estado, refletindo em uma diminuição de 1,2 milhão de toneladas de produção de arroz este ano. A produtividade também foi menor como podemos ver no gráfico que compara a safra 17/18 e a 18/19:

Arte: Marcel Oliveira/ Portal Agrolink

Desmotivação faz migrar para a soja

Fatores como o alto custo de produção e preços mais baixos pagos aos orizicultores têm feito com que muitos migrem para a soja em áreas antes somente dedicadas ao arroz. Os maiores impactos são observados na Metade Sul do Rio Grande do Sul onde, em média, 140 municípios estejam amparados nos resultados da lavoura do grão. Já são 300 mil hectares de soja contra um milhão de arroz na região. Em termos de mão-de-obra enquanto o arroz exige um funcionário a cada 50 hectares, na soja é necessário um a cada 200 hectares. Empregando cerca de quatro vezes mais o arroz contribui para a arrecadação de ICMS do Estado, o que não tem sido suficiente para gerar incentivos para a cadeia.

E o cenário não é tão positivo para a safra 19/20. Um estudo Do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), do Centro de Estudos Avançados em Pesquisa Aplicada (Cepea) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta a tendência de altos custos de produção. A Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) divulgou uma nota oficial que, afirma que o produtor que colher a média de produtividade de 8 mil quilos por hectare ou menos estará realizando prejuízo e fatalmente perdendo patrimônio, principalmente arrendatários com contratos de elevado valor, sem armazenagem própria, custo financeiro elevado ou que entregam a produção na colheita a preços aviltados e sem segunda cultura.

A entidade recomenda a diminuição da área plantada para, no máximo, 900 mil hectares para próxima temporada. Caso isso não ocorra, há forte tendência de preços inferiores aos praticados atualmente, o que não remunera os produtores.

Alexandre velho acabou de assumir em julho a presidência da Federraroz e já recebeu uma notícia que pode animar um pouco. O recém assinado acordo do Mercosul com a União Européia pode melhorar o cenário de exportações do arroz. A expectativa de dirigentes e autoridades é de quadruplicar o volume, passando das atuais 150 mil toneladas para 600 mil toneladas.

Outra medida cobrada é a redução dos custos de energia elétrica para os produtores que usam muito maquinário e têm contas altas. Também está em pauta a atualização do arcabouço regulatório da navegação de cabotagem, que deve proporcionar a ampliação da infraestrutura para atender a demanda por transporte marítimo e, consequentemente um maior número de terminais e de empresas operando esse serviço levaria à redução dos custos de transporte.

O Portal Agrolink conversou com o presidente da Federraroz, Alexandre Velho. Confira:

Portal Agrolink: o que é prioridade na sua recém começada gestão?

Alexandre Velho: as prioridades para a próxima gestão são: aproximar a entidade da base do setor arrozeiro ( produtores); ter uma política agrícola mais eficiente para o arroz; melhorar o seguro atual da cultura; trabalhar a questão estrutural para diminuir o custo de produção atual e trazer renda para a atividade  e a busca de novos mercados ( exportação).

Portal Agrolink: qual o maior desafio hoje?

Alexandre Velho: o maior desafio seria de baixar o custo de produção atual que inviabiliza a maioria dos produtores. Estamos alertando o governo para o impacto social e econômico que a diminuição da área irá fatalmente ocasionar. Enquanto no arroz geramos um emprego para cada 50 hectares, na soja se gera um para cada 200 hectares. Uma diminuição do custo através de uma reforma tributária traria de volta o interesse do produtor em plantar .

Portal Agrolink: Qual o perfil do orizicultor gaúcho hoje?

Alexandre Velho: a situação atual de falta de renda na atividade está obrigando o produtor a buscar alternativas para sair da monocultura. O perfil está mudando no sentido de haver uma profissionalização maior e se pensar num sistema de produção integrado com a soja e a pecuária. A tecnologia é uma das ferramentas para se alcançar isto.

 

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