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Entrevista: Benício Werner, Presidente da Afubra

“Queremos que o nosso produtor de tabaco se sensibilize para diminuir a área plantada”, diz Afubra


Foto: Marcel Oliveira

A cadeia do tabaco é consolidada no Brasil e antiga. Antes mesmo dos portugueses chegaram ao país os indígenas já cultivavam as folhas em quase todas as tribos. A planta era considerada sagrada e utilizada em rituais religiosos para evocar deuses e para fins medicinais como cura de ferimentos, enxaquecas e dor de estômago. Entre os povos indígenas o tabaco era consumido como comida, bebida, mascado, aspirado e fumado. 

No Brasil colonial o cultivo passou a ter importância comercial, sendo um dos principais produtos exportados no período do Império.  Esta importância está marcada até os dias atuais no brasão das Armas da República, onde o tabaco e o ramo de café constituem o coroamento deste símbolo da nacionalidade brasileira.

Na foto café a esquerda e tabaco a direita - Imagem reitirada do site oficial da Presidência da República

De lá para os tempos de hoje a Região Sul se consolidou como a protagonista da produção nacional. O Rio Grande do Sul é o maior produtor, seguido de Santa Catarina e Paraná. Em sua maioria o tabaco é produzido na agricultura familiar, com mão-de-obra dos integrantes do grupo, em pequenas propriedades com média de 14 hectares e, por isso, tem uma importância socioeconômica notável. Apesar da pequena lavoura plantada, o cultivo representa 53,2% da renda dos agricultores, sendo complementada com culturas de subsistência como criação de animais, florestas e grãos.

O tabaco é produzido em folhas proveniente da espécie Nicotiana tabacum, L., submetidos à cura natural ou artificial, destinados à fabricação de cigarros, desfiados e outras finalidades. Divide-se em dois grupos: Tabaco de Galpão- onde o tabaco é curado naturalmente. As variedades mais comuns são Burley e Galpão Comum - e Tabaco de Estufa – onde o processo de secagem é feito em estufas com umidade e calor controlados, como a variedade Virgínia.

Desde 1993 o Brasil é o maior produtor mundial de tabaco mas perde em número de exportações para a China, ficando na segunda posição. Em 2018, o tabaco representou 0,8% do total das exportações brasileiras, com US$ 1,99 bilhão embarcados. O principal destino são países da União Europeia, Extremo Oriente, África e América do Norte. 

Veja no gráfico o desempenho do setor:
 

Arte: Marcel Oliveira - Portal Agrolink

Safra difícil

A safra 2018/2019 está praticamente encerrada. Restam poucas arrobas na região Centro-Sul do Rio Grande do Sul, que é a última a plantar. As reclamações mais fortes dos produtores foram em relação a preços praticados, atuação de atravessadores além de problemas como roubos de cargas, fator recorrente nas últimas safras. Só entre os meses de março e abril foram 12 roubos na região Centro-sul do Rio Grande do Sul. Quantos aos valores de reajuste da tabela a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), afirma que houve leve alta nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Já o Paraná sofreu com problemas climáticos e teve redução nos preços praticados, sendo o que teve o pior desempenho na safra. Confira os números:

Arte: Marcel Oliveira - Portal Agrolink

Algumas medidas também preocupam. Está na Câmara dos Deputados um projeto que proíbe qualquer forma de propaganda de tabaco, cigarros, cigarrilhas, charutos e cachimbos até mesmo nos locais de venda. Também fica proibida a importação e a comercialização de cigarro com sabor e transforma em infração de trânsito o ato de fumar em veículos quando houver passageiros menores de 18 anos. A aprovação do projeto que aumenta as restrições ao cigarro ocorre em um momento em que o atual governo estuda rever parte da política de controle do tabagismo no país. 

Já no Senado está outro projeto que aumenta impostos para o setor. Chamado de Cide-Tabaco, o novo imposto teria como objetivo reduzir o consumo de cigarros e auxiliar nos programas de tratamento de saúde financiados pelo governo federal com a criação de uma alíquota de contribuição de 2,5%, a ser aplicada sobre o valor da operação ou, no caso de importação.

O Portal Agrolink conversou, com exclusividade, com o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil, Benício Albano Werner, sobre o panorama da safra que está se encerrando, as dificuldades e as perspectivas para a próxima safra. Werner foi reeleito para a gestão 19/23.

Arte: Marcel Oliveira - Portal Agrolink

Portal Agrolink: qual o balanço da última safra?
Benício Werner:
no final de julho encerrou-se a comercialização da safra. Tivemos, de produção, 603 mil toneladas no Virgínia, 80 mil toneladas no Burley e 8 mil toneladas no Galpão Comum. O Rio Grande do Sul foi o que teve o melhor desempenho. Um reajuste de 5,2% nos preços, negociação que atingiu acima do que era esperado com as empresas fumageiras. Santa Catarina não teve um ano tão promissor. Se nós separarmos o Planalto Norte de Santa Catarina, que tem uma produção expressiva e de qualidade, neste ano teve problemas com clima e refletiu em prejuízo na qualidade do fumo. Nesta região a média ficou bem abaixo: R$ 9,01 Kg. O Paraná teve uma queda forte devido ao clima. Cerca de 30 dias após o plantio foi registrada chuva em excesso e havia previsão de mais chuvas mas houve uma inversão e veio a estiagem. Prevendo a chuva foi feita fertilização forte mas a chuva veio só no fim de dezembro. O fertilizante fez efeito muito tarde, na época do amadurecimento. Na pilha o nitrogênio começou a fazer o efeito e modificar a qualidade para pior. 

Portal Agrolink: quais as principais dificuldades enfrentadas na comercialização?
Benício Werner:
nós acompanhamos a comercialização e devemos avaliar os impactos após o final de safra. O nosso pessoal visitou 2450 produtores de Virgínia e 591 de Burley. Sempre tem estimativas feitas pelo produtor e orientador agrícola. Constatamos que onde a estimativa foi feita com técnica não houve problemas porque as empresas integradas compraram toda a safra. Alguns produtores plantam mais pés do que o informado e nós (entidades) estamos cobrando as empresas que elas comprem a integralidade porque o orientador sabe da situação e deveria informar as partes sobre o número correto. Assim também fica confortável para a empresa porque se há problema de clima e a produção fica baixa a empresa tem produto garantido. Agora em anos de muita produção a empresa não pode tirar seu corpo fora e só comprar a estimativa. Diante da expectativa de safar de 691 mil toneladas acreditamos que cerca de 3% não vai ser comprado. 

Portal Agrolink: todas as safras temos a atuação dos atravessadores, figura do comprador paralelo que negocia direto com o fumicultor e, geralmente, compra sem nota fiscal. Como a Afubra observa essa questão?
Benício Werner:
sempre tem os especuladores. Pra nós isso torna a situação intranquila. Esses atravessadores só aparecem quando a questão da comercialização está difícil, como neste final de safra. Eles aproveitam a dificuldade do produtor como se fossem salvadores da pátria. São aproveitadores. Aí o produtor, para se ver livre do resto do fumo no paiol, acaba vendendo. 

Portal Agrolink: em muitas propriedades é comum que o produtor tenha outras fontes de renda na diversificação. Como tem funcionado essa questão?
Benício Werner
: essa é uma realidade. Não uma interferência mas mercado porque o que temos acompanhado é que em 2006, por exemplo, nas pequenas propriedades a receita com tabaco era de 75% do total. Em 2018 esse total caiu para 53%. No último levantamento, de 2019, a receita total das propriedades produtoras de fumo foi de R$ 13.245 bilhões, sendo R$ 6.473 bilhões do tabaco ou 48,8%.  A parte animal foi de R$ 3,557 bilhões (26,8%) e a parte vegetal foi de R$ 3.214 bilhões (24,2%). A pequena propriedade está altamente diversificada. Lógico que temos questões pontuais. Essa diversificação compreende a produção de aves, suínos e leite e na parte vegetal a própria soja com preço interessante até mesmo para os pequenos produtores. Após a mesma área do fumo se utiliza para grãos como milho para alimentação animal e milho para silagem. Esse sistema segue a forma de sistema integrado como o do fumo porque o fumicultor está acostumado com a integração.

Portal Agrolink: muitos produtores já estão semeando, cuidando das mudas e outros até já têm fumo plantado. Qual a expectativa para a próxima safra?
Benício Werner:
nós, entidades, estamos fazendo um trabalho de sensibilização junto ao produtor. Em diversas reuniões regionais estamos levando informações. Em 2018 tivemos uma queda na produção mundial de tabaco de 0,5%. Em termos de consumo de cigarros o consumo caiu 1,8%. Estamos querendo que o nosso produtor se sensibilize para diminuir a área plantada para ter uma melhor oferta e, assim, facilitar a comercialização, obtendo média de preço melhor. 

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