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Entrevista: Éder Martins, pesquisador da Embrapa Cerrados

"Podemos afirmar que quanto mais intemperizado, mais desgastado, for um solo, maior será a resposta aos agrominerais silicáticos"


O Brasil é um dos grandes importadores de fertilizantes o que impacta nos custos de produção. O chamado pó de rocha é uma mistura de minerais naturais e vem sendo demandado na agricultura com bons resultados além de ser uma prática sustentável.

Confira a entrevista com o pesquisador da Embrapa Cerrados, Éder Martins, que ajuda a entender como é esse processo e seus benefícios no campo:

Portal Agrolink: Como a rochagem vem sendo utilizada na agricultura?

Éder Martins: Antes de mais nada, a rochagem é definida como o uso de rochas in natura, que passaram apenas pela diminuição do tamanho de partículas, no manejo da fertilidade do solo. Ou seja, o uso do calcário agrícola, do fosfato natural e do gesso agrícola são formas de rochagem. Mais recentemente estamos utilizando também rochas silicáticas no processo de rochagem. As rochas silicáticas úteis na agricultura são ricas em minerais com cálcio, magnésio e/ou potássio. Os principais benefícios da rochagem a partir de rochas silicáticas é a remineralização de solos, onde ocorre a disponibilização de nutrientes e a formação de novas fases minerais estáveis e de elevada superfície específica e capacidade de troca de cátions (CTC). A formação dessas novas fases minerais são derivadas da indução de maior formação de raízes e da maior atividade dos micro-organismos da rizosfera. Esse processo permite uma maior resiliência dos cultivos em relação a estresses hídricos e bióticos.

Portal Agrolink: O uso de pó de rocha na agricultura é recente?

Éder Martins: O uso de pós de rochas derivadas de calcários, fosfatos e gessos são muito antigos e aplicados corriqueiramente na agricultura. A novidade está no uso de pós de rochas silicáticas.

Portal Agrolink: O que são os agrominerais e como são usados na agricultura?

Éder Martins: Os agrominerais são todos os insumos derivados de rochas que são utilizados na agricultura para realizar o manejo da fertilidade do solo. Na realidade todos os insumos minerais são derivados de rochas. O nitrogênio é o único nutriente que é proveniente em quase a sua totalidade da atmosfera, apesar de ocorrer algumas rochas raras formadas por nitrato. Os agrominerais podem ser utilizados in natura (rochagem) ou a partir de processos químicos (fontes solúveis), térmicos (termofertilizantes) ou biológicos (biofertilizantes). Os agrominerais silicáticos são insumos cuja composição é formada por pelo menos 50% em massa de silicatos.

Portal Agrolink: Existe um tipo específico de rocha silicática para isso?

Éder Martins: Várias rochas silicáticas apresentam potencial para uso como agromineral.  O marco legal dos remineralizadores de solo define os remineralizadores de solos do ponto de vista químico, mineralógico e físico. A primeira característica é apresentar uma elevada soma de bases. Precisa apresentar limites em relação aos teores de minerais inertes e de metais potencialmente tóxicos. Estão nessa definição determinadas rochas básicas e ultramáficas, determinadas rochas metamórficas e rochas sedimentares.

Portal Agrolink: Tem algum tipo de análise que identifica se a rocha silicática é eficiente para o processo?

Éder Martins: Por enquanto, os métodos de caracterização são geoquímicos e mineralógicos, comuns à geologia. Vários esforços estão sendo realizados para definir métodos adequados e acessíveis para os laboratórios de caracterização de insumos minerais. O mais importante é a necessidade de estudos de caracterização agronômica das rochas silicáticas para sua indicação como remineralizador de solos ou como fertilizante.

Portal Agrolink: Tem alguma cultura que funciona melhor com uso de pó de rocha?

Éder Martins: Os estudos existentes mostram que todas as culturas agrícolas selecionadas pela humanidade apresentam centros de origem sobre solos com minerais primários formados por rochas silicáticas ricas em bases, associados a depósitos glaciais, vulcânicos ou fluviais. Mas podem ocorrer algumas especificidades que a pesquisa ainda precisa estudar, para definir quais culturas são mais responsivas a determinadas rochas. Os estudos práticos mostram que as gramíneas apresentam uma grande resposta ao manejo com os pós de rochas silicáticas.

Portal Agrolink: Tem algum mais indicado para determinados tipos de cultura, clima e solo?

Éder Martins: Podemos afirmar que quanto mais intemperizado, mais desgastado, for um solo, maior será a resposta aos agrominerais silicáticos. Ou seja, os latossolos e os solos arenosos apresentam naturalmente um maior potencial de resposta ao uso desses insumos. As condições tropicais aumentam a eficiência de uso desses agrominerais silicáticos, quando comparada às condições de clima temperado. Por outro lado, a eficiência de uso desses agrominerais depende da elevada atividade biológica do solo. Se o solo não tiver elevada atividade biológica, esses agrominerais silicáticos podem não apresentar resposta agronômica. Dessa forma, sistemas com plantio direto, uso de plantas de cobertura e de insumos biológicos no manejo de pragas e doenças estimulam o sistema a responder de forma mais eficiente aos agrominerais silicáticos. Devemos enfatizar que esse tipo de insumo é regional, sendo viável economicamente numa distância geralmente menor que 300 km. Raramente apresenta potencial de uso maior que 500 km. Uma vez que a aplicação é da ordem de toneladas por hectare, o custo logístico limita o seu uso na mesma região que é produzido.

Portal Agrolink: Pode ser combinado com os químicos? O que é o ideal de aplicação?

Éder Martins: Alguns agrominerais silicáticos podem substituir algumas fontes de nutrientes. Existem agrominerais silicáticos que são fontes de potássio, enquanto outros de cálcio e magnésio, além de diversos micronutrientes e elementos benéficos. Mas esses agrominerais silicáticos aumentam a eficiência de uso de nutrientes. Por exemplo, rochas ricas em bases aumentam a eficiência de uso de fósforo.

A aplicação pode ser realizada com fontes solúveis em água, de preferência com fontes de baixa acidez. Ainda não existe recomendação de uso dos agrominerais silicáticos. No entanto, a recomendação inicial pode ser realizada em função de um nutriente que é mais eficiente, ou na expectativa de aumento da eficiência de uso de nutrientes que estão no solo. Na prática o agricultor aplica uma dosagem elevada na primeira vez, entre 3 e 8 toneladas por hectare, e a reposição iniciará após três ou cinco anos.

Portal Agrolink: Que impactos os pós de rochas silicáticas traz ao solo no sentido positivo?

Éder Martins: Os agrominerais silicáticos aumenta o sequestro de carbono inorgânico e orgânico no solo, ao mesmo tempo que forma novas fases minerais estáveis com elevada superfície específica e CTC, aumentando o potencial de reservatórios de nutrientes do solo e a sua eficiência de uso da água. Dependendo do tipo de agromineral aplicado, as fases secundárias apresentam maior massa que os minerais primários, em função das formas hidratadas, o que incrementa a formação de solo por essa prática, de um a dois milímetros de solo por ano.


Portal Agrolink: Um solo completamente degradado pode ser recuperado com pós de rochas silicáticas? Em que tempo e com que eficiência? Ou o solo precisa ter condições biológicas boas?

Éder Martins: Os solos precisam apresentar condições biológicas boas para o uso eficiente de agrominerais silicáticos. A recuperação de solos degradados pode ser realizada com plantas de cobertura eficientes junto com esses agrominerais silicáticos e outros insumos.

Portal Agrolink: Como estão as pesquisas nesse segmento?

Éder Martins: A utilização de agrominerais silicáticos aumentou consideravelmente após o marco legal dos remineralizadores de solos e pela demanda dos agricultores na busca de um manejo da fertilidade com menor custo e mais eficiente. A pesquisa ainda não apresentou estudos de longo prazo para definir recomendações de uso para as diversas condições de produção agropecuária. No entanto, a pesquisa está cada vez mais sendo desenvolvida nas universidades, Embrapa e instituições. Precisamos do desenvolvimento de redes de pesquisa para a avaliação desses agrominerais silicáticos e suas interações com outras fontes e culturas. O agricultor está na frente com a adoção desses insumos na prática e precisamos dar suporte com resultados de pesquisa sistemáticos. Sabemos de alguns processos de funcionamento desses agrominerais silicáticos, mas a pesquisa ainda está devendo estudos sistemáticos e de longo prazo para as recomendações de uso.

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