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Escalada da soja afeta o leite


A escalada da cotação da soja não vai levar apenas a uma queda da produção de milho no Rio Grande do Sul, com a oleaginosa ganhando parte da área antes destinada ao plantio do cereal. A perspectiva de uma boa remuneração com a soja também está levando produtores de algumas regiões do Estado a diminuírem a produção de leite, que também necessita de área para a formação de pastagens voltadas à alimentação dos animais. Com isso, alguns produtores estariam até se desfazendo de parte dos plantéis. Aliado ao elevado preço da soja, também estariam contribuindo para a queda da produção de leite fatores climáticos e um desestímulo à atividade em função dos baixos preços pagos aos criadores ano passado. Com a queda da oferta, porém, os valores pagos ao produtor alcançaram uma valorização de 35% no acumulado do ano, segundo o diretor de Planejamento e Política Leiteira da Elegê, Ernesto Krug. Conforme a Associação de Produtores de Leite B do Vale do Taquari, a cotação do produto, fixado em R$ 0,42 o litro em outubro, estava em R$ 0,36 no mesmo período do ano passado. Para a entidade, apesar de o período ser de safra, a situação mais se parece com a entressafra.

Um exemplo de diminuição da produção de leite para destinar uma área maior à soja ocorre na região do Planalto Médio, apesar de ainda não ser possível traduzir o cenário em números. ´Alguns estão até abandonando a atividade e outros estão diminuindo os plantéis´, conta o veterinário José Paulo Corazza, gerente da área de Produção Animal da Cooperativa Tritícola Tapejarense Ltda (Cotrisoja), de Tapera. ´Estamos recebendo hoje cerca de 70 mil litros de leite por dia, 10% a menos do que na mesma época do ano passado´, diz Corazza, lembrando que a pecuária leiteira cresceu na região justamente para compensar as seguidas quebras de safra em virtude das estiagens, o que não deve ocorrer este ano. ´Mas temos advertido o produtor de que esta situação (a valorização da soja) daqui a uns dois anos se inverte´, ressalta.

Para Augusto Moroni, gerente da área de Leite da Cooperativa Tritícola Santa Rosa Ltda (Cotrirosa), de Santa Rosa, no Noroeste gaúcho, uma das principais regiões produtores de soja no Estado, a situação pode se agravar se os preços de dezembro e janeiro pagos ao produtor não reagirem ainda mais. De acordo com Moroni, entretanto, a oferta de leite para a cooperativa caiu apenas 5%.

O diretor de Planejamento e Política Leiteira da Elegê revela que, em todo o Estado, a empresa está recebendo hoje dois milhões de litros por dia, volume 7% inferior ao mesmo período de 2001. Na unidade de Santa Rosa, entretanto, o percentual sobe para 12,2%. Krug, que considera o atual valor da soja artificial, entende que, somada à valorização da oleaginosa, outros fatores também estão levando a uma redução na oferta e aumento do preço do leite. O executivo não acredita que os pecuaristas estejam simplesmente se livrando dos plantéis, mas apenas descartando os animais de menor potencial produtivo. A redução da oferta, diz, também estaria atrelada a fatores climáticos (seca no início de ano, geadas em setembro e agora excesso de chuvas) que acabaram prejudicando as pastagens de inverno e verão.

´Sempre que em um ano a situação do leite é ruim e no ano seguinte há valorização da soja, acontece isso´, afirma o veterinário Carlos Alberto Teixeira, membro do Conselho Técnico da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), revelando ter recebido do Interior relatos de produtores que estão diminuindo os seus plantéis. Teixeira observa ainda que regiões como o Noroeste e o Planalto Médio são tradicionalmente voltadas para a agricultura, aderiram à pecuária leiteira em virtude de uma remuneração garantida durante o ano todo, mas, ao sentirem a possibilidade de ter um bom rendimento nas lavouras, estão agora dando prioridade à atividade de origem. ´Existe um risco grande em fazer isso. O ideal seria manter o equilíbrio´, diz.

Caio Cigana - Porto Alegre/RS

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