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Esforço dos EUA não deve recuperar os estoques

O caso mais preocupante é o do milho


Mercado avalia que o país não tem potencial suficiente para manter exportações e ampliar reservas ao mesmo tempo

“Há quem sugira que nós deveríamos tirar o pé do acelerador e reduzir as exportações para reconstruir estoques. Mas nós não vamos fazer isso, pois os Estados Unidos podem fazer tudo – exportar mais e abastecer o mercado interno sem enfrentar dificuldades de abastecimento.” A declaração foi dada no final de fevereiro pelo secretário de Agricultura do país, Tom Vilsack, em Arlington, Virgínia, durante o Agricultural Outlook Forum. Na ocasião, Vilsack anunciava estimativa de aumento de 1,8 milhão de hectares na área de grãos nos EUA.


Um mês depois, o primeiro relatório oficial de intenção de plantio do governo norte-americano mostra incremento 500 mil hectares menor que a previsão do secretário. Após ouvir 85 mil agricultores, o USDA sentenciou: os EUA irão semear na temporada 2011/12 a sua segunda maior área de milho desde a Segunda Guerra Mundial e a terceira maior área de soja da história. Serão 37,3 milhões de hectares para o cereal e 31 milhões para a oleaginosa.

A intenção de plantio não cresceu o suficiente para esfriar as cotações internacionais. Pelo contrário. O relatório alimentou os temores de desabastecimento no mercado de grãos. Em boa medida, o crescimento do cultivo foi confirmado, mas os investidores focaram nos números dos estoques nacionais.

O relatório mostrou ao mercado que, diferente do que havia declarado Vilsack, os EUA não podem fazer tudo. As exportações e o consumo interno do país de fato crescem a ritmo galopante. Mas isso ocorre às custas dos estoques, que mínguam a cada safra. “A questão não é o que se planta, mas o que se colhe e quanto se exporta. E os dados do USDA mostraram que a demanda é firme e que mesmo uma safra recorde nos EUA não será suficiente para recompor estoques a níveis confortáveis”, considera Steve Cachia, analista da Cerealpar, de Curitiba. “Nós não vamos ficar sem milho e soja, mas estamos em uma situação muito apertada”, reconheceu Joe Glauber, economista chefe do USDA, em entrevista à Reuters após a divulgação do relatório.

O caso mais preocupante é o do milho, cujas reservas norte-americanas são as menores dos últimos 15 anos, suficientes para 18 dias de consumo. “Para que os estoques voltassem a níveis minimamente confortáveis, precisaríamos de 1,3 milhão de hectares a mais do que o USDA projeta e produtividade recorde, o que é impossível”, avalia Darin Newsom, analista da Telvent DTN.


Além do consumo aquecido, a dificuldade para recompor reservas se dá porque a produtividade deve deixar a desejar. Boa parte do incremento de área projetado para 2011/12 ocorre fora do Corn Belt, o coração da produção de grãos dos EUA, onde estão os solos mais produtivos do país. Em 2007, quando o milho ocupou quase 40 milhões de hectares, colheu-se 9 mil quilos por hectare – 1 mil a menos que em anos como 2010.

A mesma lógica vale para a soja, que tem estoques para apenas 15 dias de consumo. A oleaginosa perde espaço no Corn Belt e recupera na porção norte dos EUA, onde ganha terreno como opção de segunda safra, e no Delta, mais ao sul. Os solos mais pobres dessas regiões tendem a derrubar o rendimento médio da soja, que nos últimas safras ficou próximo de 3 mil quilos por hectare.

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