Estelionatários aplicam o "golpe do trator" no oeste catarinense
Nos últimos anos os produtores rurais se tornaram alvo de estelionatários
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Quando viu o anúncio da revendedora Só Tratores Bonfim na televisão, o agricultor Adilson Tema, de Campo Alegre (SC), já começou a sonhar. A venda do trator era facilitada e o preço, 44% menor que o cobrado nas concessionárias locais. "Assim como muita gente sonha em comprar o primeiro carro, eu sonhava em adquirir o primeiro trator. Juntei dinheiro durante 13 anos para atingir o meu objetivo. Mas tudo isso se tornou um grande pesadelo", diz Tema.
O Valmet 78, que Tema comprou pelo telefone, nunca foi entregue. Os telefones da Só Tratores Bonfim, de Recife, não funcionam mais. E os R$ 14 mil que ele depositou na conta da revendedora viraram objeto de boletim de ocorrência em delegacia de São Bento do Sul (SC).
Nos últimos anos, com o bom momento da agricultura, os produtores rurais se tornaram alvo de estelionatários. Estima-se que somente a Só Tratores Bonfim e outra estelionatária, a Autopan Brasil, de Salvador, tenham lesado 15 pequenos produtores rurais do oeste catarinense.
"Os golpistas sabem que o pequeno agricultor não tem estrutura para verificar a idoneidade de uma empresa, por isso eles são vítimas ideais", diz Jaison Vieira, gerente de negócio de pessoa jurídica da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). A entidade tem sistema de detecção de fraudadores.
Vieira diz que a ACSP não dispõe de dados específicos sobre golpes no campo, mas o fato é que eles se tornaram cada vez mais rumorosos, envolvendo cifras vultosas como a desembolsada pelo agricultor Tema.
No ano passado, a ACSP identificou 483 empresas golpistas em todo o País, que teriam lesado a economia em até R$ 200 milhões. "Somente no primeiro semestre, o número de empresas fraudadoras vai superar o de todo o ano passado", diz.
Os golpistas podem montar empresas de fachada ou comprar ou clonar o CNPJ de empresas inativas com cadastro antigo e limpo. Outra possibilidade é o de uma companhia que atuava idoneamente no mercado decidir pelo caminho do estelionato. Neste último caso, uma alteração de comportamento - como o de uma empresa de alimentos que repentinamente compra grandes quantidades de pneus - pode ser indício de problemas.
No ano passado, a ACSP analisou 3.173 empresas com comportamento suspeito; 15,2% delas estavam comprovadamente lesando o mercado.
No caso do agricultor Adilson Tema, a Só Tratores Bonfim obteve a inscrição estadual no final do ano passado e aplicou o golpe no agricultor em fevereiro deste ano. A empresa se valeu de anúncios veiculados no Canal Rural, do Grupo RBS, e no Canal Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde. Contactada, a Fiocruz não retornou os contatos. Já o Canal Rural informou que também foi vítima do golpe: os anúncios foram veiculados, mas não foram pagos.
"Eles diziam que eram uma empresa séria o suficiente para estarem na televisão. Acreditei e cheguei a pegar R$ 4 mil emprestados com um irmão para pagá-los. Agora, fiquei sem o trator e com os preços baixos do milho, nem sei como farei para pagar a dívida", diz Tema.