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Estoque irá a 27 milhões de sacas e já ameaça os preços

Diferença entre os estoques mundiais de café dos países importadores e exportadores já soma 10 milhões de sacas


CAMAÇARI - A diferença entre os estoques mundiais de café dos países importadores e exportadores já soma 10 milhões de sacas com vantagem para os compradores. Na última safra global, os estoques dos países produtores do grão recuaram de 25,3 milhões de sacas para 17,3 milhões, em contrapartida, o grupo dos importadores iniciará a temporada 2009/2010 com estoques de 27 milhões de sacas. Para a Organização Internacional do Café (OIC), essa situação pode ser usada como uma manobra sobre preços em 2010.

Os países que hoje detêm os maiores estoques são também os principais compradores do café brasileiro: Estados Unidos, Japão e membros da União Europeia. "Até o final do ano, os estoques dos países produtores podem cair de 2 a 3 milhões, recuando para algo próximo a 15 milhões de sacas", afirmou Néstor Osorio, diretor executivo da OIC, durante a 17ª edição do Encontro Nacional da Indústria do Café (Encafé).

Do lado dos produtores, os fatores que motivaram a intensificação no volume exportado não estão ligados a uma melhor remuneração, ao contrário, os responsáveis pela migração dos estoques foram a necessidade de gerar liquidez, o aumento dos custos de produção e a falta de crédito no mercado.

Apesar de o mercado já ter assimilado o aumento nos estoques dos países compradores, com as previsões feitas pelo diretor da OIC é possível deduzir que os estoques de passagem da safra 2009/2010 de café serão próximos a 42 milhões de toneladas, o que deverá inibir altas expressivas dos preços mundiais da commodity no próximo ano. "Os preços vão se sustentar nos patamares atuais da Bolsa de Nova York, entre US$ 125 e US$ 135 a saca, com picos de US$ 140", diz Osorio. Para o diretor da OIC, apesar da perspectiva de preços estáveis, o mercado deve reagir à entrada da safra colombiana e da América Central. A Colômbia, principal concorrente do Brasil no mercado mundial de café, teve uma quebra de 3 milhões de sacas na última safra, enquanto a América Central registrou perdas de 1,5 milhão de toneladas.

A relação entre estoque e demanda na safra 2009/2010 também deve ser equilibrada. Dados da OIC, ainda não consolidados, apontam para uma produção global que deve variar entre 123 milhões e 125 milhões de sacas enquanto o consumo deve ser de 131 milhões a 132 milhões de sacas. Na safra passada, a produção foi de 128 milhões de sacas e o consumo de 130 milhões.

Tendência

A crise financeira mundial acelerou um processo de polarização no consumo mundial de café. De um lado a expansão na fabricação e comercialização de cafés especiais como estratégia de mercado e de outro o aumento na procura por produtos mais baratos, levando a um crescimento expressivo na aquisição da variedade robusta para a composição dos blends. No início da década, a mistura tinha 30% de robusta e 70% de arábica. Hoje, os volumes estão em 40% de robusta e 60% de arábica. "Há um ganho de participação de mercado com base em preços baixos", disse Osorio.

Além do custo menor, a incerteza quanto ao volume disponível, especialmente da última safra, fez com alguns países, principalmente Alemanha e Espanha, substituíssem as importações de arábica da Colômbia por robusta do Vietnã, que entrou no mercado de forma agressiva, segundo Osorio. "O Vietnã está mudando a composição da mistura em muitos países", disse, acrescentando que os países que estão optando por esse blend estão mesclando preços e não qualidade.

Osorio ressalta que, em contrapartida à busca por redução de custos, está aumentando a proporção de cafés especiais no mercado. Esse nicho de mercado está sendo a saída encontrada pela indústria para conseguir agregar valor e melhores margens.

A indústria também está reinventando sua relação com o varejo. A tendência de concentração pela qual passa o agronegócio atingiu as empresas de café que agora estão conseguindo negociar melhores preços junto ao setor varejista. Segundo Nelson Barrizzelli, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, as cinco maiores redes de supermercado concentram 25,2% do faturamento do setor que movimenta R$ 274 bilhões ao ano.

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