Estudo traz comparativo das práticas agrícolas de Brasil e Austrália
Os sistemas de produção dos fornecedores de cana-de-açúcar da Austrália e Brasil mostram diferenças significativas nos métodos de manejo dos canaviais
Na prática, o estágio profissionalizante de Ariane foi realizado na cidade de Proserpine, na região central do estado de Queensland, principal estado produtor de cana-de-açúcar da Austrália, responsável por aproximadamente 95% da produção do país. Entre os meses de março e junho de 2010, ainda aluna do curso de Engenharia Agronômica da ESALQ, Ariane foi recepcionada produtores locais e, durante a permanência na Austrália, visitou produtores de cana-de-açúcar.
Durante as visitas, a pesquisadora descreveu as operações na produção de cana-de-açúcar e seus principais indicadores técnicos e econômicos. “No total foram realizadas quatro visitas a fazendas em Proserpine sendo que todas as diferentes práticas agrícolas e maquinários utilizados por fornecedores de cana-de-açúcar australianos foram descritos e comparados com as práticas e maquinários de fornecedores brasileiros”, aponta a pesquisadora.
Fronteiras agrícolas - Os sistemas de produção dos fornecedores de cana-de-açúcar da Austrália e Brasil mostraram diferenças significativas nos métodos de manejo dos canaviais, em razão, sobretudo, das diferenças climáticas entre os países. A Austrália, com território formado por diversas áreas impróprias para o cultivo de qualquer cultura, concentra toda sua produção de cana-de-açúcar na costa leste do país (litoral), e não possui novas áreas aptas para a expansão da produção de cana-de-açúcar. A existência de extremos pluviométricos durante o ano também prejudica a produção agrícola (toda chuva concentrada nos meses de verão e estação seca durante o restante do ano), tornando fundamental a utilização de sistemas de irrigação e drenagem dos canaviais. O Brasil, se comparado fisicamente com a Austrália, possui características excelentes para a produção de cana-de-açúcar, já que as necessidades da planta na maioria dos casos podem ser suprimidas sem intervenções humanas. Além disso, o país conta com grande fronteira agrícola para a expansão da cultura. “O período de safra australiano inicia-se na segunda quinzena de junho e alonga-se até o final de outubro, sendo, portanto, reduzido em relação à safra brasileira que no estado de São Paulo se estende de abril a novembro”, comenta a autora do trabalho.
Mecanização e produtividade - Outro fato marcante destacado sobre o sistema de produção canavieiro australiano foi a alta mecanização da produção de cana-de-açúcar quando comparada com as práticas dos fornecedores brasileiros. “Todas as etapas de plantio, manejo e colheita da matéria-prima são feitas mecanicamente. Isso se dá principalmente pela escassez de mão-de-obra no país e seu conseqüente alto custo de contratação. O alto custo de mão-de-obra na Austrália incentiva a ocorrência de funcionários fixos especializados responsáveis tanto por pelas operações produtivas como pelo gerenciamento e administração da propriedade”, aponta Ariane. Destaca-se no estudo a maior produtividade, assim como maiores preços e taxas de utilização de fertilizantes e defensivos na Austrália. “Os insumos utilizados no manejo da produção são análogos aos utilizados nos canaviais brasileiros, diferindo apenas quanto aos momentos e taxas de aplicação em conseqüência da diferença entre os tipos de solo e comportamento da água no sistema agrícola”. Na Austrália observou-se que operações mecanizadas envolvem o uso de tratores e implementos maiores e mais eficientes que os tipicamente utilizados no Brasil. As práticas no transporte de cana-de-açúcar também são bastante diferentes nos dois países. Além disso, na Austrália, em geral, a usina é responsável por todos os gastos de transporte da matéria-prima do campo a indústria. Além disso, é comum o uso do transporte ferroviário da cana até a unidade processadora. “O transporte por caminhão, no estado de Queensland, é pouco intensivo e atua no apoio ao transporte ferroviário. Dessa forma, os caminhões usados na Austrália são comparativamente menores e mais ágeis que os utilizados no Brasil, onde não existe o uso de transporte ferroviário de cana-de-açúcar e caminhões – contratados pelas usinas e pagos pelos fornecedores – são utilizados para transporte de cana em distância média de 25 km”, explica.
Desafios - De acordo com a pesquisa, a realidade dos fornecedores australianos é caracterizada por extremos climáticos e carência de mão-de-obra. “O desenvolvimento da produção de cana na Austrália está fundamentado nas competências locais para o desenvolvimento de pesquisa e tecnologia”. Para o Brasil, continua Ariane, “o desafio dos fornecedores é seguir os bons exemplos australianos na mecanização das atividades agrícolas, técnicas de gerenciamento e pesquisa de forma a aumentar a produtividade, reduzir custos e vencer os desafios na contratação e treinamento de novos trabalhadores e preservação do meio-ambiente”. Com relação aos resultados econômicos, o trabalho destacou similaridade no nível de competitividade da produção de cana-de-açúcar por fornecedores de Proserpine e Piracicaba. “Entretanto, em Proserpine os produtores contam com benefício de não arcar com o transporte da matéria-prima”, conclui Ariane.
As informações são da USP ESALQ.