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Evento voltado ao setor de erva-mate discute o sistema de produção

Realizado pela Embrapa Florestas, em 23/10, o primeiro painel da série de eventos on-line “Erva-mate XXI: Inovação e Tecnologias para o Setor Ervateiro”


Foto: Marcel Oliveira

Realizado pela Embrapa Florestas, em 23/10, o primeiro painel da série de eventos on-line “Erva-mate XXI: Inovação e Tecnologias para o Setor Ervateiro” discutiu pesquisa e inovação para o sistema de produção.

Na abertura, a pesquisadora da Embrapa Florestas Susete Chiarello Penteado, coordenadora do Comitê Científico do evento, destacou que os objetivos dessa série de painéis são trazer os resultados mais recentes vindos da pesquisa, discutir assuntos que precisam ser desenvolvidos, além de apresentar iniciativas de instituições que têm colaborado com toda a cadeia produtiva.

O Coordenador Estadual de Cultivos Florestais do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), Amauri Ferreira Pinto, lembrou que, há menos de dez anos, a maioria dos produtores paranaenses não se interessava em plantar erva-mate devido aos baixos preços de venda e ao alto custo da mão-de-obra. Os incentivos governamentais de ajuste de preço e os trabalhos em conjunto da pesquisa com a extensão rural propiciaram grande melhorias na produção e no setor, que engloba mais de 92 indústrias ervateiras só no Paraná. “Os trabalhos com erva-mate saem de dentro da porteira e começam a envolver o pessoal da indústria, a rede de insumos e os consumidores e a gente vem tentando organizar essa cadeia para que a erva-mate continue sendo o maior produto não-madeireiro da cadeia florestal do Paraná, em termos de renda para o produtor e em termos de Valor Bruto da Produção (VBP) do estado”, disse Amauri Ferreira Pinto. 

Em sua fala de abertura, o Chefe Geral da Embrapa Florestas, Erich Schaitza, destacou que o cultivo da erva-mate e da araucária promovem um papel de conservação e aumento da área de cobertura florestal. “Em relação à qualidade das florestas, a erva-mate, a araucária e outras espécies têm um papel muito importante para que nós, lá na frente, não digamos, que temos 2 ou 3% de florestas em bom estado de conservação, mas, sim, que tenhamos 15 a 20% de florestas em bom estado de conservação, além de cadeias produtivas com erva-mate, araucária e outras espécies, e com produtos dos mais diversos usos”.

Schaitza também foi palestrante e destacou os mais de 600 trabalhos publicados pela Embrapa relacionados ao tema. “Temos resultados nos mais diversos temas: nutrição, cultura de tecidos, propriedades dos chás, uso do solo, propriedades químicas. Tais trabalhos ganham mais importância quando trazidos para o sistema de produção e consolidados em produtos que permitem que as pessoas acessem este conhecimento sobre erva-mate de forma simples e fácil”, explicou. 

Schaitza citou ainda os aplicativos gerados pela Embrapa Florestas para auxiliar no manejo e na produção, como o Manejo Matte - que trata sobre como melhorar o manejo e avalia a evolução do erval; Ferti Matte – com indicações sobre quanto adubar e como aplicar; e o Planin Matte  - para auxiliar nos cálculos de custo de produção, retorno econômico e comparação com outras atividades.

Para encerrar, Schaitza citou uma visão de futuro para o setor, ao focar na produção de erva-mate para fins específicos diferentes dos atuais. “Assim como já se fala em produção de madeira visando à quantidade de energia como produto final, espera-se que com erva-mate, daqui a um tempo, as pessoas também falem: ‘plantei meu erval para produzir dois quilogramas de teobromina por hectare, ou X toneladas de biomassa seca’. Ou seja, começar a pensar o sistema de produção também em função de produtos finais. Mas isso só acontece à medida que as cadeias forem se estabelecendo”, afirmou.

Neste sentido, a pesquisadora Edina Moresco, que atuou como moderadora do evento, comentou sobre patentes de erva-mate depositadas, que envolvem os compostos presentes na planta e seus mais diferentes usos. ”Desde 2015, o número é de mais de 100 patentes por ano ligadas à erva-mate de alguma forma. Os estudos da Embrapa que vêm sendo realizados com esta espécie estão muito antenados com a inovação que já existe para o uso da erva-mate e seus compostos, em cosméticos e na saúde, no combate a doenças crônicas, como diabetes, obesidade, pressão alta e redução do colesterol”, apontou Moresco.

Erva-mate sombreada

Dando sequência às palestras, o pesquisador da Embrapa André Biscaia abordou o tema “Erva-mate sombreada: tecnologias e desafios”. “O foco não é restrito à erva-mate unicamente, mas sim na manutenção de um ambiente florestal biodiverso. É uma floresta, o que incorre em alta diversidade de espécies”, afirmou o pesquisador. 

Biscaia abordou os diversos aspectos e oportunidades referentes a este sistema de produção, que é baseado no manejo florestal. Segundo ele, a erva-mate sombreada gera um produto de melhor qualidade e com maior valor de venda.  Outro diferencial é a adubação. “Os nutrientes de que a erva-mate precisa são providos pela floresta, pelas outras espécies, pela ciclagem natural”, explicou. Dentre as vantagens dos modelos de restauração produtiva com erva-mate, o pesquisador destacou o aproveitamento das práticas tradicionais, de rápida e fácil implementação e a lucratividade.

Biscaia destacou o trabalho que vem sendo desenvolvido na Estação Experimental da Embrapa Florestas em Caçador/SC. O local é a primeira e única área de pesquisa focada em produção de erva-mate com sombreamento de florestas. Ela possui 22 hectares de florestas secundárias, nos quais a erva-mate faz parte dos sistemas de produção, e 15 hectares de restauração florestal, que alia produção e restauração e tem a erva-mate como carro chefe. Além da Estação Experimental, a pesquisa com erva-mate sombreada também acontece em uma extensa rede de propriedades rurais, típicas da agricultura familiar em 15 municípios do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Poda

O assunto “Poda” é um dos temas mais requisitados pelo público ervateiro, de acordo com o relatório do Serviço de Atendimento ao Cidadão da Embrapa (SAC). Para abordar o tema, Delmar Santin, da Cambona Consultoria falou sobre “Poda seletiva: aspectos técnicos e aplicaçoes”. A poda seletiva é recomendada para ervais com alta tecnologia e médio a baixo nível de sombra.

Segundo o consultor, o maior desafio dos plantios de erva-mate é colher integralmente o que a planta produz: “Hoje não se tem um manejo de poda e colheita que consigamos colher e aproveitar 100% do que a planta produz. Perde-se de seis a oito toneladas por hectare. Ou seja, o manejo de poda e colheita não é o mais adequado”, afirmou. 

Dentre as vantagens da poda seletiva, segundo Santin, estão o melhor aproveitamento do que a planta produz e  a manutenção de uma quantidade significativa de folhas, protegendo as plantas contra geadas e favorecendo a brotação pós-poda, além de  uma renda extra de até R$ 6 mil reais líquidos, nos dias atuais, por hectare. “É um valor significativo que o produtor, às vezes, deixa de ganhar porque não aplica as técnicas adequadas de manejo e colheita”.

Ampola-da-erva-mate

Para encerrar o primeiro painel do evento, o professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Luis Alves, falou sobre os avanços no controle biorracional da ampola-da-erva-mate, inseto sugador que se alimenta da seiva e compromete o desenvolvimento da planta, causando queda precoce de folhas, e afeta a qualidade do produto final. 

Alves destacou que não há muitos trabalhos sobre a ampola e as informações de táticas de controle ou prevenção disponíveis visam, principalmente, evitar que o inseto  atinja o status de praga. Essas medidas envolvem o trato cultural e o controle físico com o uso de armadilhas.

Sobre o controle biorracional, que envolve o uso de produtos naturais, minerais e também inimigos naturais, o professor apresentou resultados de trabalhos desenvolvidos nos últimos dez anos, com destaque para o uso de Azadiractina, produto derivado do nim, que está em fase de estudos. “Este produto tem mostrado uma ação interessante, porque também age por contato, em função da própria natureza do produto que é oleoso, mas, principalmente, por ingestão e tem ação sistêmica. Tem multialvos de ação, o que dificulta populações resistentes, afeta os insetos imaturos, alterando a concentração de hormônios e levando à morte e, eventualmente, insetos adultos, afetando as células reprodutoras causando esterilidade”. Alves detalhou os experimentos a campo e finalizou apontando alguns entraves para o controle biológico, como a dificuldade em se registrar produtos e a fragmentação da cadeia produtiva da erva-mate.

A íntegra do Primeiro Painel pode ser assistida no canal da Embrapa no Youtube. 

O próximo painel sobre erva-mate acontece em 05 de novembro e vai abordar "Produção de Mudas e Melhoramento Genético".
 

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