Em 24 de profissão, Moacir Ribeiro Júnior, gerente da Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), nunca tinha recebido uma safra de soja com tanta umidade. "A umidade é tanta que vamos ter que refazer nossa tabela de referência", diz.
Na época em que a tabela foi confeccionada, há mais de 20 anos, a umidade máxima projetada chegava a 33%, o que "já era um absurdo, um número teórico", nas palavras de Ribeiro. Nesta safra, ele chegou a receber carregamentos com umidade de até 35%. "Nem sei como aplicar o desconto no preço", afirma.
As chuvas nos estados de Goiás e Mato Grosso estão atrasando a colheita da safra, elevando o índice de umidade dos grãos e, conseqüentemente, o desconto feito ao produtor. Na Comigo, das 60,2 mil toneladas recebidas neste ano, 10%, ou 6 mil toneladas, apresentaram umidade superior a 20%. Nesse caso, o desconto sobre o preço chega a 8%. O desconto é progressivo. Quando a umidade chega a 33%, o desconto no preço pode chegar a 34%. Na média, a Comigo recebeu neste ano a soja com umidade de 17%, contra 13,2% apurados em 2002 e 14,1% apresentados em 2001. O referencial da cooperativa é de 14%.
Segundo a Safras & Mercado, em Goiás 55% da safra foi colhida, contra 70% em 2002 e 68% na média dos últimos cinco anos. Em Jataí, Rio Verde e em Mineiros, no sudoeste do estado, não é raro ver as colheitadeiras a todo vapor até as 23 horas da noite. "Aproveitamos cada brecha para colher porque a chuva neste ano não está facilitando", diz o produtor Milton Fries, de Mineiros (GO). Dos 8 mil hectares que plantou, 30% ainda não foram colhidos. "Em 2002, a colheita já estava terminada."
No Mato Grosso a situação não é diferente. Hoje, 70% da safra foi colhida no estado, ante 77% apurados em igual período do ano passado e 81% na média dos últimos cinco anos. "Os produtores do Centro-Oeste plantaram atrasados com a falta de chuvas, e estão colhendo atrasados pelo excesso de chuvas", diz Flávio França Júnior, analista da Safras & Mercado.