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Extração de colágeno e gelatina de subprodutos de peixes é alternativa sustentável

Ação é bastante rentável


A busca por novas fontes de colágeno e gelatina, biomoléculas de grande valor comercial, e a redução dos impactos ambientais gerados pela atividade pesqueira podem parecer problemas bem distintos. Entretanto, uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) atesta que é possível resolver as duas questões com apenas uma ideia. Em sua tese de doutorado, Helane Maria Silva da Costa confirmou que a extração dessas biomoléculas em subprodutos da indústria pesqueira é bastante rentável e ainda ajuda na redução dos impactos ambientais gerados por este setor.

Intitulada “Extração, purificação e caracterização de proteínas de interesse industrial a partir de resíduos do processamento dos peixes bijupirá (Rachycentron canadum), pirarucu (Arapaima gigas) e xaréu (Caranx hippos)”, a tese foi orientada pelo professor Ranilson de Souza Bezerra. Desenvolvido no Laboratório de Enzimologia (Labenz), o estudo foi apresentado no Programa de Pós-Graduação em Bioquímica e Fisiologia da UFPE.

A pesquisa consistiu em obter resíduos do processamento de peixes em indústrias pesqueiras locais e, por meio de processos químicos e enzimáticos, extrair o colágeno existente nesses animais. A extração da gelatina seguiu os mesmos passos, acrescido do tratamento térmico. Após a extração e caracterização do material, filmes (semelhantes aos plásticos usados na embalagem de alimentos) foram produzidos e suas características físico-químicas determinadas.

Os filmes apresentaram homogeneidade, biocompatibilidade e propriedades estruturais que possibilitam a aplicação para diversos fins, na indústria de alimentos, cosméticos e medicamentos. Colágeno Ácido Solúvel (ASC), Pepsino Solúvel (PSC) tipo I e a gelatina foram isolados e caracterizados a partir da pele dos peixes pescada amarela e bijupirá. “Tendo em vista os resultados encontrados, é possível obter biomoléculas de grande aplicabilidade biotecnológica e industrial, a partir de resíduos do processamento pesqueiro, diminuindo o ônus ecológico produzido pelo seu descarte no ambiente”, comenta Helane.

O colágeno e a gelatina têm propriedades importantes, tais como biodegradabilidade, baixa antigenicidade e adesão celular. Isso viabiliza seu uso em vários segmentos. Por exemplo, na indústria alimentícia, são utilizados em doces, produtos com baixo teor de gordura, laticínios, panificação e derivados de carne. Na indústria farmacêutica e na medicina, essas biomoléculas são utilizadas em implantes, carregadores de drogas, suporte de enzimas, esponjas, curativos, compostos biologicamente ativos e fabricação de cápsulas duras e moles.

Atualmente, os compostos são extraídos, em sua maioria, de bovinos e porcos. Entretanto, barreiras, como o risco na transmissão de doenças e os limites impostos por certas religiões, têm inspirado pesquisadores na descoberta de meios alternativos. Ao mesmo tempo, em função da demanda mundial por alimentos, ocorre um crescimento no consumo de peixes. Assim, cresce também o volume de subprodutos descartados no processamento do pescado, tornando a atividade pouco sustentável.

A tese foi defendida em outubro de 2012, mas a linha de pesquisa continua no Labenz com outras espécies de peixes. “Os resultados prévios têm demonstrado que, além de sua utilização in natura pela indústria de cosméticos e alimentos, os biomateriais desenvolvidos à base de colágeno e gelatina pelo nosso grupo apresentam potencial para aplicações que vão desde o revestimento de alimentos até aplicações não só nas indústrias farmacêutica e de alimentos, mas também na construção civil”, diz a pesquisadora.

Da UFPE

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