Indústrias tradicionais como Colonial e Ypióca buscam novos mercados e incrementam a produção instalando mais unidades no Estado.
As indústrias de cachaça do Ceará querem melhorar a performance no exterior e conquistar novos espaços num mercado que oferece preços mais vantajosos. Em alguns países, a bebida pode chegar a US$ 30 o litro - no Brasil, o produto da mesma qualidade fica entre US$ 7 e US$ 8.
A cearense Ypióca, maior fabricante brasileiro de aguardente, considerada a produção própria, e com capacidade instalada de 80 milhões de litros/ano, destina hoje 3% da produção para exportação, mas a expectativa de crescimento deve chegar a 40% neste 2003 -, mesmo índice estimado pelo Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Cachaça (PBDAC). A diretora-comercial da empresa, Aline Telles, diz que a meta não é ousada, pois a base para o aumento é pequena.
Para sustentar os planos de expansão, o grupo Ypióca, presente em todos os estados brasileiros e com atuação ainda nos setores de produção de embalagens (PET, PVC e papelão), agricultura e pecuária, abre sua sexta fábrica em julho deste ano. A nova unidade instalada, no município de Ceará Mirim, a 30 quilômetros de Natal (RN), terá capacidade instalada de 50 milhões de litros/ano.
Os investimentos no projeto somam algo em torno de R$ 15 milhões e a estimativa é gerar cerca de 1,9 mil empregos, entre diretos e indiretos, segundo Aline Telles. Maior planta industrial do grupo, primeira fora do Ceará, a unidade vai servir como suporte para exportações, além de contemplar o abastecimento do mercado interno.
A Ypióca iniciou a investida internacional ainda em 1968, com embarques para a Alemanha, considerado o maior consumidor europeu de aguardente. A partir daí, concentrou esforços para marcar presença lá fora. Em setembro do ano passado, conquistou um novo espaço ao embarcar, em caráter experimental, cerca de 20 mil litros de cachaça, negócio acertado com a SDL Gelfa Company, empresa baseada em Moscou. A diretora Aline diz que poucas semanas mais tarde, a importadora fez nova investida, pedindo exclusividade, para distribuir o produto. O acordo com a empresa russa pode ser assinado nos próximos dias -- depende somente de detalhes sobre o volume mínimo a ser exportado.
O mercado russo faz parte da estratégia de expansão internacional do grupo cearense, que envolve a participação individual ou coletiva em feiras internacionais de alimentos e bebidas - a Ypióca também confirmou presença em na feira Tax Free World Asia-Pacif, em maio, em Singapura.
Aceitação no exterior
A aceitação da cachaça brasileira no exterior é muito boa, segundo a diretora da Ypióca -, empresa que tem 20 países importadores em sua carteira de clientes. Chile e Argentina, Estados Unidos, países do leste europeu, Grécia, Israel, Índia, entre outros, fazem parte da lista. A mais recente investida ao exterior, segundo Aline Telles, é a Austrália. Em dezembro do ano passado, a empresa enviou 70 caixas do produto, via aérea, pois a bebida deveria chegar para a festas do Ano Novo. Logo em seguida, mais um contêiner de 20 pés foi embarcado.
O portfólio da empresa, com 156 anos de mercado, inclui nove variações da marca Ypióca; outros quatro rótulos da Sapupara, uma bebida feita a partir do caju, a Acayú; caipirinhas prontas em três sabores; catuaba (Vinhagrinha) e a Cachaça Rio, desenvolvida para a exportação. ´O grande diferencial de nosso produto é o envelhecimento´, diz Aline Telles.
Na Cachaça Colonial, que completa 80 anos de mercado, os planos para ingressar no mercado externo são antigos, mas os embarques ainda vêm acontecendo de forma esporádica, sem a continuidade pretendida pelo diretor-presidente, Cláudio Sidrin Targino, empenhado em mudar esse cenário.
Há cerca de 6 anos a empresa chegou a vender 800 caixas da bebida para a França. Em meados de 2002, enviou uma remessa experimental para a Alemanha, com 50 caixas do produto em embalagem de cerâmica com formato de coco. ´Agora, temos um contrato em negociação com a Áustria, para embarque de cerca de 800 caixas, com 12 garrafas de um litro, que depende apenas da liberação da Carta de Crédito´, adianta Targino, disposto a assegurar regularidade nos negócios ao exterior, além de ampliar presença no mercado doméstico, hoje concentrado praticamente na Região. A empresa comercializa alguma quantidade para o Sudeste e articula negócios também com o mercado de Manaus e Salvador, ainda fora da rota.
Em 2002, as vendas da Colonial recuaram 20%. Para este ano, o empresário trabalha com a perspectiva de garantir, pelo menos, o crescimento vegetativo, pois segundo ele, o poder aquisitivo do brasileiro caiu muito nos últimos anos.
A empresa colocou em operação em agosto passado uma nova unidade industrial, a 15 quilômetros do município de Aquiraz, e a 45 quilômetros de Fortaleza, investimento avaliado em R$ 3 milhões. A construção substituiu o antigo prédio, na mesma localidade, agora destinado ao armazenamento dos produtos.
Os planos de Targino para a antiga sede, no entanto, vão além. Ele pretende transformar o espaço, recuperando com detalhes o primeiro engenho da Colonial. O projeto começa a ser implementado este ano. Hoje, entre a engarrafadora (matriz), baseada na Capital cearense, a unidade de Aquiraz e a de Maranguape, a 18 quilômetros de Fortaleza, a Colonial têm capacidade de produzir 15 milhões de litros por safra, cujo período gira em torno de quatro meses por ano.
Adriana Thomasi - Fortaleza
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