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Falta de investimento reduz estoques de açúcar e álcool

A manutenção da necessidade de importação da Índia somada à expansão do consumo doméstico poderá reduzir os estoques internos


O Brasil, maior produtor mundial de cana-de-açúcar e maior exportador de açúcar e etanol, terá dificuldade em suprir a demanda interna e atender outros mercados nos próximos meses. A manutenção da necessidade de importação da Índia somada à expansão do consumo doméstico poderá reduzir os estoques internos de passagem de açúcar a menos de 1 milhão de toneladas.

A falta de capital de giro não permitirá às usinas do País suprirem totalmente o excesso de demanda que será gerada com a nova quebra da safra indiana nem aproveitarem plenamente as altas cotações das commodities previstas para mais um ciclo. Outros fatores também deverão limitar a expansão do açúcar mesmo com a alta dos preços, como a necessidade de atender o crescente mercado de etanol e a redução da quantidade média de ATR (açúcar total recuperável) da próxima safra.

O grande volume de chuva registrado no Sudeste do Brasil em julho e os efeitos da fraca adubação realizada no final da safra levaram a consultoria AgraFNP a revisar as estimativas para a safra de cana-de-açúcar. A quantidade média de ATR por tonelada de cana está até 16 quilos abaixo da registrada na safra passada. Além das condições climáticas, o baixo índice de produtividade é reflexo da crise financeira que afeta o setor sucroalcooleiro com maior gravidade desde o final de 2008. "Com menor disponibilidade de crédito, muitos produtores ficaram sem capital para realizar a adubação correta nos canaviais", disse Bruno Boszczowski, analista da AgraFNP.

Segundo estimativa da consultoria, a produção nacional de açúcar deve recuar para 36,1 milhões de toneladas, 200 mil toneladas a menos que a estimada no início do ano. A produção de etanol também deverá cair. De acordo com levantamento da AgraFNP, a produção de anidro deve atingir 8,9 bilhões de litros, 190 milhões a menos que a primeira estimativa. A produção de hidratado deve recuar para 17,9 bilhões de litros, 442 milhões de litros a menos que na projeção anterior. "No total, a produção de etanol será menor que na safra passada. É a primeira queda em oito anos", avaliou Boszczowski.

Mesmo com os baixos preços praticados no mercado de etanol, o Brasil também poderá um estoque bastante ajustado. Segundo previsão da Datagro, os estoques de passagem para a próxima safra estão estimados em 1,65 bilhão de litros, volume suficiente para garantir abastecimento no país por quase um mês.

De acordo com estimativas da Archer Consulting, empresa focada em gestão de riscos agrícolas, o enxugamento na oferta de etanol poderá ser ainda maior, chegando a gerar um déficit.

"A demanda interna de etanol deve ser da ordem de 25 bilhões de litros, sem contar as exportações que exigirão outros 3,3 bilhões, o que representará um déficit de 2,6 bilhões de litros", estimou Arnaldo Corrêa, gestor de riscos da Archer.

Essa semana, a Agência Internacional de Energia (AIE) revisou para baixo as projeções para a produção de etanol no Brasil para o segundo semestre. Em seu relatório a AIE prevê uma redução na produção de álcool entre 5 mil e 10 mil de barris por dia no período de junho a dezembro. "Embora as exportações de etanol tenham apresentado uma queda de 26,5% no mesmo período, a demanda interna por etanol continua em franco crescimento", afirmou Corrêa.

Alan Kardec, diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), já admite a possibilidade de um estoque regulador de etanol no País, caso o combustível fique sob ameaça de faltar ao mercado consumidor interno.

Uma das razões apontadas pelo especialista é a expansão na venda de veículos na ordem de 6,4% em relação ao ano passado. Dados da ANP mostram que o consumo nacional de etanol cresceu 17,7% no primeiro semestre deste ano, ante igual período de 2008, para 10,7 bilhões de litros, e já é o principal combustível da matriz energética brasileira para carros leves.

Segundo a Archer, os números ainda indicam que o setor sucroalcooleiro precisará expandir 10,07% ao ano até a safra de 2012/2013, para atender as demandas interna e externa de etanol e açúcar. "Por isso, serão necessários novos investimentos no setor que, pelas estimativas, deverão corresponder a cerca de US$ 21 bilhões para esse mesmo período, até 2012/2013", comenta Côrrea.

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