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Falta de navio atrapalha leilões de PEP


Indústrias do Nordeste evitam comprar grãos do governo temendo não ter embarcações. O governo poderia ter feito uma intervenção maior nos mercados de milho e trigo, em 2004, se os produtos fossem escoados do Sul para o Nordeste por navios - e não por via rodoviária. O custo do transporte rodoviário acaba desencorajando as indústrias do Nordeste, que preferem importar trigo dos Estados Unidos e milho da Argentina do que trazer o produto do Sul do País.

O gasto com o frete rodoviário entre o Sul e o Nordeste é de cerca de R$ 195 a tonelada. O marítimo custa quase a metade: R$ 100. Apesar de mais barato, o transporte marítimo sofre com a falta de navios. São só 20 para atender a costa.

Justamente a escassez de embarcações atrapalhou a política governamental de apoiar a comercialização na safra passada. Os leilões de Prêmio para o Escoamento de Produto (PEP) - que cobrem a diferença de frete entre o produto importado e o nacional - e os de Valor de Escoamento de Produto (VEP) - semelhantes ao PEP, mas com estoques oficiais - não foram tão bem sucedidos como se previa.

No ano passado, foram leiloadas 600 mil toneladas de milho e 220 toneladas de trigo, quando o potencial era para volume 83% maior de milho e 38% superior de trigo, chegando a, respectivamente, 1,1 milhão de toneladas e 720 mil toneladas, de acordo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Compradores do Nordeste tinham interesse nos leilões, porém temiam que faltassem navios para escoar a produção. Um acerto na programação dos navios com o escoamento dos leilões de PEP e VEP pode ser uma solução para o setor. Foi o que aconteceu com o trigo.

Até dezembro o governo tinha escoado apenas 75 mil toneladas de trigo em dois meses, abaixo da expectativa. "Descobrimos que os moinhos não entravam no leilão porque tinham medo de não conseguir navio", diz Ivan Wedekin, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Então o governo decidiu negociar com os armadores a disponibilidade de navios. A partir dali, o interesse pelos leilões cresceu e mais 145 mil toneladas foram negociadas. Na época do lançamento dos PEPs para o trigo, o governo estimava intermediar a venda de 800 mil toneladas. "Poderíamos ter ajudado a sustentar os preços de forma mais efetiva", avalia Wedekin.

Para o analista Aldo Lobo, da Safras & Mercado, se o governo tivesse conseguido apoiar a comercialização do que previa, o cenário de preços seria outro. "O problema é que a legislação não permite cabotagem com navio estrangeiro e faltam embarcações", conclui.

Cofres públicos:

Se o transporte marítimo fosse normalizado, a Conab teria despendido menos recursos com os prêmios dos leilões. Em 2004, o governo gastou R$ 45 milhões em apoio aos compradores.

"Queremos viabilizar um fluxo regular de produtos do Sul para o Norte e Nordeste", diz Wedekin. Segundo ele, se existissem navios suficientes, o Rio Grande do Sul, por exemplo, não sofreria com excesso de produção, pois teria uma forma rápida e barata para o escoamento das safras de trigo, milho e arroz. Exceto o milho - que enfrenta seca e está com cotação em alta no estado - os demais produtos têm preços abaixo do custo de produção. O arroz é vendido a R$ 23 a saca (para um gasto de R$ 29) e o trigo a R$ 320 a tonelada (custo de R$ 400).

Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) existem 20 navios para cabotagem a granel no Brasil, suficientes para atender a demanda, desde que exista uma programação de escoamento. Nos próximos dias, a agência discutirá o assunto com o setor.

Cabotagem:

"A cabotagem é importante porque 95% da produção de trigo está no Sul, mas a região consome 20% da safra", diz Robson Mafioletti, assessor da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Para ele, é preciso mudança na legislação.

Na safra atual o arroz poderá ser beneficiado com o escoamento para o Nordeste. "Não resolve o problema, mas ajuda", diz Valter Pöetter, presidente da Federação da Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).

Não só os grãos são prejudicados. "Temos dificuldade em conseguir navios e contêiner. Mas o problema está relacionado com a legislação de cabotagem, que é obsoleta", afirma Júlio Cardoso, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef).

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