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Farinha da Argentina invade o Brasil

Só entre janeiro e fevereiro de 2008, o Brasil aumentou em 141% a importação da farinha de trigo argentina


A dificuldade dos moinhos brasileiros em importar matéria-prima da Argentina, seu principal fornecedor, está promovendo uma invasão da farinha de trigo do país vizinho no País. Para não perder clientes e evitar a paralisação de suas atividades os moinhos de menor porte estão revendendo o produto que adquirem já processado da Argentina.


Os números divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) ilustram esse cenário. Só entre janeiro e fevereiro de 2008, o Brasil aumentou em 141% a importação da farinha de trigo argentina o que corresponde a um volume total de 136,9 mil toneladas, elevando o produto da nona para a sexta colocação nos itens que o País mais importa do vizinho.

Trata-se da consolidação de uma tendência já verificada em 2007 quando ao longo dos 12 meses a participação do produto nas importações brasileiras avançou exorbitantes 589,19% com a entrada de 604,6 mil toneladas de farinha de trigo de origem argentina ante as 109,8 mil toneladas verificadas no mesmo período de 2006. Na ocasião a farinha argentina saltou 45 posições na lista de produtos importados pelo Brasil.

O presidente do Sindicato das Indústrias do Trigo no Estado do Paraná (Sindustrigo-PR), Roland Guth, confirma que existem informações de que alguns moinhos não estão moendo porque estão comprando farinha argentina. "Essas empresas estão virando comerciantes, isso porque a farinha argentina entra subsidiada no Brasil, principalmente nas regiões produtores", diz. A região do oeste do Paraná está entre as que sofrem maior assédio do produto importado.

O mesmo caso é observado em outro estado produtor. No Rio Grande do Sul, onde pequenos moinhos já operam em regime de sazonalidade, a proximidade com a Argentina facilita o abastecimento do produto industrializado. O presidente do Sindustrigo no estado, Cláudio Furlan, afirma que está entrando no Brasil em torno de 700 mil toneladas. Talvez este seja o volume oficial já que estimativas da própria indústria apontam para uma redução de 1 milhão de toneladas na produção dos moinhos.

"Há uma queda no volume de produção na mesma proporção que a entrada de farinha de trigo argentino, mesmo com crescimento no consumo houve queda dos moinhos", avalia Furlan. Vale ressaltar que os representantes da indústria do trigo dos estados do Sul do País não confirmam o fechamento de moinhos na região a despeito do que vem sendo anunciado por outras lideranças do setor.

Com as exportações do trigo argentino limitadas e a forte elevação dos preços da commodity no mercado internacional toda a indústria tem buscado alternativas para manter a produção. Um dos recursos que estão sendo utilizados é a importação de trigo do Paraguai. Esse parceiro brasileiro no Mercosul já era um fornecedor do cereal, mas após a crise a participação do produto nas compras da indústria brasileira registrou um verdadeiro salto, intensificando-se fortemente nesse início de ano. Nos dois primeiros meses de 2008 o volume importado mais que dobrou, elevando-se de 22,9 mil toneladas para 141 mil. A valorização também é refletida no volume financeiro que saltou de US$ 4,1 milhões para US$ 40,2 milhões, segundo dados do Mdic.


O Moinho Pacífico é um dos que já incorporaram o trigo paraguaio. A indústria pertence ao empresário Lawrence Pih, um dos mais descrentes em relação a liberação das exportações de trigo anunciada pelo governo argentino. "Eles devem racionar o trigo disponível", diz.

Além do Paraguai o Uruguai também é um dos países do Mercosul que tem excedente de produção e oferece condições de preços semelhantes as da Argentina, mas além do volume disponível para exportação não ser suficiente para atender a demanda brasileira a qualidade do trigo produzido é inferior.

Preços

Os recordes alcançados pela cotação do trigo nas últimas semanas fizeram os importadores brasileiros, mesmo com dificuldades no abastecimento, limitar suas aquisições. Com a liberação de 1 milhão de toneladas do grão isentos da Tarifa Externa Comum (TEC) pelo governo federal esperava-se que o volume seria rapidamente tomado, mas até agora a estimativa é de que apenas 300 mil toneladas foram adquiridas.

Essa tendência deve se reverter nos próximos dias já que os preços estão mais atrativos.
O trigo americano voltou a patamares próximos dos US$ 520, pouco acima do valor que custaria hoje para trazer trigo da Argentina. "Essa diferença que hoje é de cerca de US$ 20 chegou a ficar acima de US$ 200 quando o trigo estava US$ 13,15 bushel nos Estados Unidos", explica Élcio Bento, analista da Safras & Mercado. Ele se refere ao pico de elevação de duas semanas atrás. Mesmo com o mercado sinalizando uma trégua para o importador Bento ressalta. "A menos que a gente tenha uma safra muito boa o Brasil vai ter muita necessidade de importar do Hemisfério Norte".

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