O superintendente do Porto de Paranaguá, Eduardo Requião, acusou a multinacional Bunge Alimentos de boicotar o escoamento da safra no porto paranaense e contribuir para o agravamento da fila de caminhões ao longo da BR-277. Ontem (27-01), mesmo com a fim das chuvas, a fila no porto ainda se estendia por 30 quilômetros, atingindo a Serra do Mar.
O escoamento da safrinha de milho está provocando uma situação atípica nesta época do ano, período que os equipamentos do corredor de exportação entram em manutenção. Os armazéns estão sobrecarregados e o pátio de triagem lotado com caminhões carregados com produtos da safra passada que ainda estão sendo embarcados. "Diante de toda essa logística apertada a Bunge decidiu que não iria carregar o navio com milho, argumentando que estava procurando um rato no porão", disse Eduardo Requião, bastante irritado.
O superintendente considerou essa resposta uma afronta à direção do porto. E determinou que todos os caminhões que estavam carregando produtos para a Bunge fossem retirados do pátio de triagem.
De acordo com controle do Porto de Paranaguá, nos dias 25 e 26 nenhum grão de milho foi embarcado no navio Darya Radhe, com bandeira de Hong Kong. O navio, com capacidade para 62 mil toneladas, atracou no dia 20 e até anteontem não estava com a carga completa.
Para Eduardo Requião, a morosidade no escoamento revelou o ""boicote"" da multinacional. "Não é possível carregar menos de 10 mil toneladas durante sete dias, que é o período que o navio ficou atracado, quando a capacidade de embarque do porto é de 1,5 mil toneladas por hora", argumentou.
Segundo Eduardo, a empresa estaria boicotando a direção do porto em função da portaria que passa a vigorar a partir do 1º de fevereiro, que determina que só deverá entrar no pátio de triagem os caminhões e vagões com cargas já vendidas. Depois da iniciativa do superintendente do porto, que determinou a retirada dos caminhões, curiosamente foram embarcadas 6.286 toneladas de milho em tempo recorde e o navio foi embora ontem pela manhã.
Na sede da matriz Bunge Alimentos, em Gaspar (SC), a assessoria da empresa atribuiu o episódio a um mal-entendido. O assessor Herculano Domício Martins esclareceu que são duas empresas a Bunge brasileira e a internacional. Segundo ele, quem estava carregando era a Bunge internacional. Apesar da distinção entre as empresas, Martins explicou que o carregamento foi suspenso por determinação do comandante do navio que queria fazer uma verificação da qualidade do produto que estava sendo embarcado.
Acrescentou que não é interesse da Bunge adotar atitude de confronto com a direção do porto porque a empresa precisa do terminal para embarcar seus produtos. "Vamos esclarecer esse mal-entendido", declarou.