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Frete da soja está mais caro na entressafra



O atraso na comercialização e o aumento do óleo diesel provocaram inversão de valores nos custos de transporte. O preço do frete agrícola sofreu forte reajuste durante a entressafra brasileira neste ano. Em algumas rotas de escoamento a elevação dos preços chegou a ser de quase 80%, em relação aos valores praticados durante a colheita da safra, período que historicamente o frete é superior dado o aumento da demanda por escoamento. O atraso na comercialização da soja, as elevações no preço do diesel e as incertezas em relação ao futuro da economia brasileira são os principais fatores da reversão dos preços do frete, segundo José Vicente Caixeta Filho, professor e pesquisador do Departamento de Economia da Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz (Esalq/USP). "Por mais lento que os repasses dos combustíveis aconteçam, eles aparecem de formas sutis, como a manutenção dos preços da safra na entressafra ou até mesmo com reajustes." Escoamento no Paraná Dados do Sistema de Informações de Fretes para Cargas Agrícolas (Sifreca), órgão da Universidade de São Paulo (USP), mostram que o transporte de Campo Mourão (PR) até o porto de Paranaguá - 494 quilômetros -, uma das principais rotas de escoamento da soja do Paraná, custava R$ 27,96 por tonelada nos meses de abril e maio (safra). Entre setembro e outubro custo do transporte nessa mesma rota subiu para R$ 50 por tonelada, valor que teoricamente deveria ser de R$ 17. "Teoricamente os preços dos fretes são mais elevados durante a safra e caem na entressafra. O que aconteceu este ano não é algo comum", afirma Caixeta. Outras duas rotas consideradas importantes para o escoamento da soja no Brasil são as de Campos de Júlio (MT) para Porto Velho (RO) - 940 quilômetros - e Chapadão do Céu (GO) a Santos (SP), 1.043 quilômetros. No caso da primeira, o grão saía do Mato Grosso e chegava a Rondônia por R$ 46,25 a tonelada entre abril e maio, valor que subiu para R$ 48 durante a entressafra (setembro e outubro). Já a soja transportada de Goiás para São Paulo sofreu reajuste de 30,7%, passando de R$ 65 a tonelada durante a safra para R$ 85 na entressafra. "A soja é formadora de preços para outras culturas, ou seja, quando preço do transporte da soja sobe, os valores para outras culturas também sofrem reajuste", afirma Caixeta. As transportadoras rodoviárias de carga anunciaram aumento dos fretes entre 11% e 15% para repassar imediatamente parte do aumento de custos decorrente do reajuste de 20% no preço do óleo diesel, anunciado no dia 1 pela Petrobras. Estudos da Associação Nacional do Transporte de Cargas (NTC) mostram que o preço do diesel subiu 53,22% nas refinarias de fevereiro até novembro. "Esse processo logístico de reversão de preços em plena entressafra é inédito na história do mercado. Para esta época do ano os preços deveriam estar entre 20% e 30% inferiores aos da safra, podendo chegar até 50% menos em algumas regiões", diz Renato Sayeg, diretor da Tetras Corretora. Repasse dos preços Segundo Sayeg, tal aumento provocou repasses por parte das empresas, principalmente nos derivados da soja (óleo e farelo). "Pedidos de alguns de meus clientes conseguiam ser atendidos por um único fornecedor. Agora é preciso mais de um." Para ele, o fato do leque de fornecedores ter sido ampliado justificaria o reajuste nos preços. Apesar dos possíveis reajustes, o coordenador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), órgão da Secretaria de Agricultura de São Paulo, Nelson Martin, considera que não haveria motivos para repasses aos produtos finais. "O preço do frete pode ter subido, mas para a soja, por exemplo, os ganhos dos produtores foram superiores", diz Martin. O atraso na comercialização da soja, que provocou o aumento do frete, foi segundo Martin favorecido pela quebra da safra dos Estados Unidos. "Com a oferta menor nos EUA, o grão brasileiro ficou mais competitivo, o que favoreceu a retenção da soja para ser vendida agora.", diz Martin ao ressaltar que o frete é responsável, em média, por 20% do preço final do grão. Para Adilton Sachet, produtor de soja no Mato Grosso, a redução de oferta de carretas na entressafra também colabora para o aumento dos fretes. "Nessa época, os caminhões são usados para transporte de adubo e sementes, deixando o escoamento em segundo plano." Alexandre Inacio

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