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Fumicultor reclama da falta de opção no Paraná

A reclamação dos fumicultores do Paraná é quanto à falta de opção e incentivo


A reclamação dos fumicultores do Paraná é quanto à falta de opção e incentivo, para que possam fazer a inversão de culturas - uma das exigências caso o País ratifique a assinatura junto à Convenção-Quadro. Essa convenção é um instrumento legal internacional que tem como objetivo preservar as gerações, presentes e futuras, das devastadoras consequências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas do consumo e da exposição à fumaça do tabaco. Para muitos agricultores, o fumo é a única fonte de onde vem o sustento da família. Somente no Paraná, a cultura representa 10% da produção. Enquanto alguns agricultores ainda sofrem, “presos” ao cultivo do fumo, os produtores rurais de Mandirituba se preparam para não ter problemas futuros, mesmo que o lucro demore mais.

De um lado, em Palmeira, Evaldo Gross, 41 anos, junto com os três integrantes da família, trabalha com o tabaco e atende uma das maiores indústrias fumageiras do País. “Estamos sem outra opção. Plantamos por obrigação de sobrevivência. Não é o que gostaríamos de fazer hoje”, conta. Segundo ele, a atividade traz remuneração e quando não está bem a indústria custeia com o sistema integrado adotado. Ele admite que isso não acontece sem que o produtor fique endividado. Atualmente, Evaldo deve entre R$ 12 e R$ 15 mil à empresa. “Sempre trabalhamos com dívida. Lucro mesmo, não temos”, afirma. O serviço é pesado e insalubre, mesmo assim apela-se, às vezes, ao trabalho infantil. “Você tem que envolver toda a família”, conta.

De outro, em Mandirituba, na comunidade de Lagoa dos Ferreiras, as crianças não trabalham na cultura pesada e sim fazem fila na propriedade dos Restanhos para ganhar uvas frescas, colhidas pelos 20 produtores rurais que fazem parte do “Grupo da Uva”. Esses agricultores, ao invés de estarem se queixando, estão comemorando. “A gente trabalha sempre com o recurso disponível. Ninguém tem dívida”, afirma Nesclar Restanho Júnior.

Incentivo:

O grupo, que começou em 2001, montou um projeto de viticultura e conseguiu incentivo junto ao governo, nas três instâncias. Em 2002, eles levantaram R$ 12 mil e, em 2004, foram mais de R$ 52 mil em tanques fermentador e reservatório - cedidos em comodato, ou seja, em alguns anos serão do grupo. Com essa estrutura, que ainda é mínima segundo os integrantes, eles produzem mais dez variedade de vinhos. “Recebemos a uva dos agricultores e processamos num lugar só. Ou se organiza ou quebra, todos sabem disso”, explica Nesclar.

Um dos objetivos do grupo, que começou com oito integrantes, é fazer com que a alegria e o resultado dos trabalhos sirvam de incentivo para quem quiser participar. “Minha vida melhorou com o trabalho. E cada vez acredito que vamos plantar mais e crescer”, afirma Woadislau Falarz, 66 anos, que trabalha no grupo com o filho de 25.

Mandirituba preocupada com a inversão:

A região de Mandirituba atualmente tem cerca de três mil fumicultores - 230 só na cidade, segundo o secretário de Agricultura, Silvio Galvan. “A preocupação da região é que quando vier o tratado o que vamos fazer com os outros três mil produtores. Conseguir trocar de cultura nós conseguimos, o problema é mais para frente. A gente vai amarrando para não dar problema. Às vezes eles estão caneteando sem ver a realidade no campo”, afirma o secretário.

Ele diz que a diversidade de cultura é uma boa solução, pois agrega valor à propriedade. Não é somente a cultura da uva que é incentivada na região, que também se destaca na produção de plantas medicinais, principalmente a camomila, e olericultura, “mas é fácil porque estamos perto do mercado”, justifica. Segundo ele, o que precisa é haver políticas de incentivo que levem em consideração essa realidade.

Desmistificando:

De acordo com o Departamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais (Deser), a fumicultura traz cerca de R$ 12 bilhões para a economia do País. Dessa renda bruta, cerca de 64% é de tributos, 26% fica para as indústrias, 19,9% fica para a produção e 6% do varejo. 27% da produção de fumo e derivados do Brasil é destinada à exportação, e cerca de 72% fica para o consumo doméstico. Do preço de um maço de cigarro, 64,9% é de tributação e apenas 5,1% fica para o produtor. (NF)

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