Gente que move a terra e a economia
Paraná tem cerca de 373 mil agropecuaristas, gente que ajudou a transformar o Estado no ‘‘celeiro do País’’
Do trabalho se fez a vida; da esperança, o futuro; e da terra, o conhecimento. A labuta diária no campo é um sem fim de esforços. Trabalho de sol a sol, sem descanso, e ainda é preciso uma boa colaboração de ‘‘São Pedro’’: não pode ter sol demais, nem chuva demais. Órfão, João Francisco – hoje com 73 anos – chegou a Londrina com oito anos. Sangue de agricultor nas veias (como ele mesmo define), veio para trabalhar no campo acompanhado por uma família adotiva. Logo depois os ‘‘pais’’ voltaram para a terra natal, em Pernambuco, João Francisco ficou e aqui fez sua vida.
Sem nem mesmo saber o nome dos pais biológicos e a sua data de nascimento, ‘‘João Pernambuco’’ – como é conhecido – conseguiu reverter o seu destino. Casou, tem quatro filhos e sete netos, comprou um sítio de três alqueires, de onde tirou o sustento da família. Viu a cidade crescer, estudou os filhos e conseguiu aumentar o seu patrimônio: tem uma outra pequena propriedade em Alvorada do Sul e mais alguns arrendamentos, onde cultiva soja, milho e trigo. Passou pelos ciclos agrícolas do café e do algodão, mas a geada e as doenças, respectivamente, o levaram a optar pelas commodities.
‘‘Hoje a agricultura é melhor. A tecnologia facilitou, antes era mais manual, não rendia tanto. Era um dia para colher um alqueire de soja’’, lembra João Pernambuco. Ele aprendeu a evoluir com a agricultura e aderiu rapidamente às novidades, como o plantio direto e a mecanização das lavouras, inclusive, com colheitadeira própria. ‘‘O preço (dos produtos agrícolas) está razoável, não tem prejuízo’’, conta. Mesmo com o crescimento das cidades, ele e a família optaram por ficar no campo. Além das lavouras, a propriedade abriga uma horta – que garante a sua participação na feira livre aos domingos ‘‘apenas por gosto’’ – árvores frutíferas e criações de suínos e de frangos, para consumo próprio.
João Pernambuco é um dos 373 mil produtores rurais – paranaenses ou não – que ajudaram o Estado a se transformar no ‘‘celeiro do Brasil’’. Dados da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) mostram que apenas 2,3% da área total do território nacional é o suficiente para atingir o topo do ranking na produção de milho, feijão, trigo e cevada. O Paraná ainda é o segundo produtor de soja, cana-de-açúcar e leite; terceiro de laranja e de suínos; e o quinto de café. O agronegócio – agricultura, agroindústria e comércio de insumos – respondem por 35% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado.
A agropecuária (produtos primários) tem influência direta na economia como um todo. ‘‘Quando a agropecuária vai mal toda a economia vai mal’’, salienta Júlio Suzuki, coordenador de Conjuntura do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). Como exemplo ele cita que em 2005 – ano em que a agropecuária não registrou bom desempenho – o PIB do Estado caiu 0,1%. O Ipardes acompanha a divulgação das estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e, por isso, os dados mais recentes são de 2006. Naquele ano a produção da agropecuária participou com 8,3% do total do PIB estadual. O resultado é 2,3 pontos percentuais menor do que o atingido em 2002 (veja quadro).
‘‘É bem provável que em 2007 e 2008 a participação da agropecuária tenha aumentado, mas o índice não mostra que esse setor perdeu o dinamismo, mas que os outros (indústrias e serviços) cresceram’’, avalia Suzuki. No total, a agropecuária do Paraná participa com 9,7% no PIB da agropecuária nacional. O Estado tem a quarta maior participação, atrás de São Paulo (16,5%), Minas Gerais (13,9%) e Rio Grande do Sul (11,7%). ‘‘A agricultura estadual é bastante representantiva porque no PIB geral a participação do Paraná não chega a 6%’’, informa.
A terra paranaense, pronta para produzir riquezas e alimentos, pode até revelar uma realidade dura, mas não chega a causar desilusões. João Pernambuco, o garoto que chegou no final da década de 40, acompanhou a evolução dos tempos e viu a cidade ‘‘encostar’’ na zona rural. Daquele tempo, lembra da fertilidade da terra vermelha – quando não era preciso nem adubo –, mas também não reclama. ‘‘Pode até ter uma seca mas, depois, acaba chovendo para recuperar a lavoura. Sempre consigo pagar as contas’’, diz.