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Girassol decai no RS, mas avança no Brasil

No RS, basicamente duas indústrias fomentam o cultivo da flor no Rio Grande do Sul


É cada vez mais raro observar campos floridos com girassóis no Rio Grande do Sul, onde a cultura já ocupou mais de 20 mil hectares há 10 anos. Dois motivos principais fizeram o plantio minguar no Estado: poucas indústrias atuando no beneficiamento e o período da colheita que avança na janela de plantio da soja. A flor, porém, ainda encontra abrigo especialmente no Noroeste gaúcho, em locais como Garruchos e São Luiz Gonzaga, entre outros municípios.

O plantio de girassol teve seu auge no Estado entre 2008 e 2009, de acordo com a Conab, quando 23,6 mil hectares forma semeados por aqui. Era quase um terço da produção nacional. Na época, juntamente com cultivos como da mamona, o girassol era apontado como alternativa para a produção de biodiesel. Hoje, com apenas 3,3 mil hectares semeados, pelos dados oficiais, representa menos de 4% do total brasileiro (95,5 mil hectares).

"A grande publicidade dada ao girassol como matéria-prima ao biodiesel foi uma questão de marketing, nunca tendo sido efetivada com intensidade", critica Marcos Caraffa, coordenador do curso de Agronomia da Sociedade Educacional Três de Maio (Setrem).

O auge da produção nacional ocorreu em 2013/2014, com quase 148 mil hectares, reduzido a pouco mais de um terço disso entre 2015/2016 e agora se recuperando, principalmente com a produção de óleo para uso culinário. O cultivo do girassol tem suas raízes mais fortes, hoje, em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, onde diferentes empresas atuam na extração do óleo da semente. No Centro-Oeste, o plantio ocorre nos primeiros meses do ano, após a colheita da soja.

No Rio Grande do Sul, há basicamente duas indústrias atualmente adquirindo e fomentando o cultivo no Estado: a Giovelli Indústria de Óleos Vegetais, de Guarani das Missões, e a Celena Alimentos, com sede em Eldorado do Sul e beneficiamento em Giruá. "Como a rentabilidade do grão não é alta, o custo de transporte é viável apenas se houver indústrias próximas da área do plantio", explica Ana Claudia Barneche, pesquisadora da Embrapa.

Os atrativos do cultivo de girassol, porém, vão além do ganho imediato com a venda. Há um ganho indireto importante: o melhoramento do solo. Com raízes profundas, o cultivo do girassol tende a aumentar a penetração de água no solo e beneficia futuros cultivos (como da soja). A flor também é apontada como uma alternativa para quebrar o circuito tradicional de rotação milho-soja, que a longo prazo empobrece a terra e leva ao aumento da presença de doenças e pragas nas lavouras.

"Os produtores não conseguem mais observar as vantagens que uma rotação de culturas pode gerar em médio e longo prazo", diz Caraffa.

Óleo da semente ganha mercado fit

Apesar do pouco espaço nas lavouras gaúchas, o óleo de girassol tem usos e clientes nobres. No mercado nacional, diz Ana Cláudia Barneche, pesquisadora da Embrapa, um dos compradores do produto é a Pepsico, que utiliza o óleo de girassol para fritura de salgadinhos, já que é mais saudável do que o produto feito a partir da soja, por exemplo.

Outro subproduto extraído da semente da planta e que pode ser um alento para recuperar a produção é o tocoferol, conta Osmar Giovelli, proprietário da Giovelli Indústria de Óleos Vegetais. "O Japão começou recentemente a comprar de nós o tocoferol, um subproduto obtido no branqueamento do óleo de girassol e com os qual se produz vitamina E. Ainda é algo inicial, mas é uma alternativa de negócio", conta o empresário.

Apesar de a empresa ter entrado em recuperação judicial em 2015, Giovelli afirma que cenário é positivo. A companhia passa por um processo de avaliação por parte de uma multinacional interessada em investir no setor. "Por questão de confidencialidade, não podemos revelar a companhia, mas estamos com o processo de due diligence bem avançado", assegura Giovelli.

Saiba mais sobre a cultura

A cultura do girassol se desenvolve entre agosto (plantio) e dezembro (colheita), o que faz com que o cultivo dispute espaço com a soja, principalmente, e o milho. Como os dois grãos apresentam melhor estrutura de comercialização e preços mais atrativos, o girassol acaba por perder terreno.

O girassol é destinado praticamente todo para produção de óleo comestível aos humanos. Parcela significativa do mercado também é destinado à ração de diversas espécies de passarinhos.

A produtividade média é entre 1,4 mil e 1,5 mil quilos por hectares. O custo médio de produção é de cerca de 1 mil quilos, restando como ganho ao produtor cerca de 500 quilos. Hoje, o valor da saca de 60 quilos varia de R$ 72,00 a R$ 75,00.

Entre os grandes produtores mundiais estão Rússia e Ucrânia. Na América do Sul a principal referência é Argentina, que chegou a semear a flor em cerca de 4 milhões de hectares. Com o avanço a soja no país vizinho, assim como ocorre no Brasil, a área foi reduzida para cerca de 1 milhão de hectares.

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