No que parece ser o início do fim de uma crise que já dura um ano e meio, a Chapecó Alimentos anunciou, nesta quinta-feira, em Brasília, o arrendamento de sua unidade de Xaxim (SC) pela Globoaves e da fábrica da cidade de Chapecó (SC) pela Aurora Alimentos. Nos dois casos, os contratos assinados entre as empresas prevêem arrendamento com opção de compra das unidades. Mas a aquisição só poderá ocorrer quando as dívidas da Chapecó, de mais de R$ 1 bilhão, estiverem solucionadas.
No último dia 07, a companhia, controlada pelo grupo argentino Macri, já tinha anunciado um destino para suas duas outras unidades. A paranaense Globoaves assumiu a fábrica de Cascavel (PR), que já arrenda em parceria com a Sadia, e a gaúcha Alibem ficou com Santa Rosa (RS).
Segundo o diretor-presidente da Chapecó, Celso Schmitz, a Globoaves pagará R$ 48,1 milhões pelo complexo industrial de Xaxim, que inclui abatedouro de frango, encubatório de pintos de corte e granjas de matrizes. Pela fábrica de Chapecó, a Aurora pagará R$ 58,1 milhões. A unidade tem abate de suínos e industrialização. Schmitz disse que as parcelas pagas durante o período de arrendamento serão descontadas do valor total da aquisição.
A Globoaves também comprou as operações da Chapecó em Marechal Borman, distrito de Chapecó, onde a empresa tem encubatório, fábrica de ração e granja de matrizes. A empresa já arrendava a unidade, pela qual pagará R$ 4 milhões.
Schmitz afirmou que continuará negociando com credores e fornecedores e espera que um acordo saia em breve, para que as aquisições sejam concretizadas. A reestruturação dos débitos, desenhada pelo Banco Fator, prevê deságio de 96,8% nas dívidas com bancos. No caso dos fornecedores, os débitos acima de R$ 100 mil teriam desconto médio de 70%. A Chapecó deve R$ 890 milhões a bancos, R$ 80 milhões a fornecedores, R$ 10 milhões a funcionários e R$ 35 milhões em impostos. Há, ainda, contingências estimadas em R$ 35 milhões, conforme Schmitz.
Só para O BNDES, que tem 30% de suas ações, a Chapecó deve R$ 560 milhões. O banco é o maior credor do frigorífico e tem reiterado que aceitaria um deságio de 96,8% nas dívidas. A disposição se deve ao problema social que a crise da Chapecó gerou nas regiões onde a empresa atua.
O fatiamento da Chapecó era a última opção desejada pelo BNDES. Mas foi a única alternativa depois que as negociações para venda da Chapecó à Coinbra, do grupo francês Dreyfus, fracassaram. O grupo francês negociou por oito meses com a Chapecó e ofereceu R$ 175 milhões por todas as unidades, mais do que a empresa obterá agora com as operações de arrendamento e compra futura. No total, serão R$ 155,7 milhões, já que Cascavel foi negociada por R$ 24 milhões e Santa Rosa, por R$ 21,5 milhões. A empresa ainda quer negociar uma fábrica desativada em Amparo (SP), uma unidade de genética de suínos, em Ponte Serrada (SC) e duas filiais comerciais, em Bauru (SP) e Barueri (SP).
Com os novos arrendamentos, o grupo Macri praticamente fica fora da Chapecó. Segundo Celso Schmitz, o grupo quer sair da operação, passar o negócio adiante sem dívidas. "Ele (Macri) não recebe nada e não paga nada".
A expectativa é que a unidade de Xaxim volte a abater em meados de fevereiro, segundo o diretor da Globoaves, Roberto Kaefer. Ele explicou que a fábrica será operada pela Diplomata Industrial e Comercial, que também pertence à família Kaefer.
Xaxim tem capacidade de abate de 330 mil aves diariamente, mas de início vai abater 150 mil frangos. Kaefer estima que serão contratadas 900 pessoas para retomar as operações. A Globoaves pretende exportar toda a produção de Xaxim.
Em comunicado, o presidente da Coopercentral Aurora, José Zeferino Pedroso, informou que o arrendamento do complexo industrial de Chapecó é por tempo indeterminado e que a empresa pretende exercer a opção de compra em dois anos. A unidade tem capacidade de abate de 2.800 suínos\dia, mas inicialmente o abate deve ser de 1,8 mil animais por dia. De acordo com Pedroso, inicialmente não haverá abate e as carcaças de animais abatidos no frigorífico da Aurora serão transferidas para a fábrica arrendada como matéria-prima para industrialização. A expectativa é contratar cerca de 600 empregados até o segundo semestre do ano que vem.
De acordo com Celso Schimtz, a solução encontrada para o frigorífico Chapecó resolve o problema social que a crise causou. Ele estima que a empresa gere 5 mil empregos diretos nas regiões onde está instalada, além de 20 mil indiretos.
Foi exatamente por se tratar de uma questão de forte impacto social que vários políticos da região Sul se envolveram na crise do frigorífico. O prefeito de Chapecó, o petista Pedro Uczai, participou ativamente das negociações e levou o tema até o ministro da Casa Civil, José Dirceu. Por esse motivo, o anúncio dos arrendamentos foi feito no Palácio do Planalto, com a presença do ministro e até do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Outro petista, o ministro da Pesca, José Fritsch, ex-prefeito da Chapecó, também participou das negociações. Germano Rigotto, governador do Rio Grande do Sul, esteve no circuito e foi o portador da proposta da gaúcha Alibem pela unidade de Santa Rosa.