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Greve da Receita já afeta as exportações


A greve dos fiscais da Receita Federal prejudicou o desempenho do comércio exterior brasileiro na semana passada. De acordo com boletim do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações caíram 10,7% da primeira para a segunda semana do mês por causa da paralisação dos auditores fiscais e técnicos da Receita, que afetou as atividades nas aduanas dos portos e aeroportos. Apesar da redução das exportações, a balança comercial registrou um superávit de US$ 381 milhões na segunda semana de junho. No período, as exportações somaram US$ 1,27 bilhão para um total de US$ 889 milhões de importações. Com o superávit da segunda semana, o saldo da balança comercial subiu para US$ 727 milhões em julho e US$ 11,125 bilhões no ano.

Pelos dados do Ministério do Desenvolvimento, a média diária das exportações caiu de US$ 284,8 milhões para US$ 254 milhões da primeira para a segunda semana. Nesse período, as vendas de produtos semimanufaturados tiveram uma retração de 39,8% e de manufaturados caíram 5,6%. As exportações acumuladas nas duas primeiras semanas do mês apresentam, pela média diária, um recuo de 8,9% em relação a junho. Os técnicos do Ministério do Desenvolvimento atribuíram essa retração à redução das vendas de produtos básicos e manufaturados.

As exportações nas duas primeiras do mês também recuaram em relação a julho do ano passado: queda até agora de 1,1%. Esse recuo refletiu a redução de 14,1% nos embarques de produtos básicos, principalmente de petróleo em bruto, farelo de soja, café, minérios e soja em grão.

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Benedicto Moreira, encaminhou um ofício ao secretário da Receita, Jorge Rachid, pedindo um esquema emergencial de liberação de mercadorias ainda nesta semana. Esse esquema, que já foi usado anteriormente, permite aos exportadores e importadores fazerem o registro das mercadorias posteriormente, e assim não paralisa o comércio exterior. "Não podemos deixar que essa greve paralise o País", diz Moreira. Segundo ele, os atrasos nos embarques podem causar danos irreversíveis à credibilidade do Brasil lá fora. "Muitos exportadores vão perder contratos por causa de atrasos", diz.

Hoje, segundo informações do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco), os auditores da receita devem entrar em greve de 72 horas e os técnicos, de 48 horas. Eles protestam contra o projeto de reforma da Previdência. "No fim da semana, os estoques vão atingir o limite nos portos e aeroportos, o que deve causar mais atrasos", diz Marcelo Escobar, presidente do Unafisco-SP.

Para o economista da Tendências Consultoria Integrada, Julio Callegari, as importações também foram afetadas pela greve dos fiscais. Segundo ele, a média diária das importações na segunda semana, de US$ 177,8 milhões está bem abaixo da verificada nas últimas semanas. Ele ressaltou que o mês de julho não é marcado por efeitos sazonais no lado das importações, como tradicionalmente ocorre em janeiro e fevereiro, quando as compras externas tendem a cair.

Do lado das exportações, Callegari acredita que a queda das vendas na segunda semana se deve muito mais à greve do que a um sinal de desaceleração das exportações. Ele ressaltou que os dados da balança comercial de 2002 estão distorcidos pela greve dos auditores fiscais no ano passado, que afetou os registros.

O professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Roberto Iglesias acha que é cedo para se observar uma desaceleração das exportações. "Pelo fato da demanda interna estar ruim, ainda teremos boas exportações também no segundo semestre."

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