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Hortaliças sofisticadas atraem paladares de alto poder aquisitivo

Por muitos anos, chefs e gourmets foram obrigados a fazer uma verdadeira via crucis em feiras para garantir uma oferta variada de itens para a confecção de seus pratos


Alcachofra, alface lollo rossa, chicória frisé, radicchio. Por muitos anos, chefs e gourmets foram obrigados a fazer uma verdadeira via crucis em feiras para garantir uma oferta variada de itens para a confecção de seus pratos. Mas, ainda que exóticas e caras para a maioria da população, essas hortaliças, muitas vezes produzidas com sementes importadas, já conquistaram o paladar dos brasileiros de maior poder aquisitivo e, com isso, começam a ganhar terreno nas gôndolas de empórios e de supermercados.

O sansei Luís Yano percebeu há algum tempo que o gosto por hortaliças exóticas não era uma exclusividade de sua avó, que importava sementes para garantir os ingredientes de pratos tradicionais japoneses. Tradicional produtor de alcachofras em Mogi das Cruzes (SP), Yano diversifica a oferta de produtos há dois anos, em uma área de 4,84 hectares.

"Não dava para competir com os vizinhos porque minha área é pequena. O produtor tem que plantar hortaliças mais diversificadas para ter uma renda melhor". Ele conta começou a plantar uma alface vermelha para consumo próprio, mas que o exotismo da "hortaliça chique" chamou a atenção de vizinhos e comerciantes locais, que passaram a encomendar o produto.

Hoje, Yano produz comercialmente várias hortaliças de alto valor agregado, como radicchio (tipo de repolho em miniatura nas cores verde, roxo e laranja), chicória frisé ou endívia, rabanetes coloridos, mini-repolho, rúcula italiana, alface lollo rossa (tipo de alface crespa, de cor verde escura e com bordas roxas), agrião e mostarda chinesas. As sementes são importadas da França, do Japão e da Itália. A maior parte da produção é vendida para feirantes e redes de restaurantes de São Paulo.

"A maior procura é de produtos voltados para colônias italianas e chinesas. Mas agora o radicchio, por exemplo, está virando "carne de vaca". Tenho que correr atrás de novidades sempre porque os clientes estão ficando muito exigentes", afirma Yano. As hortaliças exóticas, segundo ele, chegam a valer 40% mais que produtos convencionais, como alface e repolho.

A família Oliveira, dona da empresa Viva Natural, também percebeu que os vegetais "chiques" são uma garantia de venda e de aumento da rentabilidade. A família iniciou a produção de legumes e verduras há 40 anos, em um sítio na região de Santo Amaro, na capital paulista. Há 11 anos, a família passou a produzir vegetais exóticos. A lista chega a 150 itens, que antes de ir às gôndolas de empórios e supermercados, são higienizados e embalados. "Antes a venda era feita a granel, mas não fazia muito sucesso. Foi quando a família decidiu explorar os produtos exóticos para atender a públicos A e B. Foi aí que a empresa começou a crescer", afirma Patrik Ricardo, gerente comercial da Viva Natural.

Cerca de 80% das vendas são em São Paulo. Para garantir a oferta das hortaliças, a empresa mantém contratos com 20 agricultores. "Em alguns casos, compramos toda a produção do agricultor". Ricardo calcula que a empresa venda em média 10 mil embalagens de vegetais por dia para redes varejistas de São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, o que garante uma renda média de R$ 700 mil por mês.

No segmento de cogumelos - que embora sejam fungos são enquadrados na mesma categoria de hortaliças exóticas pelo setor varejista - também há demanda por novas variedades, diz Denise Abackerli, gerente técnica da Fiori di Zucca, sediada em Salto (SP) e especializada na produção de cogumelos.

Além de variedades já conhecidas do público, como shitaki, shimeji e funghi, a empresa pretende lançar uma linha de cogumelos brasileiros, tudo para saciar o paladar dos consumidores ávidos por novidades. Todos são produzidos na fazenda Guarujá, que é da família, e vendidos in natura ou processados para redes como Pão de Açúcar, Wal-Mart e Carrefour.

"Cresce a procura por alimentos considerados saudáveis e pouco calóricos e que sejam processados e de fácil preparo", observa Denise. A popularização da culinária japonesa e francesa também colaboraram para o aumento da demanda por cogumelos no país, completa. Ela prefere manter em sigilo o volume e a receita geradas, mas garante que as vendas da empresa crescem entre 10% e 15% ao ano.

Sandra Caires, gerente de compras de frutas e hortaliças do grupo Pão de Açúcar, confirma que praticidade é fator determinante no processo de mudança do consumo de hortaliças - que comercialmente migra das feiras para as redes de varejo e, qualitativamente, passa de produtos in natura para os processados. "As pessoas querem comodidade. O que se nota é uma substituição da venda de produtos in natura por itens prontos ou semi-prontos", diz Sandra.

O Pão de Açúcar iniciou a venda de vegetais chiques em março deste ano e hoje, de 1,5 tonelada de hortaliças que vende por dia no país, 5% são de vegetais chiques - comercializados sobretudo em unidades do Pão de Açúcar e Extra localizados em bairros nobres de São Paulo e Rio de Janeiro.

A rede Hortifruti, que comercializa vegetais exóticos há três anos no Espírito Santo, Rio e São Paulo, também registra um aumento de 20% nas vendas desses itens, segundo Wellington José Correa, gerente da Hortifruti. Na paulistana Varanda Frutas, que comercializa 3 mil unidades de vegetais chiques por mês, a demanda também cresce 20% neste ano, conforme Argeu Tavares, diretor da empresa.

No paulistano Empório Santa Luzia, a busca por praticidade chegou ao seu limite: a febre de consumo são os produtos mini (erva-doce, pepino, berinjela, chuchu, entre outros). "Muitos já são apaixonados por esses vegetais e querem dar um toque diferenciado ao prato", diz Jorge da Conceição Lopes, diretor da empresa. O Empório Santa Luzia estreou neste segmento há três anos e já conta com 16 itens exóticos, entre 1,1 mil hortaliças e frutas. "A procura tem crescido e há um grande potencial de expansão deste mercado", afirma.

Não existem estatísticas disponíveis sobre este segmento. De acordo com dados da Embrapa Hortaliças, a produção total de hortaliças tem se mantido estável, entre 17 milhões e 18 milhões de toneladas por ano.

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