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ILPF: modelo ideal de sustentabilidade

Sistema se tornará maior revolução na produção quando houver firme consciência, diz Eng. Florestal


"A utilização do sistema ILPF deverá se tornar a maior revolução na produção a partir do momento que houver a firme consciência por parte dos produtores", diz o engenheiro florestal Célio Ferreira

A sustentabilidade está relacionada, atualmente, não só como uma questão de responsabilidade ambiental, mas como um critério de mercado. Contemplar questões pertinentes ao uso conservacionista do solo, a produção e conservação da água tornou-se uma premissa para o produtor. Nesse cenário, a integração dos componentes pecuário, agrícola e florestal apresenta-se como grande potencial de benefícios econômicos e ambientais para os produtores e para a sociedade. São sistemas multifuncionais, onde existe a possibilidade de intensificar a produção pelo manejo integrado dos recursos naturais evitando sua degradação, além de recuperar sua capacidade produtiva.

Em entrevista ao Agrolink, o engenheiro florestal Célio Ferreira, da Consultoria Florestal 4 Folhas, do Paraná, especialista em sistemas silvipastoris, fala sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Ele aborda informações sobre seu egresso profissional, demandas da área em que atua e importantes informações a partir da Medida Provisória que discorre sobre a nova lei ambiental brasileira.

Agrolink - Fale um pouco sobre sua atuação profissional.

Célio Ferreira - Sou engenheiro florestal, formado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) em 1982. Filho de sitiantes, nascido em Santa Catarina, vivíamos subsistindo do pequeno sitio em Arroio Trinta. Aos 13 anos fui morar em Palotina, interior do Paraná. Aos 16 anos, conheci um manual de profissões e lá escolhi “engenharia florestal”. Foi o primeiro passo, entretanto as dificuldades eram muitas e somente aos 21 anos consegui, com muito sacrifício, vir para Curitiba com intuito de estudar. Felizmente no primeiro e único vestibular prestado tive êxito.

Minha carreira profissional foi traçada de acordo com as oportunidades surgidas e pautadas no desenvolvimento florestal, pecuária e agricultura. Não na maneira como é conduzida hoje, e sim de forma isolada.

Hoje, com empresa de consultoria, atuamos numa gama de atividades muito distinta e faz com que às vezes percamos de certa forma o enfoque específico. Entretanto, tendo como parceiros alguns profissionais e empreendedores do setor vamos cumprindo nosso papel em prol do desenvolvimento sustentável.

Agrolink - De que maneira a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) pode contribuir para o meio ambiente?

Célio Ferreira - O sistema de produção integrada entre agricultura, pecuária e floresta, talvez seja o modelo ideal de sustentabilidade do setor agrário. A utilização no mesmo ambiente de três atividades distintas, destacando-se o planejamento individual e em conjunto, pode-se oportunizar o tríplice conceito de atividade socialmente justa, ambientalmente correta e viável sob o ponto de vista econômico. Evidentemente que sempre requer planejamento, pois cada imóvel apresenta características especificas e com base nelas, poderemos obter o máximo resultado.

As condições e características do solo, topografia, clima, estrutura financeira do proprietário, equipamentos disponíveis, terceirização de etapas do processo, espécies florestais, logística, mercado consumidor de madeira e tantos outros fatores, sempre devem ser muito bem avaliados.

Não necessariamente o proprietário deve se habilitar, se equipar e se aperfeiçoar para desenvolver o sistema, mas pode desenvolver uma parceria principalmente no inicio do processo.

A principal vantagem que se atribui ao sistema ILPF é a transformação do solo visando sua otimização e dinamização na produção, aumentando índices de produtividade nos três segmentos. A implantação do sistema estabelece uma intrínseca relação dos seres envolvidos, desenvolvendo praticamente um microclima, iniciando com a ciclagem de nutrientes com maior intensidade, proporcionando maior conforto térmico aos animais e conseqüentemente maior produtividade e indiretamente proporcionando melhor desempenho florestal e assim, os três elementos resultando além da diminuição de riscos, diversificação dos resultados ao produtor.

O efeito da distribuição das árvores na conservação do solo é obtido através das copas e raízes, envolvendo importante papel no controle da erosão causada tanto pelo vento (eólica), quanto pela chuva (hídrica), além de proporcionar maior infiltração no solo, disponibilizando tanto para a pastagem como para a floresta. Também contribuem na manutenção do teor adequado de matéria orgânica na superfície e na agregação das partículas do solo, reduzindo o escoamento superficial da água. Aproveitam ainda, os nutrientes das camadas mais profundas, transportando-os para a superfície e disponibilizando para as raízes das gramíneas, além de repor vários nutrientes através da queda e incorporação gradativa das folhas, flores, frutos e galhos no solo. É a chamada ciclagem de nutrientes.

Outras vantagens do sistema em relação ao meio ambiente podem ser enumeradas como a redução do uso de equipamentos e revolvimento do solo, redução do uso de fertilizantes artificiais, do uso de defensivos, seqüestro de carbono, entre tantos outros e não deixando de destacar o efeito social pela produção de alimentos seguros e geração de empregos nos diferentes elos da cadeia produtiva.

A utilização do sistema ILPF deverá se tornar a maior revolução na produção a partir do momento que houver a firme consciência por parte dos produtores detentores de milhões de hectares de solo degradado (pastagens), que proporcionará talvez, dobrar a produção agropecuária sem necessitar desbravar novas fronteiras.

Agrolink - A floresta usada em integração Lavoura/Pecuária/Floresta pode ser incluída como reserva legal?

Célio Ferreira - Não. A floresta do sistema não pode ser utilizada como Reserva Legal, pois ela se incorpora no contexto produtivo, integrada à produção pecuária e lavoura onde com certa periodicidade sofre interferência de equipamentos agrícolas e florestais.

Agrolink - Quais os principais passos que o produtor deve tomar ao elaborar um projeto de ILPF?

Célio Ferreira - Basicamente, o produtor necessita de uma orientação técnica de profissional habilitado e conhecedor do sistema e das suas variáveis. Entre tantas pode-se destacar:

• Avaliação das características do solo;
• Estabelecer setores da propriedade para intervenção imediata ou programada;
• Programação de rodízio de implantação do sistema dentro da propriedade;
• Disponibilidade de equipamentos (próprios ou de terceiros);
• Possibilidade de arrendamento da área para preparo inicial com agricultura;
• Conservação do solo;
• Culturas a serem implantadas como lavoura;
• Espécies forrageiras a serem implantadas com objetivo da pecuária;
• Espécies florestais a serem implantadas, com ênfase ao seu objetivo no sistema como também demanda do material lenhoso;
• Espaçamento de plantio das espécies florestais.

Agrolink - Qual o principal desafio de um Eng. Florestal diante no novo Código Florestal?

Célio Ferreira - A função do engenheiro florestal sempre foi e será de um elemento fundamental no setor produtivo aliado à preservação e conservação do meio ambiente. É preciso agir, entretanto agir com consciência, coerência, ponderação. O engenheiro florestal deve atuar sempre à margem da Lei e do Código Florestal Brasileiro (CFB) antigo e suas Leis complementares ou ao novo Código. De maneira geral, o setor florestal é o que mais preserva e cumpre as leis ambientais. Coube o ônus de degradação ocorrido no Brasil, aos desbravadores e ao conseqüente avanço da fronteira agrícola. Alguns por ímpeto capitalista, outros por simples negligência, entretanto espera-se que o novo CFB possa direcionar efetivamente para um Brasil altamente sustentável e produtivo.

Agrolink - Qual o perfil para um profissional que vai se formar em Engenharia Florestal?

Célio Ferreira - A engenharia florestal é uma ciência e esta, por ser biológica, não é exata, porém necessita ser coerente. O engenheiro florestal necessita ter um perfil cujas raízes devem estar rigorosamente no solo. É responsável pela melhoria dos processos de manejo de florestas e de produção de bens florestais, como madeira, celulose e papel. Também atua no aprimoramento dos serviços florestais, que incluem atividades de conservação, recreação e lazer, além de avaliar os impactos ambientais de empreendimentos nos ecossistemas naturais e trabalhar na recuperação de áreas degradadas.

As funções do Engenheiro Florestal estão fortemente vinculadas a aspectos econômicos, sociais e ambientais. Hoje, um dos grandes desafios de muitos profissionais da área é produzir com sustentabilidade, utilizando os recursos naturais das florestas de forma mais racional possível, através de técnicas de bom manejo silvicultural.

O Brasil apresenta o setor florestal como uma das atividades que mais desenvolveu cientificamente e tecnicamente, superando qualquer expectativa existente três a quatro décadas atrás. Tudo isso com muita coerência e ponderação para o desenvolvimento sustentável.

Um grande desafio para o setor florestal é produzir riquezas, aliada à preservação dos recursos florestais e recuperação das áreas degradadas.

Agrolink - O que julgas necessário hoje, que não teve em sua formação?

Célio Ferreira - Eu acredito que qualquer que seja o curso ou a profissão escolhida, a escola serve de base e orientação para o profissional. Cabe a ele a perspicácia e capacidade própria de desenvolver e aplicar o melhor para uma sociedade mais justa. Isso pode ser alcançado através da pesquisa, educação, conscientização e ciência.

Agrolink - Que dica daria pra quem está se formando agora? É um campo de trabalho promissor?

Célio Ferreira - É uma profissão nobre e de extrema importância para o mundo onde o profissional tem de conduzir a produção florestal, levando em conta o bem estar da sociedade e a preservação dos recursos naturais para as gerações futuras. A proteção de mananciais, o seqüestro de carbono, o aumento da biodiversidade são caminhos a serem trilhados para a diminuição da pobreza rural. Hajam sempre com muita prudência e coerência, pois diante dos seus atos, grande parte da população mundial depende destas ações.
 
*Colaboração de Lucas Amaral

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