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Inadimplência agrícola está próxima a zero


A inadimplência dos produtores agropecuários brasileiros que recorrem ao crédito rural para financiar suas atividades parece estar em vias de extinção. Problema de grandes proporções até a década de 90, esse tipo de 'calote' vem rareando nos últimos anos, basicamente em razão da renegociação das vultosas dívidas do passado e da atual fase de capitalização crescente do campo, principalmente no que se refere aos produtos de exportação.

No caso do Banco do Brasil, maior agente liberador de recursos de crédito rural do país, o índice de inadimplência está abaixo de 1% desde 2000, sendo que nas duas últimas safras foi inferior a 0,6%. Para os bancos privados, tradicionalmente mais exigentes nesse tipo de liberação, o índice também está estacionado abaixo de 1%.

O bom desempenho dos agronegócios - que, em geral, vêm apresentando sucessivos aumentos de eficiência e produção, com preços remuneradores - e o maior rigor dos bancos nas operações favorecem a adimplência, mas o divisor de águas para o setor - o que 'limpou a ficha' da maioria dos produtores - foi mesmo a renegociação bilionária das dívidas em 1999. Na época, o rombo era estimado pelo mercado em cerca de R$ 30 bilhões, e essas dívidas foram roladas pelo governo federal por até 25 anos.

O cenário não significa, contudo, que a liberação de crédito está mais fácil. É verdade que a burocracia bancária diminuiu consideravelmente, mas os cuidados das instituições em abrir o caixa também. Para os bancos, bom pagador é aquele que tem histórico idôneo. 'O banco não empresta além da capacidade de endividamento do produtor', afirma Ricardo Conceição, vice-presidente de Agronegócio e Relações com o Governo do BB.

Nos privados, o funil é mais estreito, mas, como acontece também no BB, o fluxo de liberações tem aumentado. Enquanto o Banco do Brasil deve disponibilizar R$ 20 bilhões em crédito rural nesta temporada 2003/04, os bancos privados devem ser responsáveis por outros R$ 20 bilhões em financiamentos - dos quais cerca de R$ 10 bilhões a taxas controladas.

No período crítico da agricultura, da metade da década de 80 ao fim dos anos 90, chegou a deixar os agricultores à margem do sistema financeiro, segundo o professor Guilherme Dias, professor da USP. 'As sucessivas mudanças de planos econômicos criaram um descompasso entre as taxas de correção das dívidas e o valor da produção'. Mas o governo, com a renegociação, deu fôlego aos produtores.

Conforme Adilton Sachet, um dos maiores produtores de soja e algodão do Mato Grosso, a renegociação tirou a pressão imediata da liquidação da dívida. Ele próprio se beneficia, hoje, do alongamento da dívida.

Mas nem todos ficaram satisfeitos. 'A renegociação deu fôlego ao setor. Mas, no caso do café, temos o agravante de três anos de preços baixos', afirma Luiz Hafers, tradicional produtor e ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB). A dívida passada dos cafeicultores chega a R$ 1,7 bilhão.

Na metade dos anos 90, cafeicultores, usineiros e arrozeiros encabeçaram o ranking dos maiores inadimplentes. Analistas lembram, entretanto, que na época essas áreas enfrentaram superoferta, o que pressionou as cotações. Mas, mesmo nesses segmentos, os inadimplentes de outrora estão melhor cotados pelos bancos. 'O mau pagador de ontem é o bom pagador de hoje', afirma Dias.

Curiosa é a situação dos produtores de soja, que, em geral, estão entre os mais capitalizados do país. Até por isso eles dependem menos de crédito rural e, teoricamente, representam um risco menor.

Mas o temor em relação à comercialização de soja transgênica fez crescer o risco, informa uma fonte ligada aos bancos privados. Procurado pelo Valor, o Ministério da Fazenda informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que problemas burocráticos o impediram de fornecer o cálculo atualizado das dívidas passadas do campo.

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