Soja enfrenta cenário de incertezas e disputa por mercado
China segura compras com estoques elevados

A soja brasileira está no centro de um cenário volátil influenciado por fatores climáticos, comerciais e cambiais. A commodity atravessa um momento de instabilidade, em meio à possível imposição de uma segunda onda de tarifas pelos Estados Unidos, que incluiria o Brasil entre os países afetados. A medida, prevista para entrar em vigor a partir de 1º de agosto, amplia as incertezas no mercado global.
Segundo analistas, os desdobramentos da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), as condições climáticas no território norte-americano e a estratégia de compras da China serão decisivos para o reposicionamento das estratégias comerciais nos próximos meses. “O pano de fundo global segue dominado por incertezas políticas e comerciais”, afirma a análise da Hedgepoint Global Markets.
No mercado cambial, a desvalorização do dólar frente a outras moedas, como o real, desafia a competitividade da soja brasileira no cenário internacional. A valorização da moeda brasileira reduz a atratividade dos preços para exportação.
Apesar do ambiente de instabilidade, a safra 2024/25 do Brasil está praticamente consolidada em 170 milhões de toneladas. As exportações podem alcançar um recorde de 109 milhões de toneladas, impulsionadas pela forte demanda chinesa. O mercado interno também deve ganhar fôlego com a entrada em vigor da mistura B15 (15% de biodiesel) a partir de agosto. Para a próxima safra (2025/26), o setor já discute a possibilidade de um novo patamar produtivo, entre 180 e 185 milhões de toneladas, caso clima e tecnologia avancem em conjunto.
Segundo Luiz Roque, coordenador de Inteligência de Mercado da Hedgepoint Global Markets, o segundo semestre será marcado por uma disputa entre a exportação e o mercado doméstico. “Os prêmios (basis) elevados sustentam os preços no momento, compensando parcialmente Chicago e câmbio na formação das cotações”, afirma.
No setor de processamento, as margens de esmagamento seguem pressionadas, mas ainda dentro da sazonalidade. O farelo enfrenta incertezas com o retorno da Argentina ao mercado e o possível aumento da oferta americana. Já o óleo apresenta uma perspectiva mais positiva, com o avanço da mistura obrigatória e a maior demanda interna.
Na China, os estoques permanecem acima de 40 milhões de toneladas pelo terceiro ano consecutivo, o que reduz a urgência por novas compras. “Essa posição reduz o senso de urgência nas compras, o que, somado a margens de esmagamento pouco atrativas, deve limitar a demanda no curto prazo”, avalia a Hedgepoint. Para a safra 2024/25, as importações foram revisadas para 106,5 milhões de toneladas, enquanto para 2025/26 a projeção é de 112 milhões, condicionada à recuperação da rentabilidade do esmagamento.
Nos Estados Unidos, a expectativa é de produtividade recorde, mesmo com redução da área plantada. Segundo o USDA, 70% das lavouras estão em boas ou excelentes condições. A proposta da EPA para ampliar em 67% a mistura de biocombustíveis pode gerar um aumento do esmagamento entre 2,5 e 5 milhões de toneladas.