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Intercâmbio público-privado: Prof. Parra, da Esalq/USP, fala sobre a parceria com o Fundecitrus na área de pesquisa

No final da década de 1990, para estudar o bicho furão, que se apresentava como grande problema


O pesquisador José Roberto Postali Parra, professor titular do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), é referência mundial em controle biológico e, ao longo dos 25 anos de pesquisa do Fundecitrus, atuou em parceria com a instituição em vários projetos nessa área, dentre eles o desenvolvimento da tecnologia de criação em laboratório de Tamarixia radiata, inimigo natural do psilídeo, inseto transmissor do greening, em 2011. Parra é membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Mundial de Ciências para o avanço da ciência nos países em desenvolvimento (TWAS, da sigla em inglês), órgão da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Dentre os prêmios recebidos ao longo de sua carreira está a classe Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, concedido pela Presidência da República por suas relevantes contribuições à ciência.

Quando surgiu a oportunidade de iniciar trabalhos em parceria com o Fundecitrus? Qual foi o primeiro projeto?

No final da década de 1990, para estudar o bicho furão, que se apresentava como grande problema. O Fundecitrus ainda estava em seu início [pesquisa] e não havia tradição em nosso departamento de trabalhar com empresas, exceto as de controle químico. O grande avanço dos intercâmbios se deu com a entrada do Juliano Ayres como diretor científico, iniciando as pesquisas no Fundecitrus com uma estrutura de laboratório bastante ousada. Desde então, temos recebido muito apoio do Fundecitrus.

Ao longo desses anos, que projetos o senhor destaca?

Eu destacaria três projetos, nos quais conseguimos atingir os objetivos propostos, resolvendo sérios problemas da citricultura. O primeiro foi o desenvolvimento e síntese do feromônio do bicho furão, em 2000, que conseguiu atingir diretamente o agricultor e permitiu que se aplicasse o inseticida no momento correto. Uma publicação em 2016 mostrou que, com a tecnologia por nós desenvolvida, o citricultor deixou de gastar, de 2002 a 2012, cerca de 1,3 bilhão de dólares.

O segundo grande trabalho foi o projeto de controle biológico do minador dos citros com Ageniaspis citricola, em 1998. Foram desenvolvidos uma tecnologia de produção do parasitoide e o feromônio do minador.

Por último, para controle do greening, a criação de Tamarixia radiata, com uma tecnologia por nós desenvolvida, para soltura nos focos externos de contaminação. Hoje são produzidas 1 milhão de vespinhas por mês por cerca de sete biofábricas no estado de São Paulo.

Atualmente, que projetos estão em andamento junto ao Fundecitrus?

Os projetos continuam. Com o abandono da utilização do feromônio do bicho furão, a praga reapareceu com muita intensidade nos últimos 2-3 anos. Será reativada a transferência de tecnologia ao citricultor, bem como o desenvolvimento de feromônio de confundimento para o controle do bicho furão no campo e seu controle com o parasitoide Trichogramma atopovirilia.

Qual a importância da parceria com o Fundecitrus?

A parceria com o Fudecitrus tem sido fundamental pela visibilidade que os projetos nos deram e, sobretudo, pela oportunidade de ver as nossas pesquisas sendo utilizadas pelo citricultor.

O senhor é especialista em controle biológico. Como vê a evolução de seu uso na agricultura e citricultura?

O controle biológico tem crescido mais no Brasil do que no mundo, especialmente com microrganismos, e eu enxergo uma oportunidade de ver tudo aquilo que sonhei em minha vida acadêmica se tornar realidade. Deverei agora coordenar um centro de controle biológico na Esalq/USP, financiado pela Fapesp [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] e Koppert [empresa de proteção biológica], que dará maior visibilidade ao controle biológico em todo o país. A citricultura é realmente diferente no Brasil. A despeito de usar muito inseticida, é a cultura que mais divulgou o controle biológico nos últimos anos. O manejo externo utilizando Tamarixia radiata é inédito no mundo. Eu sempre vi no controle biológico uma oportunidade para o Brasil se destacar pela riqueza da nossa biodiversidade. Eu acho que agora chegou a hora. As modernas técnicas de criação de insetos e as novas formulações de microrganismos facilitarão tais avanços.

A pesquisa no Brasil vem passando por dificuldades orçamentárias. As instituições privadas de pesquisa devem ganhar importância nesse cenário?

Eu acho que existem problemas para se desenvolver pesquisas em qualquer lugar do mundo, pois elas exigem recursos, às vezes altos. Atualmente, diferente do passado, há um forte incentivo para se trabalhar com empresas. O futuro está nessa associação cada vez mais intensa, e o Fundecitrus ocupa posição de destaque cada vez maior nessa parceria.

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