Para atender ao crescimento surpreendente dos pedidos de máquinas agrícolas na América Latina, além de vendas novas e significativas para a Europa, Ásia e norte da África, a John Deere deverá anunciar em breve investimento para aumentar a produção no Brasil, país que responde por US$ 500 milhões dos US$ 15 bilhões faturados pelo grupo.
Enquanto planeja a nova unidade, a John Deere utiliza à plena capacidade a fabrica de Horizontina (RS), considerada a mais moderna entre as 32 unidades do conglomerado norte-americano.
A produção diária é de 32 tratores, 18 colheitadeiras e 10 plantadeiras, trabalho feito em três turnos por 2,8 mil funcionários, moradores da pequena cidade do oeste gaúcho, a 500 quilômetros de Porto Alegre e a apenas 18 quilômetros em linha reta da divisa com a Argentina. O país vizinho, graças à inesperada recuperação do setor agrícola, tem absorvido quase metade das exportações da John Deere Brasil, o equivalente a um quarto de toda a produção em Horizontina.
Segundo Paulo Renato Hermann, diretor comercial da John Deere Brasil, a unidade de Horizontina é o retrato da maioria das fábricas de máquinas e implementos agrícolas do País, que operam à plena carga para dar conta das encomendas, metade vinda do mercado internacional.
Neste mercado, a John Deere tem apresentado os maiores índices de crescimento. No último ano fiscal, encerrado em outubro de 2003, a companhia exportou 1.362 colheitadeiras e 1.546 tratores, o que representa aumentos de, respectivamente, 212% e 375% em relação ao exercício anterior. Só a Argentina adquiriu 664 unidades, o equivalente a um crescimento de 591,7% ante as 96 unidades de 2002. Em tratores, as compras argentinas saltaram de 49 para 742, ou seja, 1.414,3%.
O desempenho da John Deere é mais excepcional neste ano. As exportações no semestre fiscal de novembro a abril totalizaram 1.559 tratores e 1.331 colheitadeiras, equivalente a todo exercício de 2003. Novamente, a Argentina foi a responsável pelas exportações, com a aquisição de 705 tratores (+ 217,6%) e de 670 colheitadeiras (+73,6%) no semestre.
"A recuperação da agricultura na Argentina foi surpreendente", diz Robson Cardoso Zófilo, diretor de exportações da John Deere. Hermann explica que a retomada no país vizinho deve-se à alta no preço das commodities e à decisão do ex-presidente Eduardo Duhalde de "pesificar" a dívida dos produtores rurais, enquanto o dólar caminhava para uma valorização de três vezes em relação ao peso. "Com a dívida reduzida a um terço do total e uma safra valorizada, sobrou dinheiro para os argentinos investirem em sementes, adubos, tratores e colheitadeiras", diz.
Segundo Zófilo, a pecuária no país vizinho cedeu espaço para a agricultura muito rapidamente. O diretor de exportações informa que boa parte do mercado argentino de máquinas agrícolas continua nas mãos de terceiros, os chamados "contratistas", que prestam serviços do plantio à colheita, de norte a sul da Argentina. "Mas, aos poucos, começa a surgir na Argentina a figura do produtor rural auto-suficiente".
Não menos importantes para a John Deere Brasil estão os mercados no Paraguai (160 tratores e 168 colheitadeiras no semestre fiscal), Venezuela (400 tratores no mesmo período), Marrocos (100 tratores), Europa (353 colheitadeiras) e Ásia (107 tratores). "Precisamos diversificar os destinos para diminuir os riscos de mercado e cambial".
Segundo Zófilo, outra motivação para buscar novos mercados de exportação é o equilíbrio da balança interna. Embora a balança seja positiva, a John Deere Brasil importa motores de Rosário, na Argentina, além de tratores de alta potência e colheitadeiras de algodão dos Estados Unidos.
Em abril, a John Deere recebeu no porto de Santos um lote de 109 "cotton pickers", fabricadas em Des Moines, no estado norte-americano de Iowa. As colheitadeiras de algodão foram transportadas em quilométricos comboios de carretas para Cuiabá (MT), Catalão e Anápolis (GO), como parte da maior importação da empresa.
"A exportação é fruto de ações demoradas, que envolvem qualidade na produção e um relacionamento de confiança entre as partes", afirma Hermann. É por isso que a John Deere receberá 7 mil visitantes neste ano e investe, desde 1999, entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões anuais no desenvolvimento de produtos e na melhoria dos processos produtivos. No ano passado, por exemplo, a fábrica de Horizontina inaugurou uma das mais modernas linhas de pintura do mundo, ao custo de US$ 12,5 milhões, o que fez a produção deslanchar.
Para agilizar a produção, a empresa também atrai fornecedores para Horizontina, município de apenas 17 mil habitantes. Um dos primeiros a chegar foi a Rototec, de São Leopoldo (RS), que fabrica os reservatórios plásticos para sementes e fertilizantes das plantadeiras e os tanques de combustível que equipam tratores e colheitadeiras. Outros seis fornecedores estão se instalando ao lado da fábrica gaúcha, o que garante mais empregos à população descendente de alemães, italianos e poloneses.
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