A lagarta-do-cartucho ou lagarta-militar, Spodoptera frugiperda é considerada a principal praga em milho. A mariposa faz a postura nas folhas de milho, em grupos de 50 a 800 ovos, podendo chegar a mais de 1.000 ovos por fêmea. O período de duração das fases de ovo, de larva, de pupa e de adulto completa-se em torno de 3, 25, 11 e 12 dias respectivamente. O canibalismo entre larvas ocorre quando criadas em condições de laboratório. No campo a postura é aglomerada e a disseminação das lagartas ocorre pelo deslocamento entre plantas, durante a noite. A lagarta-do-cartucho ainda é a praga que causa maior preocupação ao agricultor. A capacidade de danos da lagarta é influenciada pelo vigor da planta e pelo clima.
Na região tropical, os danos podem ser severos, com até 60 % de redução no rendimento de grãos (Cruz 1992). Em milho safrinha, em períodos de seca, a lagarta ocorre desde a germinação até a fase de maturação, causando danos semelhantes aos de outras lagartas. As larvas jovens consomem parte das folhas e mantém a epiderme intacta, sugerindo o sintoma de raspagem. As lagartas maiores desenvolvem-se no cartucho do milho, perfurando as folhas e reduzindo a área foliar. A lagarta pode broquear a base da planta, causando dano semelhante ao da lagarta-rosca e, também penetrar na espiga, à semelhança da lagarta-da-espiga. O dano em espigas é observado com freqüência no norte do Paraná e na região tropical.
A partir da fase de pendoamento, desaparece o cartucho e a lagarta penetra na espiga, onde busca proteção. Plantas de milho, infestadas com a lagarta-do-cartucho, sofrem injúrias com maior intensidade na fase entre quatro a seis folhas, porém, sem causar redução proporcional no rendimento de grãos. Os danos maiores ocorrem na fase de oito a dez folhas, podendo reduzir 19 % no rendimento. Na fase até seis folhas e a partir de 12 folhas, os danos da lagarta-do-cartucho são inferiores a 9 % da produção de grãos (Cruz e Turpin 1982). Estudos realizados no sul do Brasil evidenciam que as plantas, atacadas pela lagarta-do-cartucho na fase de oito folhas, mostraram produções equivalentes as das plantas sem danos, em períodos com chuvas normais.
Esses resultados sugerem que não há resposta na produção de grãos de milho, com o controle da lagarta, durante períodos de chuvas regulares. A lagarta-do-cartucho também ataca plântulas de soja e de feijão. Em geral não se alimenta das folhas, mas pode cortar o caule tenro de plântulas de soja e feijão com danos em áreas extensivas, com necessidade de replantio. Também pode consumir a casca na base de plantas de feijão e soja, com sintomas que podem ser confundidos com os de outras pragas. A lagarta-do-cartucho, às vezes é confundida com a lagarta-do-trigo, Pseudaletia sequax. A diferenciação das duas espécies é importante pela localização na planta, maior dificuldade no controle da lagarta-do-cartucho e pelas diferenças entre inseticidas e doses eficientes para cada uma das lagartas.
A decisão de controle da lagarta-do-cartucho, em geral, é tomada com base no sintoma externo de folhas perfuradas, sem comprovar a presença de larvas no interior do cartucho da planta de milho. Entre as dificuldades, para o controle químico, pode-se destacar a localização da lagarta dentro do cartucho do milho, impedindo o contato com o inseticida e a possibilidade de ressurgência da praga devido à morte de inimigos naturais. Durante períodos de seca na fase até três semanas após a semeadura, a lagarta-do-cartucho causa danos severos. Nessas situações o controle torna-se necessário nas lavouras em que o potencial de rendimento é superior a 5 t/ha.
Durante períodos com temperatura elevada e teores de água muito baixos no solo, a planta reduz o crescimento e a possibilidade de tolerar os danos da praga, enquanto a lagarta consome maior quantidade de alimento e pode causar até a morte de plantas. A aplicação de inseticidas, via líquida, deve ser feita nas horas de maior teor de umidade relativa no ar, usando-se bicos de gotas grandes, direcionados para o topo e para o centro do cartucho. Mesmo com esses cuidados, a possibilidade de atingir a praga com inseticida e causar a sua morte é relativamente baixa. Resultados de experimentos evidenciam que os inseticidas, disponíveis no mercado para tratamento de sementes e granulados, aplicados na semeadura, apresentam índices de controle variados e não garantem a proteção contra a lagarta-do-cartucho. Nas cultivares de milho, com cartucho mais fechado, tem-se observado populações menores da lagarta, provavelmente por beneficiar a ação de microrganismos no controle biológico natural da praga.
A tesourinha, Doru spp. é um dos principais predadores de ovos e larvas pequenas. Os inseticidas de amplo espectro de ação matam esse e outros inimigos naturais, predispondo à reinfestação rápida. Por outro lado, a morte de predadores e de parasitóides, causada por inseticidas de amplo espectro de ação, pode favorecer a explosão populacional de pulgões e de tripes, nas lavouras em que se controla a lagarta-do-cartucho.