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Lei de transgênicos preocupa Argentina


Decisão do governo brasileiro de obrigar rotulagem de OGMs provoca protestos do país vizinho. A Argentina decidiu protestar formalmente contra a decisão do governo brasileiro, em vigor desde segunda-feira, que obriga a etiquetagem específica nos produtos que contenham organismos geneticamente modificados (OGMs). Segundo a nova regra, o consumidor terá de ser informado pelo rótulo se está comprando produto transgênico. Numa entrevista a correspondentes estrangeiros, ontem pela manhã em Buenos Aires, o ministro das Relações Exteriores, Carlos Ruckauf, mostrou-se irritado com a medida que o teria tomado de surpresa e previu que transmitiria ontem mesmo seu repúdio ao chanceler brasileiro Celso Amorim.

Políticas conjuntas

Embora Ruckauf não tenha sido explícito, os exportadores argentinos sairiam prejudicados por dois motivos básicos: primeiro, porque terão custos adicionais para criar em curtíssimo prazo embalagens específicas para o mercado brasileiro; depois, porque o mero aviso no rótulo tende a assustar o consumidor e significar perda nas vendas. "Temos controle sobre nossa produção de cereais e a segurança de que não prejudicam o consumidor", afirmou ele.

O ministro argentino preferiu não contabilizar os prejuízos potenciais para seu país a partir da nova regra brasileira, mas números do Ministério da Economia mostram que entre produtos transgênicos e os que contêm algum tipo de adesão dessa natureza - como a carne bovina, produzida a partir da engorda do boi com rações que levam soja e milho -, a Argentina exportou no ano passado ao Brasil em torno de US$ 250 milhões.

"Nosso protesto se deve ao fato de que tínhamos um acordo com o governo brasileiro de adotar políticas conjuntas nessa área de transgênicos, e o Brasil tomou uma atitude unilateral que nos pegou de surpresa", reclamou Ruckauf.

Segundo produtor

A Argentina é considerada o segundo maior produtor de alimentos transgênicos do mundo, depois dos Estados Unidos. Do total de sua atual safra de soja, de 35 milhões de toneladas, por exemplo, 95% é do tipo geneticamente modificada, o que assegura um custo de produção até 50% mais baixo do que a soja convencional. Também no milho há predominância de grãos modificados. Com isso, óleos comestíveis, alimentos e bebidas à base de soja e milho e a própria carne passam a estar afetadas pelo decreto brasileiro.

No final da tarde, Ruckauf e dois de seus assessores envolvidos no tema receberam o embaixador brasileiro em Buenos Aires, José Botafogo Gonçalves, para tratar do assunto. A expectativa era a de que o chanceler argentino antecipasse ao representante do governo brasileiro seu descontentamento e propusesse a definição de um prazo para que as empresas argentinas pudessem se adaptar à nota regra.

Açúcar e frango

Trata-se do mais novo impasse na difícil relação comercial entre o Brasil e a Argentina. Recentemente, acabou resolvido na OMC (Organização Mundial do Comércio) uma pendência de dois anos sobre barreiras à importação de carne de frango do Brasil pela Argentina. O país vizinho alegava dumping por parte dos produtores brasileiros e o governo do então presidente Fernando de La Rúa decidiu impor preços mínimos, que foram derrubados no mês passado.

Neste momento, está em discussão também o mercado regional do açúcar, o único produto que nunca foi incluído na zona de livre comércio do Mercosul. Os argentinos alegam que o Programa Nacional do Álcool (Proalcool) funciona como subsídio e reduz os custos dos produtores de cana-de-açúcar brasileiros.

Estes temas seriam tratados na reunião que o vice-ministro das Relações Exteriores da Argentina, Martín Redrado, tem marcada para os últimos dias desta semana em Brasília com representantes do governo brasileiro. Mas segundo Carlos Ruckauf, a agenda será paralisada e a discussão prioritária passará a ser os transgênicos. "Em função de um problema tão importante e que afeta nossa economia teremos quer ver transgênicos antes e depois entraremos na agenda", afirmou o ministro.

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