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Maior importador de trigo, Brasil assiste a escalada de preços

Os moinhos brasileiros buscarão o produto em outros países


Os moinhos de trigo do Brasil, maior importador mundial do cereal na temporada 2006/07, assistem a uma escalada de preços no mercado internacional justamente no período em que buscarão o produto em países como Estados Unidos e Canadá, onde os valores são mais elevados e há mais impostos incidentes nos negócios.

No hemisfério norte, empresas do Brasil compraram nos últimos dias pelo menos 80 mil toneladas de trigo canadense, informou a CWB (Canadian Wheat Board) nessa quarta-feira.

Segundo fontes do setor, o negócio com o Canadá foi feito quando as cotações estavam mais baixas do que as atuais.

Mas o volume de 80 mil toneladas, o primeiro do ano resultante de negócios de maior vulto, é pequeno perto do que o país precisará adquirir de origens fora da Argentina, o principal fornecedor do Brasil, onde praticamente não há oferta.

Os preços internacionais, que já estavam firmes indicando os estoques mundiais mais baixos em décadas, subiram mais esta semana com notícias de produtividade baixa da safra norte-americana e de informações em problemas nas lavouras do leste europeu, que impulsionaram o mercado. O contrato "spot" na bolsa de futuros de Chicago, por exemplo, está no maior valor em 11 anos.

"Na Argentina não há mais oferta... o trigo do Canadá subiu, o dos EUA subiu também, e a Argentina nem abre novos registros (de exportação) nem tem oferta para fazer", afirmou o gerente de Suprimentos e Finanças do grupo moageiro Anaconda, Fernando Augusto Ribeiro de Souza, acrescentando ainda que nem as principais tradings têm trigo argentino para vender.

O mercado estima que a partir de agosto o país receberia dos EUA, Canadá ou outro país do hemisfério norte entre 1 milhão e 2 milhões de toneladas de trigo, quantidade que seria necessária para atender ao consumo nacional neste ano.

Souza prevê uma redução na chegada de trigo argentino já em julho. Em junho, as importações do país vizinho ainda se manteriam próximas às registradas em maio (635 mil toneladas).

"Em julho os desembarques (da Argentina) com certeza vão cair... acho que a partir de julho e agosto a coisa vai ser crítica, há moinhos que estão muito curtos, que não têm compras feitas", acrescentou Souza, observando que a situação do Anaconda, no entanto, é confortável em abastecimento.

"Faltam 2 milhões (de toneladas), alguém vai ter que buscar, a safra nova (brasileira) sai em setembro, mas esse trigo só é moído em outubro, porque antes disso ele não se presta para panificação", disse ele, avaliando que o país precisaria importar fora da Argentina algo em torno de 800 mil toneladas por mês em agosto, setembro e outubro.

"A subida (de preços) foi bastante rápida. Está subindo mais do que a gente esperava, um ou outro moinho teve visão e optou por uma posição "long" (comprada), mas são muito poucos. De forma geral, 90 por cento dos colegas não esperavam essa alta tão dramática", afirmou o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih.

Pih, no entanto, acredita que o governo argentino pode liberar mais 500 mil toneladas em registros de exportação e que, com a entrada da safra nacional, haja maior oferta.

"Mas mesmo assim teremos que buscar trigo em outros lugares, a estimativa de mercado é entre 1 milhão e 1,5 milhão".

Em compras fora do Mercosul, além de os preços serem mais altos, ainda incidem taxas que não existem para compras na Argentina ou em outros países do bloco sul-americano.

A recente alta nas cotações, aliada ao frete elevado, deve limitar compras fora do Mercosul, por ora. O próprio Pih admitiu que poderia ter comprado trigo norte-americano há duas semanas, quando as cotações (FOB Golfo) estavam em torno de 205 dólares por tonelada. Atualmente estão em 235 dólares. "Está todo mundo vendo o mercado americano, só que quem tem coragem de comprar? Eu mesmo estava pensando em fazer um barco (100 mil toneladas)... perdi o momento", acrescentou ele.

No Canadá

Ambos concordam também que as empresas brasileiras não foram às compras antes fora do Mercosul porque acreditavam que uma safra norte-americana grande pressionaria os preços, o que poderia facilitar negócios. "Quem não tem recursos, é meio cético, não vai para o risco", destacou Souza.

E além disso eles salientaram que os moinhos nacionais não fizeram mais negócios antecipados porque a situação financeira do setor, de uma maneira geral, não permite.

Segundo Pih, o negócio com trigo canadense, feito para moinhos do Nordeste, só foi possível porque a CWB "deu desconto de 30 dólares por tonelada e aí viabilizou a operação"".

"Compraram a 190 dólares (a tonelada), era 222 dólares (FOB) quando fizeram o negócio há duas semanas", disse o presidente do Pacífico, lembrando que a primeira deve chegar ao Brasil no final do mês. O trigo canadense já subiu para 230 dólares. "Crítico vai ser o mês de agosto, vamos ter que bater na porta do trigo norte-americano e eventualmente de trigo canadense, dependendo do preço e do frete."

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