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Máquinas também estão na era 4.0

Especialista do setor avalia tecnologias e os desafios de conectividade no campo


Foto: Divulgação

A tão falada Agricultura 4.0 envolve processos de conectividade e tecnologia, onde todas as ferramentas presentes em uma propriedade se “falam” para o melhor desempenho da produção e gestão. Nas máquinas agrícolas esse movimento é crescente. Com sistemas digitais, softwares inteligentes e até as que trabalham sozinhas, o manejo foi facilitado.

Mas é preciso saber tirar o melhor do potencial de uma máquina no trabalho no campo.Conversamos com o especialista da New Holland Agriculture para PLM (Precision Land Manager), Marco Milan, sobre as evoluções experimentadas nas máquinas agrícolas e como o produtor usa isso a seu favor. 

Portal Agrolink: o que compõe esse universo da tecnologia em máquinas agrícolas?
Marco:
o universo da Agricultura 4.0 engloba diversas áreas e práticas como a agricultura de precisão, automação ou robótica, big data e a Internet das Coisas (IoT, sigla em inglês para Internet of Things).  As máquinas agrícolas já possuem tecnologias embarcadas que abrangem, de certa forma, todas as áreas acima. O conceito da agricultura de precisão (AP) é manejar a variabilidade espacial e temporal da lavoura aplicando recursos produtivos como corretivos, fertilizantes e sementes na quantidade e local corretos, buscando explorar o potencial produtivo daquela região da lavoura da maneira mais racional possível. Para esta operação, são utilizados equipamentos de aplicação em taxa variável onde o equipamento, com auxílio de receptores do Sistema Global de Navegação por Satélites ou GNSS – Global Navigation Satellite Systems, fazem a leitura de um mapa de prescrição e distribuem os insumos no ponto e dose corretos. Hoje esta tecnologia pode ser encontrada tanto embarcada em conjuntos de tratores-semeadoras, embarcados em distribuidores de sólidos ou como kits que podem ser adquiridos para equiparem máquinas que não possuem este tipo de tecnologia instalada de fábrica. Outro ponto importante aqui é que umas das principais ferramentas para diagnosticar esta variabilidade espacial da produção é o mapa de colheita, que está disponível de fábrica em uma série de colheitadeiras. 

Portal Agrolink: o futuro é as máquinas trabalharem remota e automaticamente?
Marco:
do ponto de vista da automação, as máquinas agrícolas já deram o pontapé inicial uma vez que já encontramos tratores, colheitadeiras e pulverizadores equipados de fábrica com piloto automático de alta precisão, podendo alcançar níveis centimétricos de precisão, orientando as máquinas por linhas virtuais de direcionamento que podem ser criadas diretamente no monitor da máquina pelo operador ou podem ser pré-definidas em softwares e posteriormente inseridas para leitura no monitor. Além do direcionamento, hoje a automação está presente também no controle da vazão e no corte de seções dos pulverizadores e das semeadoras, reduzindo as sobreposições e os riscos de fitoxicidade ou de queda da produtividade em função da superpopulação de plantas. Dentro do conceito do big data e da Internet das Coisas, as máquinas agrícolas produzem centenas de dados a cada segundo, que trafegam na rede CAN (sigla em inglês para Central Area Network) e trazem dados de sensores presentes por toda a máquina como motor, transmissão, sistema elétrico, agricultura de precisão, entre outros. Estas informações estão presentes em tempo real na cabine de operação através do monitor da máquina ou, via dispositivos de telemetria, estas informações podem ser disponibilizadas em portais online onde os agricultores, gestores e líderes de frota podem acompanhar a operação remotamente, monitorando indicadores operacionais que auxiliam no aumento da produtividade do maquinário e a suportar falhas ou paradas técnicas de maneira mais assertiva.
 
Portal Agrolink: um dos grandes desafios do Brasil é tirar conectividade no campo para tirar o melhor da máquina. Como isso pode ser possível e como o produtor pode avaliar se está trabalhando com menos do que sua máquina oferece em tecnologia e potencial? 
Marco:
a conectividade traz, como um dos benefícios, a possibilidade de conectarmos as máquinas agrícolas e disponibilizar dados em tempo real em um portal para suportar a gestão da frota que está em operação. Uma vez que a máquina alimenta o portal constantemente com dados, parâmetros como consumo de combustível, temperatura do óleo, horímetro, rendimento operacional, entre outros, dizem se a máquina está desempenhando seu trabalho da maneira mais adequada ou não e, tendo estas informações em mãos, o agricultor pode melhor gerenciar sua frota buscando maiores produtividades.

Portal Agrolink: qual o maior desafio do setor hoje em serviços e tecnologia para se produzir mais com menos?
Marco:
dentre os desafios do setor podemos citar a disponibilidade da conectividade no campo, mão-de-obra qualificada e o volume de tecnologia e soluções disponíveis. A conectividade é crucial para alavancarmos a agricultura digital no Brasil e, para isso, contamos com o ConectarAgro – iniciativa composta por oito empresas do agronegócio CNH Industrial, AGCO, Jacto, Trimble, Solinftec, Climate, Nokia e TIM – que busca acelerar a conectividade no campo por meio da tecnologia 4G a 700 MHz. Esta tecnologia permite uma maior cobertura de sinal e, por ser 4G, é aberta e permite conectar não só as máquinas agrícolas mas toda frota logística, sensores e principalmente as pessoas que vivem no campo. Da mesma forma, mão-de-obra qualificada será crucial para operação de equipamentos com alta tecnologia e que seja capaz de interpretar dados e indicadores em tempo real, trazendo tomadas de decisões mais rápidas e assertivas. Esta característica deverá estar presente nos agricultores, operadores, agrônomos e demais técnicos que auxiliam em todo o processo produtivo. Quanto às soluções disponíveis, existe uma ampla gama de produtos, serviços e softwares desenvolvidos para o agro e novas soluções são constantemente desenvolvidas e lançadas. O desafio será buscar soluções cada vez mais abertas e que sejam compatíveis umas com as outras, uma vez que soluções fechadas podem ser um bloqueio a adoção da tecnologia, visto a pluralidade do nosso campo.
 
Portal Agrolink: e o pequeno produtor que tem menos acesso?
Marco:
o pequeno produtor também participa deste movimento, uma vez que tratores abaixo de 100 cv também possuem soluções de piloto automático e demais tecnologias de AP disponível, sendo que o principal ponto é a orientação sobre a tecnologia mais adequada ao seu sistema de produção.
 
 

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