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Mato Grosso vê perdas mais agudas no milho e pior produtividade em 5 anos

Mato Grosso responderia por mais de 35 por cento da segunda safra brasileira de milho em 15/16


Chuvas irregulares e a falta delas, que já tinham ceifado um pedaço razoável da produção esperada de soja de Mato Grosso em 2015/16, foram ainda mais impiedosas com o milho, cuja colheita começará em mais algumas poucas semanas e deverá ter os menores volumes colhidos por hectare desde a temporada 2010/11, quando a tecnologia agrícola era bem inferior à atual. A avaliação do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), um órgão de análises ligado à federação de agricultores (Famato), é de que a produtividade do cereal no maior produtor de grãos do Brasil será ainda menor do que o total apontado em uma estimativa já reduzida no início deste mês.

"Vai ocorrer um ajuste para baixo na questão da produtividade, isso sem dúvida nenhuma deve acontecer", afirmou à Reuters o superintendente do Imea, Daniel Latorraca, em seu escritório em Cuiabá. O Mato Grosso responderia por mais de 35 por cento da segunda safra brasileira de milho em 15/16, segundo avaliação do Ministério da Agricultura, tendo fornecido mais da metade da exportação recorde do cereal do país no ano passado, de cerca de 30 milhões de toneladas.

Isso significa dizer que uma quebra maior que a esperada no Estado deve ter impacto tão importante no mercado quanto o registrado por problemas de estiagem em outros produtores, como Goiás, onde a seca está causando perdas de produtividade até mesmo mais expressivas do que as apontadas em lavouras mato-grossenses. Os preços nominais, num mercado de oferta escassa e poucos negócios em Mato Grosso, têm oscilado perto de níveis recordes de 36 reais por saca, mais que o triplo do ano passado nesta época, uma situação que se repete em outras partes do país, apertando margens de indústrias como as de aves e suínos.

A situação é tão grave que, mesmo com uma revisão para cima na estimativa de área plantada no início do mês, que ficou em 4,2 milhões de hectares (alta de 5,6 por cento ante 2014/15), o Imea aponta atualmente uma safra de Mato Grosso 12 por cento menor que a registrada no ciclo anterior, somando 23,1 milhões de toneladas. Isso porque a produtividade preliminarmente está estimada para ter uma queda de 16,5 por cento na comparação anual, para 90,7 sacas de 60 kg por hectare.

O superintendente do Imea ressaltou que não é possível estimar já um novo número, uma vez que os levantamentos estão sendo realizados. Mas deu uma dimensão do problema. "Estamos estimando a pior safra (em termos de produtividade) da era da alta tecnologia", disse Latorraca, referindo-se ao ano de 2011/12, quando os grãos transgênicos passaram a ser mais usados, colaborando para elevar a produtividade do Estado a 103,7 sacas por hectares de média naquele ano, ante 66,5 sacas em 2010/11. Com o objetivo de verificar a campo a produtividade na principal região produtora de Mato Grosso, o médio-norte, a Reuters percorrerá, juntamente com técnicos do Rally da Safra, organizado pela Agroconsult, importantes municípios produtores de milho, a partir desta terça-feira.

IMPACTO SEVERO

A colheita de soja, que registrou em 15/16 a primeira queda após sete safras no Estado, somou 27,5 milhões de toneladas, segundo o Imea, ficando aquém do potencial de 29 milhões devido às intempéries, colaborando para uma produção abaixo das almejadas 100 milhões de toneladas no Brasil, o maior exportador global. O gerente de Planejamento da associação de produtores Aprosoja-MT, Cid Sanches, lembrou que desde o ano 2000, quando o Mato Grosso passou a ter uma importância cada vez maior na safra nacional, o clima vem ajudando os produtores, uma situação diferente da registrada neste ano, em meio ao efeito de um forte El Niño, fenômeno que altera temperaturas e regimes de chuvas em várias partes do mundo.

"Nunca o clima foi tão ruim em Mato Grosso", disse Sanches, lembrando que alguns produtores esperavam mais chuva em abril e maio para recuperar, com o milho, as perdas da soja, o que acabou não acontecendo. "Agora, (a perda) está concretizada. Há duas semanas, até a semana passada, havia a expectativa de alguma chuva (para reduzir danos)...", afirmou. No caso do milho, explicou ele, ainda que o preço tenha reagido fortemente, muitos produtores não conseguirão cobrir os custos de produção, uma vez que a produtividade cairá acentuadamente.

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