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MDA superestima produtividade nas lavouras de MT

O impacto da revisão dos índices de produtividade ainda não pode ser mensurado sobre o Estado


O impacto da revisão dos índices de produtividade ainda não pode ser mensurado sobre o Estado. “Só poderemos avaliar isso quando a desapropriação atingir propriedades produtivas”, exclama o assessor ligado às questões fundiárias da Famato, Joany Marcelo.

“O que temos neste momento é que a mudança nivela todos os produtores a um nível só, superestimando a rentabilidade das lavouras. Depois de duas safras seguidas ruins, o cenário de ‘locomotiva’ no Estado, não é mais o mesmo e o MDA não considera a nova realidade”, completa.

Na safra 2005/06, por exemplo, houve uma forte seca na região Sul do Estado que reduziu significativamente o rendimento da soja. Teve produtor com cerca de 30 sacas por hectare. “O Sul mato-grossense sofre com a seca a alta incidência da ferrugem, já o Norte, com as fortes chuvas que comprometem principalmente a colheita”, alerta.

O economista e consultor da Famato, Amado de Oliveira, destaca que considerando a nova realidade do setor – menor aplicação tecnológica no solo – os índices de produtividade bons de uma safra não minimizam o impacto de um ciclo ruim e vice e versa. Ele demonstra preocupação e não crê em ‘sensibilidade’ por parte do MDA/Incra.

“A legislação que trata do assunto é a Lei nº. 8629/93 e ela estabelece que não serão consideradas médias inferiores às estabelecidas, mesmo em casos de força maior (intempéries/pragas). Na pecuária, a renovação de pastagens não permite alcance de produtividade no respectivo ano de reforma”, argumenta.

Ele avalia também que os impactos se apresentaram -- após a publicação da lei -- de várias as formas. “Na ocorrência de uma queda de preços dos produtos agrícolas enfrentaremos uma situação absurda: O agricultor será obrigado a aumentar sua produção mesmo sabendo de antemão que irá amargar prejuízos. Alguém tomaria uma decisão suicida destas em qualquer outra atividade?”, questiona Amado.

Ele enxerga uma luz no fim do túnel nesta questão toda e crê na profissionalização de cada produtor brasileiro. “Os proprietários rurais em todo o Brasil são absolutamente profissionais, ou seja, vivem do negócio de plantar, colher, criar e vender. É irracional deixar a terra inativa, pois estariam assim decidindo pela sua insolvência. Por outro lado, o quanto e quando produzir é uma regra que é estabelecida pelo mercado. O governo federal não pode induzir ao aumento ou redução de determinada cultura considerando seus interesses. Se um produto não tem demanda, por que produzi-lo? Para ter prejuízo? Produzir por produzir não gera oportunidade, emprego ou renda”, sentencia o economista.

O setor teme o peso que está embutido na proposta. “Estamos falando em reforma agrária, um compromisso que o presidente Lula tem com a massa e que terá de honrar o compromisso assumido. Porém, numa mesma microrregião -- divisão válida à pecuária, por exemplo -- existem propriedades altamente tecnificadas e outras não. Isso não está sendo considerado pelo MDA”, observa Marcelo.

Amado conta que o setor entende que o momento ainda é inoportuno até para discutir o tema, quanto mais torná-lo vigente. “Estamos ainda vivendo uma crise terrível, assim, um tema de tamanha complexidade como este não deveria estar em pauta. No entanto, as lideranças nacionais do segmento estão empenhadas em discutir os patamares apresentados pelo MDA e Mapa”.

Amado frisa que a produtividade média do Estado já girou em torno de 3 mil quilos/ha. “Porém, temos propriedades que ultrapassaram a casa de 3,6 mil quilos/ha e outras que não atingiram 2 mil. Diante disso, a indicação de um índice considerado justo implica em aplicar uma outra metodologia que seja flexível e que considere, sobretudo, o aspecto de renda”, sugere.

A revisão na ótica do economista é mais um obstáculo à condição de ‘fronteira do mundo’ a Mato Grosso. “No entanto, entendo que o Estado vive uma ambiência política extremamente favorável e que existe um novo cenário pró-ativo de discussões entre os produtores, governos e ONGs, onde poderão ser estabelecidos acordos que viabilizem a continuidade da produção agropecuária estadual alicerçada na sustentabilidade ambiental, social e econômica”.

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